A estudante conta que nunca parou de estudar e que fazer uma graduação após os 70 ajuda a exercitar suas atividades cerebrais
Por Rafaela Kalil
Revisão: Antônio Netto
Em tempos de discursos etaristas, que viralizaram nas redes sociais, a estudante universitária Edinolia Peixinho, de 75 anos, mostra justamente o contrário: que nunca é tempo de parar e que sempre é preciso se desafiar, inclusive no ambiente universitário.
Cursando o sétimo período de Jornalismo, na UNIFACS, Peixinho conta que seu desejo e objetivo é de compreender melhor a atualidade, aprimorar sua visão de mundo, sua capacidade de escrita e de comunicação. A estudante diz não tem pretensão de exercer a profissão no mercado de trabalho, mas desenvolver projetos próprios.
“Eu escolhi jornalismo para me situar melhor com o mundo, penetrar por todos os processos da profissão, mas sem nenhuma intenção de exercê-la profissionalmente. A minha intenção é exercitar os meus neurônios e poder contribuir com a sociedade em que estou inserida”, explica a estudante.
Formada há algumas décadas em pedagogia pela Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA), Peixinho também é certificada em cursos como programação linguística, psicologia transpessoal e junguiana. A estudante segue cumprindo a promessa que fez a si mesma de nunca parar de estudar.
“Eu prometi que sempre ia estar estudando, acho que a vida é um aprendizado, é uma atualização, temos que nos atualizar no contexto em que estamos. E eu quero exercitar em mim a capacidade de poder produzir coisas”, relata a pedagoga e quase jornalista.
Em sua jornada acadêmica, “Nolinha”, como é conhecida entre os colegas e professores, conta que os maiores desafios estão nas atualizações digitais e a complexidade das mídias digitais.
“Pra mim tem sido muito desafiador, é uma novidade imensa, porque não dá pra passar 70 anos em um ritmo e de repente agora ser outro ritmo, não é tão fácil assim”, relata a estudante.
Entretanto, ainda com todos os desafios geracionais e tecnológicos, Peixinho mantém uma relação muito boa com seus colegas de turma e com seus professores. Para ela, é muito enriquecedor os momentos em classe porque é possível aprender muito do que ela ainda não sabe.
“Alguns são muito carinhosos, nunca fui maltratada aqui, sempre foram muito atenciosos comigo”, pontua a graduanda.
“Eu sou uma boa estudante, não falto aula e tenho muita vontade de aprender. Eu tenho sobrinhos e sobrinhos-netos, preciso me ambientar com a juventude, eu quero ser uma tia-avó do século presente e não do século passado”, destaca Peixinho.
Peixinho conta que ainda tem o desejo de fazer um curso de teatro, mas não vê mais possibilidade e tempo hábil para isso. Seu sonho nasceu no interior do estado, quando era professora do primário e utilizava de peças teatrais para desenvolver a capacidade de comunicação de seus alunos.
Na sua vinda para a capital, por volta dos anos 80, seu sonho foi deixado de lado, tendo em vista o momento de ditadura estabelecido no estado, toda represália política que os cursos de arte sofriam, fizeram com que optasse por pedagogia.
“Alguns colegas me contavam como era lá [no curso de teatro], era uma coisa horrível, essas coisas não me eram confortáveis e então eu deixei o teatro de lado e até hoje tenho essa falta, mas agora não tem mais condições”, relata Peixinho.