Pesquisa revela que 57% dos soteropolitanos são leitores ativos
Por Bruna Carvalho
Revisão por: Beatriz Fialho
Neste domingo (29) é comemorado o Dia Nacional do Livro em todo o território brasileiro, isto porque, nesse mesmo dia, em 1810, era fundada a Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro. Anteriormente chamada de Real Biblioteca Portuguesa, a unidade mudou de nome, após ser transferida para o Brasil e ter recebido seu primeiro acervo literário.
Atualmente, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é a maior da América Latina e está entre as dez maiores do mundo. Apesar da máxima de que “brasileiro lê pouco”, a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró Livro em parceria com o Itaú Cultural, apontou que 57% da população de Salvador é considerada como leitora. A capital baiana também se encontra entre as 10 capitais brasileiras com o maior número de leitores no Brasil, atrás apenas de João Pessoa (64%), Curitiba (63%), Manaus (62%), Belém (61%), Teresina (59%) e São Luís (58%).
Selecionamos, abaixo, as principais ações de fomento à literatura na Bahia dos últimos anos. Confira!
Bibliotecas Municipais
Atualmente, Salvador dispõe de três bibliotecas municipais: Edgard Santos, na Ribeira, Denise Tavares, na Liberdade, e Nair Goulart, em Valéria. As sedes proporcionam um acervo de cerca de 17 mil livros, com títulos didáticos, clássicos da literatura, como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, diversas obras de William Shakespeare e de importantes escritores da literatura nacional, como Machado de Assis. Os locais também têm exemplares da literatura infantojuvenil e até mesmo livros centenários. Além disso, os espaços proporcionam ações de incentivo à leitura na comunidade, a exemplo da Biblioteca Municipal Edgard Santos, que promove, todas as sextas-feiras, atividades como contação de histórias, cineminha e oficinas diversas.
“Cada vez que vem um grupo de escola, a gente abre as portas para que eles possam ver no ambiente de leitura uma oportunidade de lazer e de conhecimento e, normalmente, eles ficam encantados. Esse é o nosso papel, fazer da leitura algo prazeroso, um instrumento de conhecimento e de pesquisa que leva as pessoas para um lugar muito além do que imaginaram”, conta Sônia Coelho, pedagoga do local.
Além das unidades, a capital baiana conta com 29 bibliotecas comunitárias, geridas pela Fundação Gregório de Matos, que atuam em bairros como Calabar, Cajazeiras, Escada, Periperi, Plataforma e Itapuã.
“Ao ler um livro, você vai introduzir um pouco a sua vida dentro daquele universo. Através da leitura em um ponto de ônibus, em uma biblioteca ou em qualquer outro local, você também vai se integrar melhor com as pessoas que estão ao seu redor, ao comentar um conto ou romance, por exemplo”, diz Jane Palma, gerente de Biblioteca e Promoção do Livro e da Leitura pela FGM.
Clubes do Livro
Em Jequié, o Colégio Estadual Doutor Milton Santos, fundou no ano passado o espaço “Leitura Preta no Quilombo”, um clube do livro com acervo exclusivamente formado por escritores negros brasileiros e estrangeiros. O projeto é uma iniciativa da professora de Língua Portuguesa Jéssika Oliveira, que visa combater o racismo, aprofundar a discussão sobre o tema e fortalecer a identidade negra e quilombola.
Com apoio da instituição, o clube do livro é realizado três vezes por semana no ambiente escolar, nos turnos vespertino e noturno, para os alunos do Fundamental 2 e Ensino Médio.
“O clube mudou a minha vida”, diz o estudante Maicon Salomão Almeida, da 9ª série. O relato também veio acompanhado da declaração da vice-presidente do clube, Sofia Neves Silva, de 14 anos, aluna da 9ª série, após ler o título “Becos da Memória”, de Conceição Evaristo, trabalhado nos encontros.
“Eu me identifiquei muito com o livro e me emocionei demais com os problemas relatados em suas páginas, porque não estão distantes de nós”, conta Sofia.
Bienal do Livro Bahia
Após nove anos, a feira literária voltou com sua programação em 2022. Com diversos estandes, bate-papos, contações de histórias, mesas de autógrafos e painéis de ativação, o evento reuniu cerca de 90 mil pessoas nos seis dias de programação. Quem também marcou presença foram os alunos da rede municipal de ensino. Cerca de 5 mil estudantes receberam acesso gratuito e vouchers para compras de livros no espaço. A Secretaria Municipal da Educação (Smed) também ofereceu transporte para os dias de visitação.
“Trazer as crianças para um evento como esse é maravilhoso, elas chegaram aqui e exploraram vários espaços, escolheram o que queriam comprar, fizeram muitas perguntas, interagiram bastante”, disse a vice-gestora Vânia de Melo Sá, do Cmei Dália de Menezes.
Feiras Literárias
Em 2023, até então, a Bahia conta com mais de 50 feiras literárias apoiadas pelo Governo do Estado, através das secretarias estaduais da Educação (SEC) e da Cultura (Secult), por meio da Fundação Pedro Calmon. O número é recorde desde 2019, quando o estado atingiu 30 feiras literárias realizadas.
