Com o aproveitamento integral da planta, do fio às sementes, produtores e empresas parceiras, como a Icofort, têm promovido a sustentabilidade do agronegócio no Oeste da Bahia

Produção de algodão em Luís Eduardo Magalhães: investimentos em qualidade | ABAPA/Divulgação
Por Tailane Adan
Revisão e orientação: Kátia Borges
No horizonte do Oeste Baiano, destaca-se a imensa riqueza da cotonicultura. O município de Luís Eduardo Magalhães, conhecido como a “capital do agronegócio”, abriga um bioma de cerrado e um PIB de R$ 8,8 bilhões. Na região, segundo dados registrados pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o ciclo do algodão movimenta investimentos três vezes maiores do que a soja, o que demonstra a sua relevância econômica.
Números divulgados este ano pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) registram a geração de 41 mil empregos na região, impulsionando áreas diversas e movimentando a economia regional. No setor algodoeiro, nada se perde. Tudo se transforma. Cada parte da planta é aproveitada, do fio à semente. E a ABAPA desempenha papel crucial em todas as etapas, promovendo a cotonicultura nos mercados nacional e internacional e incentivando práticas sustentáveis, com investimentos na qualidade e na rastreabilidade da fibra.
Nas fazendas produtoras, unidades de beneficiamento têm a função de separar as sementes das plumas, em um processo qualificado por certificações específicas, legislação própria e regras rigorosas. Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), reforça o empenho para alcançar a qualificação máxima em todo o setor, destacando a criação do programa SBR-HVI, que monitora todos os laboratórios que analisam algodão no país, e o Programa de Qualidade do Algodão Brasileiro (PQAB).

Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da ABRAPA: empenho na qualificação/ ABAPA
“O SBR-HVI garante a padronização e a confiabilidade das análises de qualidade do algodão brasileiro, o que fortalece a nossa imagem no mercado internacional e agrega valor à fibra produzida no país”, afirma Silmara Ferraresi. Também criado pela ABRAPA, o PQAB fornece certificação para os fardos e amostras de algodão, aprovados pelo SBR-HVI, reforçando a segurança do processo.
Práticas responsáveis
A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) tem promovido práticas cada vez mais responsáveis no cultivo do algodão, com foco no manejo sustentável do solo, desde o plantio até a colheita. Além da relevância econômica, a cotonicultura do Oeste Baiano se destaca pelos altos padrões de inovação e sustentabilidade, especialmente no aproveitamento dos subprodutos.
Entre os principais derivados, o farelo e a torta são amplamente utilizados na formulação de rações animais e na produção de adubos. O óleo de algodão ganha espaço em diversos setores, sendo aplicado na fabricação de alimentos, cosméticos e em biodiesel. Já a casca do caroço é direcionada para a produção de biocombustíveis e materiais compostos.
Outro subproduto valorizado, sobretudo no mercado externo é o Línter, a fibra curta que reveste a semente. Ele é essencial na produção de papel, celulose e de itens de higiene pessoal. Para garantir a conformidade do processo produtivo, a atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem sido fundamental. O órgão realiza vistorias regulares nas unidades de produção agrícola, fiscalizando documentações, normas técnicas e padrões de qualidade.
No século XIX, o óleo de algodão dominou o mercado de consumo nos Estados Unidos, sendo substituído, posteriormente, por derivados da soja e do milho. No Brasil, atualmente, ele ocupa a segunda posição entre os mais vendidos. No entanto, tanto a produção destinada ao consumo humano quanto a utilizada na elaboração do biodiesel exige etapas rigorosas de refino para garantir a eliminação de componentes indesejáveis.
Aproveitamento integral
Um desse componentes considerados como indesejáveis é o gossipol, uma substância antinutricional que é encontrada nas sementes do algodão. Ela pode estar presente em duas formas: livre (tóxica) e ligada (não tóxica). O caroço de algodão contém uma maior quantidade de gossipol na forma livre, o que pode representar um risco à saúde animal.
No Brasil, a Icofort, maior empresa do Norte/Nordeste em processamento de caroço de algodão, atuando no agronegócio desde 1965, realiza o processo completo de transformação, que começa com a limpeza, seguida do deslintamento, no qual se retira a fibra. Em seguida, o caroço passa por um processo de quebra e é cozido, permitindo a extração do óleo.

Vista aérea da Icofort, no Oeste Baiano, empresa que investe nos subprodutos do algodão / ABAPA
Analista de laboratório na Icofort, Igor Alves destaca a importância do controle de qualidade nos processos que são desenvolvidos pela empresa. Segundo ele, a unidade conta com uma estrutra laboratorial interna de ponta, que realiza análises detalhadas do teor de óleo, umidade, celulose do Línter e sua capacidade de absorção. Os resultados se refletem diretamente na aceitação dos subprodutos pelo mercado internacional.
O Línter, um dos subprodutos do algodão, é exportado principalmente para o Japão e a China, onde é utilizado na produção de maquiagens e papel-moeda. O restante é destinado à produção de ração animal, por meio de prensagem. O caroço do algodão é excelente fonte de proteína, oferecendo um ótimo custo-benefício para os pecuaristas.
No campo da nutrição animal, o farelo do algodão se destaca por sua rica composição nutricional, contendo cerca de 48% de proteína bruta, 1,8% de gordura (extrato etéreo), 25% de fibra em detergente neutro e cerca de 77% de nutrientes digestíveis totais. A ração animal já sai da fábrica pronta para o consumo, atendendo diretamente ao setor agropecuário.
A Icofort aposta no aproveitamento integral dos subprodutos do algodão, o que, na opinião de Igor Alves, contribui para reduzir os custos com o descarte, complementando um processo qualificado que é iniciado já nos campos de algodão. E é deste modo que todo o ciclo produtivo da cadeia algodoeira fortalece e reafirma sua vocação sustentável, aproveitando ao máximo o processo de cultivo e refino, desde o plantio até a colheita e o pós-colheita.