Contações de histórias, encontro com autores e eventos literários são algumas das estratégias utilizadas para atrair o público infantil
Por Sued Mattos
Revisão: Antônio Netto
Neste dia 2 de abril, celebra-se o Dia Internacional do Livro Infantil. Em plena Era Digital, menos com a forte concorrência das mídias sociais, o mercado baiano de literatura vem demonstrando crescimento entre o público consumidor deste gênero nos últimos anos.
Pais e professores têm influência nesse aumento, correspondendo a 56% e 48% respectivamente, de acordo com a última pesquisa “Retratos da Leitura” realizada em 2019 pelo Instituto Pró-Livros (IPL).
De acordo com o IPL, 57% dos soteropolitanos são considerados leitores, ou seja, corresponde aos que leram um livro inteiro ou de forma parcial em três meses, e 19% desse total possui de 5 a 17 anos.
Além disso, a pesquisa evidencia que 41% dos baianos preferem comprar livros em livrarias físicas, fazendo com que essa esfera seja líder entre as outras formas de aquisição.
Segundo Walmaria Caires, administradora e diretora da livraria Nobel, do município de Vitória da Conquista, o estabelecimento nunca teve problemas de vendas com o público infantil, pelo contrário, há um aumento significativo de vendas desses títulos direcionados para crianças, sendo estes o carro-chefe da livraria.
“Toda vez que tem um lançamento dessa área eles ficam maravilhados quando chegam na [livraria] Nobel, abraçam e beijam os livros. São cenas emocionantes de se ver. Já vão para a livraria sabendo qual livro querem comprar e o que tem de novidade”, conta Caires.
A diretora afirma ainda que dos mil livros que vende por mês, cem são do gênero infantil e que além dos tradicionais livros de literatura, os didáticos têm participação expressiva no rendimento da empresa devido as compras de materiais escolares.
“O livro infantil não é caro, mas ele tem um pouco mais de valor agregado porque ele tem todo um colorido especial e texturas. Nós temos livros inclusive para bebês brincarem na banheira, justamente para ter esse contato com o livro o mais cedo possível, que é o objetivo de todo o mercado livreiro”, explica.
Para Palmira Heine, autora baiana de livros infantis, antes havia muito mais dificuldades em vender livros do que hoje. Ela conta que as livrarias demonstravam mais resistência em adquirir as obras, principalmente, de autores independentes. Apesar da atual possibilidade de vendas online, ela considera que o mercado poderia ter menos trâmites administrativos.
“Tem muita burocracia ainda, as livrarias cobram 50% do valor do livro, o autor deixa o livro lá ele recebe apenas 50% da obra. O autor custeia o livro todo, ele paga pela edição do livro e ele ainda tem que contar com o valor que a livraria vai ficar. Então ele precisa vender mais livros ainda para poder estar atendendo aquela demanda das livrarias”, desabafa Heine.
Estratégias de venda
Para movimentar e atrair cada vez mais o público infantil, Walmaria Caires aposta em eventos e ações dentro da livraria. A diretora relata que desde que o espaço foi inaugurado em Vitória da Conquista, há 20 anos, existe um trabalho direcionado para as crianças.
“Fazemos todos os finais de semana a contação de histórias, às vezes alternamos com oficinas de leitura e gincanas. ألعاب على الهاتف المحمول A gente sempre está proporcionando atividades na livraria nos sábados de manhã dentro do tema literatura infantil”, relata Caires.
A administradora fala ainda sobre a importância do espaço físico da livraria para conquistar os pequenos e dos atrativos que os livros possuem para que a decisão de compra ocorra.
“Nós temos um espaço muito interativo, temos livros com cheiro, com texturas, com sons… então as crianças chegam ali e se relacionam mesmo com os livros”, conta.
Além disso, ela afirma que a venda do produto é consequência do trabalho feito pelo estabelecimento para cultivar a leitura entre os pequenos.
“Esse hábito que a gente criou nas crianças para frequentarem a livraria tem sido muito saudável para servir como um atrativo, porque a gente apresenta um livro, apresenta a literatura, de uma forma didática, mas também de forma bastante lúdica e isso conquista o público infantil”, explica Caires.
A escritora Palmira Heine relata que usa a contação de histórias de maneira lúdica e teatralizada para atrair o público infantil, já que dessa forma as crianças e os pais passam a ter vontade de adquirir o produto, uma vez que acabam tendo contato com a narrativa.
“Você tem um livro, mas como esse livro vai chegar até a criança? Então quando eu vou na escola, quando eu vou na feira literária, eu conto a história com música, coloco elementos lúdicos, trago imagens em tamanho grande e canto com as crianças”, explica Heine.
Daiane Santos, mãe da pequena Helena, conta que sempre leva a filha em eventos literários e percebe o esforço das livrarias em realizá-los, além de atrair o público após as apresentações.
