Os portadores da Doença de Chagas ainda sofrem com a negligência no tratamento e prevenção da infecção
Por Beatriz Amorim
Revisão: Beatrice Magalhães
No dia 14 de abril é celebrado o Dia Mundial da Doença de Chagas, que tem o objetivo de sinalizar e conscientizar sobre sua prevenção e possíveis formas de profilaxia, diante da ausência de uma vacina e escassez de diagnósticos – situação agravada justamente pela enfermidade atingir, em sua maioria, populações carentes.
A doença de Chagas, ou Tripanossomíase americana, é uma doença infecto-parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida pelo inseto popularmente conhecido no Brasil como “barbeiro”.
De acordo com o boletim epidemiológico divulgado em 2021 pelo Ministério da Saúde, em 2020, foram confirmados 146 casos da doença de Chagas no Brasil, com uma letalidade de 2%, sendo que todos os óbitos foram registrados no estado do Pará.
Tal infecção é reconhecida há mais de um século e atinge majoritariamente populações negligenciadas, isto é, que possuem acesso limitado ao saneamento básico.
Por isso, a doença de Chagas é associada a países considerados subdesenvolvidos e é incidente em grande parte do continente Americano.
As casas de taipa, muito presentes em áreas rurais brasileiras, são um dos maiores pontos de proliferação de barbeiros contaminados com Trypanosoma cruzi.
O barro, que reveste moradias de taipa, é facilmente danificado por fortes chuvas e ventos, provocando frestas e buracos na estrutura das casas, os quais se transformam em uma porta de entrada do inseto transmissor da doença de Chagas.
O barbeiro transmite a doença através das suas fezes. Ao picar e sugar o sangue do ser humano, costuma defecar ao lado da ferida recém-aberta.
Assim, o processo de infecção da doença começa no momento em que as excretas do barbeiro entram em contato com o sangue do hospedeiro, normalmente ao coçar a ferida causada pela picada do inseto.
Os sintomas causados pelo Trypanosoma cruzi, incluem: fraqueza intensa, febre prolongada (com duração de mais de uma semana), dor de cabeça, inchaço no corpo e aparição de um furúnculo no local da picada do inseto.
De acordo com o médico infectologista Dr. Rodrigo Farnetano, a infecção possui duas fases, a aguda e a crônica.
“Na fase aguda, que tem duração de dias a algumas semanas, pode haver sintomas inespecíficos como febre, mal-estar, perda de apetite, dores musculares, aumento do fígado e do baço, e inchaço do olho”, explica o médico.
“A fase aguda tem chance de se resolver de maneira natural, com ou sem tratamento. Todavia, se a fase aguda não for tratada, pode existir uma evolução para fase crônica, que se desenvolve de maneira lenta durante anos”, comenta Farnetano.
Na fase crônica, apesar da maior parte dos portadores da doença de Chagas não apresentarem sintomas ou sequelas, em alguns casos, quando sintomática, pode afetar diversos sistemas do organismo, como nervoso, digestivo e cardíaco.
Em situações de comprometimento do sistema cardíaco, pode acarretar, por exemplo, uma miocardiopatia dilatada, que causa anormalidades do ritmo cardíaco e pode resultar em morte súbita
Por não existir vacina contra a doença, o tratamento baseado em medicação antiparasitária é eficaz apenas na fase aguda da doença, o que reforça a importância de ir ao pronto-socorro nos primeiros sinais da infecção.
Como forma de prevenir a doença de Chagas, por sua relação com as condições habitacionais, é necessário um maior cuidado com a conservação das casas, aplicação sistemática de inseticidas e utilização de telas em portas e janelas, principalmente em ambientes rurais.
O Dia Mundial do combate contra a Doença de Chagas, foi celebrado pela primeira vez em 2020 após a aprovação recebida pela Assembleia Mundial da Saúde na OMS em maio de 2019.