Dentre as principais estão a FLIPELÔ (Festa Literária Internacional do Pelourinho), FLIPF (Festa Literária Internacional de Praia do Forte) e a FLICA (Festa Literária Internacional de Cachoeira).
FLIPELÔ
A Festa Literária Internacional do Pelourinho reuniu em agosto deste ano cerca de 200 mil pessoas pelas ruas e espaços culturais do centro histórico. Com programação gratuita, o evento promoveu diversas mesas, contações de histórias, visitações guiadas, exposições e outros. Diversos alunos da rede privada e pública visitaram a programação dos cinco dias do evento como forma de incentivo.
As crianças puderam participar de contação de histórias, oficina de bonecas, animação cultural e exposições literárias.
O evento contou com a participação de autores como Ian Fraser, Clara Alves, Deko Lipe e muitos outros.
FLIPF
A Festa Literária Internacional de Praia do Forte chegou a sua 4ª edição em 2023 e foi marcada por uma programação extensa de autores, produtores de conteúdo, artistas, ilustradores e músicos. Durante o evento, o espaço Rede de Livros, localizado no Clube dos Pescadores, sediou a Feira de Livros com editoras baianas, autores(as) e lançamentos.
A feira também contou com a participação da portuguesa Ana Saramago, Ailton Krenak – líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta, escritor brasileiro da etnia indígena krenaque e Imortal da Academia Brasileira de Letras – da escritora mexicana Guadalupe Nettel e muitos outros.
FLICA
A Festa Literária Internacional de Cachoeira, que acontece este ano entre os dias 26 e 29 de outubro, traz a temática “Poéticas Afro-indígenas no Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia”. O evento tem como objetivo dar visibilidade ao patrimônio histórico, artístico e arquitetônico da heroicas cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, além de promover uma conexão entre a literatura e os diversos conhecimentos e saberes dos povos originários e negros.
A programação desta edição conta com autores negros e indígenas, além da seleção infantil (chamada de FLIQUINHA), a Geração Flica, voltada para o público jovem, a Tenda Paraguaçu, que irá trazer os principais debates sobre literatura, e muitos outros espaços.
Entre os destaques da 11ª edição estão a escritora, atriz, contadora de histórias e assistente social cubana Teresa Cárdenas, autora das obras “Cartas para minha mãe”, “Cachorro Velho” e “Mãe Sereia”, e a escritora de linhagem iorubá, da Nigéria, Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, autora das obras “A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero”, “Espistemologias de gênero em África” e “What Gender is Motherhood? Changing Yorùbá Ideals of Power, Procreation, and Identity in the Age of Modernity” (Qual é o gênero da maternidade? A mudança dos ideais iorubás de poder, procriação e identidade na era da modernidade), ainda sem publicação no Brasil.
A programação completa você confere aqui.
Editais e programas de incentivo
LEI PAULO GUSTAVO
Criada como lei emergencial, vigente os impactos da pandemia de Covid-19 junto aos agentes de cultura, a LPG prevê o repasse de R$ 3,86 bilhões a Estados, Municípios e ao Distrito Federal para ações de fomento cultural.
Na Bahia, A PGBA vai repassar 150 milhões para fazedores e fazedoras de cultura de todos os territórios de identidade do estado, englobando diversas linguagens como audiovisual, cinema, teatro, artes visuais, literatura e manifestações culturais identitárias baianas. Ao todo, 26 editais amplamente democráticos e plurais estão em vigor com cotas de 50% de pessoas negras e 10% para indígenas.
O projeto tem expectativa de fomentar mais de 2 mil projetos.. Para o secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, esse é um momento histórico com o maior investimento direto na Cultura do país e do estado.
“Os editais foram pensados para serem amplamente democráticos. Esse investimento vai estimular o fazer cultural baiano que gera emancipação social, política, além de gerar emprego, renda e desenvolvimento”, disse o secretário.
FAZCULTURA
A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) também conta com o Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural (Fazcultura), que tem como finalidade patrocinar financeiramente projetos e atividades que se enquadrem na Política Cultural do Estado, a partir da Lei Orgânica de Cultura da Bahia (Lei de nº 12.365/2011)
Cerca de 15 milhões de reais são assegurados pelo Governo da Bahia para o Fazcultura. O programa aprova o patrocínio de propostas de qualquer segmento cultural, realizadas por pessoas físicas ou jurídicas sediadas no estado da Bahia.
“O Fazcultura tem contribuído, efetivamente, para a dinamização cultural do estado, patrocinando projetos em vários segmentos artístico-culturais. É um instrumento transparente e democrático, pois possibilita que agentes culturais de diversas regiões da Bahia apresentem suas propostas e consigam apoio financeiro para desenvolvê-las, ao tempo que possibilita que empresas patrocinadoras invistam na cena da Bahia, agregando valor à marca da empresa”, destaca a Superintendente de Promoção Cultural, Renata Dias.
As áreas que podem receber incentivo você encontrar aqui.