“Fazem contos, personagens, tudo isso acaba prendendo a atenção das crianças. Toda vez que o evento termina há uma fila grande, todo mundo empolgado [para comprar]”, relata Santos.
O mercado para autores baianos
Palmira Heine aponta a dificuldade enfrentada por ela no início de sua carreira como escritora.
“O autor quando está começando, e dentro da Bahia, ele não consegue ter oportunidades de mostrar o seu trabalho. Às vezes não consegue contatos com pessoas que realizam feiras literárias, que realizam eventos, isso tudo termina sendo mais difícil”, relata Heine.
Além disso, a escritora conta que autores do eixo Rio-São Paulo são privilegiados pelos eventos literários na maioria das vezes e que os autores da Bahia tem dificuldades em conseguir espaço nesse cenário.
“A cena literária tem uma predominância forte de pessoas que escrevem do eixo Rio-São Paulo. Muitas vezes os escritores nordestinos, baianos são invisibilizados. Não tem a mesma visibilidade dos outros, apesar de terem obras também de qualidade, então eu acho que essa é uma dificuldade comum a vários autores”, declaraa escritora.
Heine ainda afirma que a dificuldade em relação a publicação de livros é grande, visto que o autor precisa custear sua obra quando está começando a carreira já que as grandes editoras não compram projetos de autores desconhecidos.
“Como você vai ter que custear o livro, você que vai ter que tirar do seu bolso o valor para custear a obra e depois vender o livro para poder retornar aquele valor que você investiu. Nem sempre você tem a garantia do retorno, muitas vezes você faz o investimento e leva algum tempo para vender. عايز العب العاب Às vezes um ou dois anos para vender os livros todos, indo em eventos e em escolas. Não é uma coisa garantida”, explica a autora.
A escritora de livros infantis afirma que há um movimento entre as livrarias para colocar obras de escritores baianos em seus estabelecimentos. Além disso, os próprios autores da região estão se movimentando para tentar se colocar nesse mercado.
“Com relação aos autores, também está acontecendo atualmente uma coisa que eu acho bastante legal que é a formação de grupos coletivos. Então os autores se unem e aí unidos eles têm mais facilidade de, por exemplo, realizar eventos, fazer publicações de livros, porque pode-se dividir o valor tanto das feiras quanto das publicações de livros”, relata Heine.
A administradora da livraria Nobel, Walmaria Caires, conta que além de disponibilizar livros baianos, o estabelecimento sempre tenta trazer autores regionais para lançarem suas obras e para interagir com os pequenos.
“A gente tem vários autores, inclusive aqui da região e do Sudoeste. Quatro escritores de Salvador vieram lançar seus livros, fizeram uma manhã de autógrafos na Nobel e as crianças participaram, tiraram fotos, compraram os livros e tiveram aquele momento com o autor”, conta Caires.
Moradora de Salvador, Daiane Santos, afirma ter dificuldades para encontrar livros de autores baianos para a filha Helena nas livrarias.
“A gente procura alguns livros, realmente a gente sente muita falta. Não tem aquela variedade. É tudo limitado. Nós temos que fazer solicitação pela internet. As pessoas não estão valorizando mais, eu acho uma pena ir na livraria e ver um pouco vazia [as prateleiras]”, explica Santos.
As vendas durante a pandemia
De acordo com a administradora da livraria Nobel de Vitória da Conquista, eles tiveram que se reinventar para continuar vendendo e produzindo eventos para garantir a permanência do público infantil.
“No período da pandemia em que não podíamos ter pessoas na livraria, fizemos contações de histórias online, pelo Instagram, e até lançamentos de livros nós fizemos online junto com os autores e as pessoas compravam online. Nós deixávamos o livro já autografado pelo autor e fazíamos a entrega em casa. اليورو 2022 Foi uma descoberta de uma nova forma de trabalhar na livraria”, relata Caires.
A representatividade nas obras
Caires relata que mantém contato com autores de Vitória da Conquista, cidade em que está situada a livraria, principalmente para que as crianças tenham contato com a cultura regional.
“Nós temos três livros lançados pela Nobel da professora de geografia da UESB, Ana Emília, que conta a história de Vitória da Conquista. É um livro bem didático e que as escolas adotam, porque ensina a geografia de Vitória da Conquista de uma forma bem lúdica, especialmente em uma linguagem para crianças”, explica Caires.
A autora Palmira Heine aponta a importância de trazer a cultura baiana para suas obras para a representatividade da criança.
“Eu tenho um livro que se chama ‘Chapeuzinho no Pelô’ que eu trago todos os elementos da cultura baiana e da culinária. O herói da história é um capoeirista, a chapeuzinho come acarajé, o lobo come comida baiana e eles dançam na ladeira do Pelourinho. Isso tem sido muito importante porque tem crianças em Salvador que às vezes não sabem onde é o Pelourinho, que não conhecem os seus lugares históricos e precisam conhecer também”, explica Heine.