Produção sustentável no Oeste Baiano possibilita melhores condições econômicas e atrai profissionais de outras regiões para trabalhar e se capacitar em Luís Eduardo Magalhães
Por Maiane Ferreira Batista (texto e imagens)
Revisão e orientação: Kátia Borges

Hetore Benigno Ferreira, do distrito de Roda Velha, trabalha na Fazenda Busato
Todos sonham em ter moradia digna, trabalho decente e educação. E é trilhando os caminhos alvos do algodão, no Oeste da Bahia, que os agentes envolvidos na cadeia produtiva do setor têm tido a oportunidade de vislumbrar uma vida melhor. Na Bahia, segundo maior produtor do país, a safra 2024/2025, com 313.121 hectares plantados e uma produção de 787.616 mil toneladas, sinaliza o impacto positivo da evolução do ciclo algodoeiro na economia de Luís Eduardo Magalhães.
Criada há 25 anos, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão promove a difusão de boas práticas agrícolas e incentiva qualificação técnica, emprego e renda na região. Com 193 produtores associados, no Oeste e Sudoeste da Bahia, a ABAPA representa um mercado em expansão, com a geração de 41 mil empregos diretos e indiretos, que não se restringem à plantação e à colheita, mas que afetam todos os setores envolvidos em áreas diversas, como tecnologia e comunicação.
Hetore Benigno Ferreira, 28 anos, saiu do distrito de Roda Velha para Luís Eduardo Magalhães com o sonho de dar uma vida melhor à família. Hoje, ele trabalha na manutenção de máquinas da Fazenda Busato. “Aqui o desenvolvimento é maior, assim como o conhecimento”, justifica. Os cursos promovidos pela ABAPA impulsionaram a vida profissional de Hetore. Quando ele chegou à Fazenda Busato, sabia pouco do manuseio de máquinas industriais. Em pouco tempo, começou a se especializar no conserto do maquinário agrícola. “Vim de baixo, como auxiliar de mecânico”, conta.
Nascido no Nordeste de Amaralina, em Salvador, Marcus Santos, 29 anos, publicitário e fotógrafo, mudou-se há cinco anos para Luís Eduardo Magalhães em busca de melhores condições de trabalho. Na economia do agro, ele diz ter encontrado oportunidade para realizar objetivos profissionais e pessoais. “Luís Eduardo é uma cidade com muitas perspectivas positivas, e não é só no agronegócio, todas as áreas aqui têm muita demanda para profissionais capacitados”, observa.

Marcus Santos trocou Salvador por Luís Eduardo Magalhães e atua hoje na comunicação da ABAPA
Qualidade de vida
Com a expansão da cotonicultura, o município abriu suas portas para pessoas que, assim como Marcus e Hetore, vêm de outras cidades, distritos, e da capital, em busca de novas perspectivas de trabalho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), com apenas 25 anos de emancipação, Luís Eduardo já é a quinta maior economia da Bahia, com um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 8,82 bilhões.
Ainda de acordo com o IBGE, entre 2010 e 2022, Luís Eduardo se tornou o município com a maior taxa de crescimento populacional do Estado: 79,5%. No período, mais de 60 mil pessoas migraram para a “cidade do agro”, que detém hoje a 8ª posição no ranking de cidades da Bahia com melhor qualidade de vida, segundo o Índice de Progresso Social (IPS). Um salto diretamente relacionado à produção não somente do algodão, mas de outras culturas, como a soja e o milho.
Para a assistente de marketing Júlia Barbosa, 30 anos, natural de Correntina, no Extremo Oeste, a mudança para Luís Eduardo, onde mora há menos de um mês, foi um processo natural. Ela saiu de sua cidade em busca de novos horizontes. “Nos últimos anos, essa região tem se tornando referência. O agro tem se desenvolvido bastante e, com isso, há várias oportunidades”, observa. A crescente econômica, impulsionada pelo ciclo produtivo do algodão, possibilita que histórias como as de Hetore, Marcus e Júlia se tornem cada vez mais comuns.
Impactos na educação
Com a demanda por mão de obra qualificada, a ABAPA assumiu o compromisso de capacitar profissionais para toda as áreas da cadeia produtiva do algodão. Em 2010, foi criado o Centro de Treinamento & Tecnologia (CT), que oferece gratuitamente cursos e treinamentos. Estruturado como uma “escola do agro”, o CT ocupa dois pavilhões, com salas de aula, laboratórios, auditórios e cozinha, onde são promovidos cursos em áreas como siderurgia, mecânica, operação de máquinas e equipamentos móveis, informática e programas direcionados à cozinha industrial, entre outros.

