Por Camila Soeiro
Revisora da AVERA
Foto: Reprodução / Shutter Stock
A violência sexual contra a mulher faz milhões de vítimas no mundo inteiro, mas, ainda assim, é tratada com tabu.
O medo, a vergonha, o bullying e os transtornos mentais que podem surgir deixam marcas. Mas a culpa é, e sempre será, apenas do agressor. O estupro não deve ser silenciado, ainda mais sendo tão presente na atualidade.
Vamos entender primeiro o que é estupro.
Sexo sem consentimento é violência. Estupro então não se caracteriza apenas pela penetração, mas por qualquer ato libidinoso realizado contra a vontade da vítima. Não é não!
E estupro de vulnerável, o que é? Qualquer prática sexual com menores de 14 anos ou com pessoas incapazes de discernir ou oferecer resistência.
E os números desta realidade, o que dizem? De um total de 66.041 casos de estupros registrados pelo Sistema de Saúde no Brasil em 2018, 81,8% das vítimas são mulheres e 63,8% são cometidos contra vulneráveis. Logo, são 180 estupros acontecendo a cada dia no nosso país.
A Bahia é o estado com o maior número de casos do Nordeste, com 3.121 vítimas em 2018. No ranking brasileiro, São Paulo tem o mais alto índice, são 12.836 vítimas.
O número na Bahia, no entanto, representa uma redução de 3,7% em relação ao ano anterior, apesar do país registrar um aumento de 4,1% no mesmo período.
A violência contra a mulher é, portanto, concreta e marcada por números preocupantes.
A psicóloga Joelma Barreto, fala do tabu em falar sobre a agressão e da necessidade de um diálogo aberto, principalmente entre jovens com menos de 14 anos, maior grupo de vítimas.
“A maior dificuldade dela é ter alguém com quem ela possa contar, e acreditar que o que ela está relatando é verídico. A sociedade não valida muito o que aquela vítima trás. Esse assunto não é discutido muito nas escolas, em casa, com os filhos, principalmente em uma idade onde os filhos precisam ter um discernimento do que é certo e do que é errado, do que pode, do que não pode”, relata a profissional.
Muitas vítimas, portanto, não sabem como lidar, não sabem como contar, ou não sabem como não se culpar. O medo de serem criticadas e questionadas faz com que elas se calem, tenham vergonha da agressão e carreguem uma ferida.
O debate é interessante, porque traz à tona a cultura do estupro – que normaliza, duvida e relativiza a violência sexual baseando-se na roupa, no ambiente, no passado ou na vida sexual da mulher.
O machismo, então, sustenta a cultura do estupro e culpa a mulher pela agressão. Mas é importante lembrar que: consenso e respeito devem imperar e isso ajuda a combater a cultura do estupro.
Já sobre o pós trauma, a psicóloga afirma: “o acompanhamento psicológico é de suma importância, porque vai cuidar, primeiramente, dessa vítima. Nós estamos aqui para ouvir, para validar o que essa vítima está trazendo como verdade.”
A realidade é que 75,9% das vítimas possuem algum tipo de vínculo com o agressor, sejam parentes, amigos, companheiros, o que acaba dificultando às denúncias.
Os dados apresentados são parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019 e apesar de altos, são subnotificados, já que os crimes sexuais estão entre as menores taxas de notificação à polícia.
Na última Pesquisa Nacional de Vitimização estimou-se que apenas cerca de 7,5% das vítimas fazem denúncia. Seja por medo de retaliação do agressor, medo do julgamento das pessoas ou descrédito na justiça.
Precisamos, portanto, incentivar as vítimas a reportaram esses crimes. Porém, isso depende delas se sentirem acolhidas e não sentenciadas pela sociedade.