
Chegada da expedição de Pedro Álvares Cabral ao Brasil | Reprodução/@Wikimedia Commons
No dia 22 de abril, o Brasil relembra a data que marca oficialmente o seu “descobrimento” pelos portugueses, em 1500. Com a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral ao litoral da Bahia, iniciava-se o processo de colonização do território brasileiro
Por Eduarda Neves
Revisão Marcelly Ferreira
Em carta escrita por Pero Vaz de Caminha para comunicar ao rei lusitano dom Manuel 1º o “descobrimento” de novas terras, ele descreve as primeiras impressões sobre a terra desconhecida.
Caminha diz que “De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa’’.
O termo “descobrimento” coloca os europeus no centro da narrativa, apagando a existência e a resistência dos povos originários que viviam aqui há milhares de anos. Apesar dos livros por muitos anos terem usado o termo “descobrimento”, historiadores e educadores vêm ressignificando essa narrativa. Segundo o IBGE, mais de 1 milhão de indígenas vivem hoje no Brasil, falantes de cerca de 160 línguas diferentes. Isso mostra que, mais do que uma data comemorativa, deve ser um momento de reflexão.
Quando falamos de descobrimento, estamos, em grande parte, falando da história contada pelos vencedores. E o que acontece com as histórias daqueles que foram silenciados e invisibilizados? O Brasil, com sua imensa diversidade cultural, geográfica e social, ainda esconde realidades e comunidades que têm sido sistematicamente marginalizadas.
Narrativas únicas
Na universidade, matérias como história, sociologia, geografia, antropologia e ciências sociais proporcionam aos estudantes uma nova maneira de olhar para o Brasil. Eles não apenas se deparam com uma realidade distante e teórica, mas com uma verdade palpável e próxima.
A militância nas universidades tem sido uma forma de dar voz a quem foi silenciado por séculos. Movimentos estudantis, coletivos de minorias, grupos de apoio à diversidade, e até mesmo pesquisas acadêmicas, desempenham um papel fundamental nesse processo. As marcas do colonialismo ainda estão presentes em diversas estruturas da sociedade brasileira, desde a desigualdade social até o apagamento das culturas originárias e afro-brasileiras.
O ensino da história indígena e africana nas escolas só se tornou obrigatório em 2008, mais de 500 anos depois da chegada dos portugueses. Comemorar o “descobrimento” do Brasil é mais do que relembrar um evento histórico, é um convite para revisitar a nossa história com um olhar mais atento e plural. O passado do Brasil, com suas complexas interações e consequências, ainda está presente no modo como nos relacionamos como sociedade.