O Centro de Treinamento & Tecnologia oferece cursos e treinamentos gratuitos | ABAPA/Divulgação
De acordo com o coordenador Douglas Fernandes, já foram ofertados mais de cinco mil treinamentos, impactando 138 mil pessoas. Em 2024, foram ministrados 1.056 cursos, com 24.911 participantes. Até o momento, 230 fazendas foram atendidas, ampliando, capacitando ou renovando a sua mão de obra. Fernandes diz que, apesar de o foco ser o cotonicultor, a comunidade indireta também é assistida. “Precisamos de todo o setor devidamente estruturado”.
Aluno do CT desde 2020, Gilberto José de Souza, 36 anos, nasceu na cidade de Irecê, no Centro-Oeste, e se mudou para Luís Eduardo há 15 anos. Pintor, pedreiro e funcionário do Centro de Análise de Fibras da ABAPA, ele acumula certificações. Antes da mudança, trabalhava no campo e, por conta da escassez de chuvas, decidiu migrar para a indústria. “Transformou a minha vida, principalmente na questão financeira e em termos de educação. Cada dia aprendo mais”, diz.

Gilberto José de Souza, um dos alunos do CT, vem do trabalho manual no campo em Irecê
Os profissionais capacitados pelo CT ocupam as vagas que são disponibilizadas nas fazendas associadas à ABAPA, estabelecendo uma parceria entre a associação e os produtores rurais, em prol do fortalecimento dos elos que compõem a cadeia. No quadro de funcionários, são oportunizadas vagas para vários alunos que passaram pelo projeto. Empregados, eles conhecem todo o ciclo do algodão e, na medida em que se qualificam, ganham a chance de ocupar outros cargos.
Talentos de diferentes regiões
Na Fazenda Busato, em São Desidério, que possui um quadro de 150 funcionários, tornou-se comum encontrar pessoas de diferentes regiões da Bahia, e até mesmo de outros estados, trabalhando em diversas funções, algumas de coordenação. Um exemplo é o mineiro Lázaro Felipe Vieira Silva, 38 anos, que assumiu a função de supervisor de Saúde e Segurança do Trabalho há três anos. Ele diz que o estímulo à capacitação, promovido pela ABAPA, foi fundamental na sua ascensão.
“Em função da qualificação profissional, os funcionários mudam de cargo, ganham condições de comprar uma casa, um carro, de trazer a família para cá”, explica o supervisor, que mora em Luís Eduardo Magalhães há 15 anos. Após se especializar em Segurança do Trabalho, ele começou a estudar Engenharia Ambiental, em busca de oportunidades de crescimento. “Há dois anos, comecei a fazer o curso universitário, porque eu quero crescer ainda mais. Será bom para mim”, diz.

O mineiro Lázaro Felipe Vieira Silva com a equipe de manutenção da Busato | ABAPA/Divulgação
Entre os funcionários da Fazenda Busato, também está Ivete Oliveira, de 53 anos. Mãe de três filhos, ela é natural de Riacho de Santana, no Sudoeste da Bahia. Na cidade natal, trabalhava na colheita de forma manual e não tinha opções de desenvolvimento. Em busca de novas oportunidades, mudou-se para Roda Velha, em São Desidério, onde trabalhou em serviços gerais em um hotel. O próximo passo transformaria sua vida: ela migrou para Luís Eduardo Magalhães, onde vive há doze anos.
Também aluna do CT, Ivete é auxiliar de limpeza na ABAPA e se dedica a novos cursos a cada safra do algodão, em um processo contínuo de qualificação. Primeiros Socorros, Brigadista, Higiene. Cada aprendizado acrescenta nova etapa de conhecimentos à sua vida. O entusiasmo com que fala sobre as conquistas em Luís Eduardo Magalhães só reforça a relevância do empenho da associação na capacitação das pessoas. “Devo a minha qualidade de vida ao algodão”, conta.

Ivete Oliveira: da colheita manual em Riacho de Santana para a cotonicultura em Luís Eduardo
Tecnologia de ponta a ponta
O processo industrial do algodão passa também pelo trabalho das pessoas que estão inseridas nessa etapa da cadeia produtiva. A indústria surge com força no pós-colheita: limpeza, separação da pluma do caroço, ensacamento e etiquetagem. Em seguida, a amostra é enviada para o controle de qualidade. A tecnologia é indispensável para a eficiência. “Ela veio para nos ajudar a fazer um produto melhor, sem agredir o Meio Ambiente”, afirma Geraldo Nilton, encarregado de manutenção.
Geraldo tem 47 anos e trabalha na Fazenda Busato há 23. A sua relação com o agro vem de quando plantava e colhia, junto com a mãe, em Guanambi. Nilton migrou para Luís Eduardo com o objetivo de trabalhar no campo, mas logo mudou de direção. “Cheguei aqui e fui para o campo, mas fiquei poucos dias e vim para a indústria”. O conhecimento das etapas industriais, o saber técnico, adquirido nos treinamentos, e a capacidade de liderança, deram a ele a possibilidade de construir uma vida melhor. “Tenho patrimônio, criei uma família. Tudo que construí veio do algodão”.

Gilberto Nilton se mudou de Guanambi para o Oeste Baiano, onde construiu uma carreira