Ao promoverem limpeza urbana, profissionais da coleta de lixo se deparam com materiais contaminados. Saiba como fazer o descarte seguro
Por: Sued Reis
Revisão: Antônio Netto
Com a chegada da pandemia do covid-19, trabalhadores da coleta de lixo urbana correm o risco de serem infectados pelo coronavírus, devido ao descarte irregular de lixo infectado pela população, como exemplo, a máscara descartável utilizada.
Por conta desse risco, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) de São Paulo, em conformidade com as orientações do Ministério da Saúde, emitiu uma nota com a recomendação para que que empresas e trabalhadores de limpeza urbana e a população em geral, adotem medidas para o descarte seguro do lixo contaminado.
Cleber Ramos, é funcionário da limpeza urbana de Salvador e conta que a empresa em que atua tem tomado alguns cuidados para evitar a contaminação dos trabalhadores.
“O transporte [da coleta de lixo] é lavado todos os dias, nos três turnos, manhã, tarde e noite”, relata o funcionário.
Ramos conta ainda que houve recomendações da empresa para o manuseio correto dos materiais descartados neste período, como pegar o saco de lixo sempre pela alça ou pelo nó.
Em caso de suspeita de contaminação, o trabalhador relata que a empresa disponibiliza de plano de saúde, que realiza teste de covid-19 com o surgimento de algum sintoma.
As empresas de limpeza urbana devem fornecer ainda Equipamento de Proteção Individual (EPIs) como luvas, máscaras, chapéu e botas impermeáveis, por exemplo.
Entretanto, Ramos acredita que essas medidas não garantem a segurança na saúde dos colaboradores. Segundo ele, ainda que a empresa forneça luvas, o uniforme, por exemplo, não protege e não atende as necessidades das equipes.
Ramos e seus colegas de trabalho usam a blusa de manga longa, por proteção, para não cair o respingo na pele. Mesmo com os cuidados, Ramos relata que foi infectado pelo coronavírus.
O infectologista Sidnei Bertholdi explica que “o risco de transmissão da covid-19 através de objetos e superfícies é real”. Bertholdi conta que o vírus é transmitido por gotículas eliminadas pela fala, espirro ou tosse e elas são repletas de agentes patogênicos.
“Ao entrar em contato com mucosas do nariz, boca e olhos é onde ocorre a transmissão. A transmissão por contato acontece quando a pessoa toca uma superfície ou objeto contaminado por estas gotículas e, em seguida, leva a mão à boca, nariz ou olhos”, relata o infectologista.
Por isso, o infectologista reforça a importância de que os profissionais de coleta de lixo estejam devidamente equipados com os EPIs ao coletar e separar o lixo, evitando o contato direto com possíveis superfícies ou descartes infectados.
“É possível que objetos contaminados pelo vírus da covid-19 tenham sido descartados no lixo doméstico por pessoas doentes”, alerta Bertholdi.
O infectologista enfatiza também a necessidade de lavar as mãos com produtos de limpeza ou higienizá-las com álcool 70%, que elimina o vírus, quebrando o ciclo de infecção.
Cuidados da população
Ainda que empresas e funcionários da limpeza urbana tomem os devidos cuidados, cabe também à população realizar o descarte consciente do lixo infectado.
Segundo a nota técnica da Covisa, “os materiais devem ser ensacados duas vezes em sacos resistentes, descartáveis e com enchimento de até dois terços da sua capacidade”. A medida busca evitar o contato dos trabalhos de limpeza urbana com possíveis resíduos contaminados.
Outra recomendação importante é a identificação do lixo, sinalizando de alguma forma para o profissional da coleta urbana que aquele material pode estar contaminado pelo vírus do covid-19.
Lixo irregular e outras doenças
O infectologista relembra que “em muitas casas brasileiras não existe um descarte regular do lixo, com a falta da coleta adequada”, o que deixa a população suscetível à diversas doenças, para além da covid-19.
“Doenças diarreicas, causadas por vírus e bactérias, parasitoses intestinais, leptospirose e dengue, são exemplos de doenças prevalentes em lugares com acúmulo de lixo próximo às residências”, explica Bertholdi.
Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), as medidas de isolamento social geraram no país um aumento de 15% a 25% na quantidade de resíduos residenciais.