Após mais de 30 anos com apenas um dos quatro sinos funcionando, a Igreja do Bonfim volta a despertar a Cidade Baixa
Por Tairone Amélio
Revisão: Fernanda Abreu
Todos os sinos da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, na região da Cidade Baixa, voltaram a tocar simultaneamente nesta quinta-feira (13), às 9h. A data escolhida celebrou também a aparição de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, assim firmando a normalização das atividades sonoras da Igreja.
Uma missa foi celebrada para marcar o retorno das sinetas, sendo transmitida ao vivo pelas redes sociais da Igreja e da Secretaria de Turismo (Setur). A cerimônia contou com a participação restrita de convidados, devido a pandemia.
A reativação dos sinos faz parte de um projeto idealizado pelo Secretário de Turismo do Estado da Bahia, Fausto de Abreu Franco, com o apoio de iniciativas privadas.
“Já estamos no projeto desde 2019, mas evidentemente que o Bonfim tem um significado muito especial para todos nós, não só baianos e turistas”, diz Franco.
Por mais de 30 anos, os quatro sinos da Igreja do Bonfim não tocam de forma simultânea, tendo diminuído, após décadas, o número de badaladas, passando a funcionar com apenas um sino durante todo esse período.
“Os sinos vão tocar sempre ao meio-dia e às 18h, como acontece em outras igrejas”, informa Franco.
Sinos: tradição e memória
O historiador Rafael Dantas, que acompanha o projeto como coordenador, relembra a importância histórica das igrejas para a cidade do Salvador e sua relação litúrgica com os religiosos e cidadãos, ressaltando a ação como uma valorização da cultura material e um resgate das tradições.
O toque dos sinos traz às ruas soteropolitanas o canto há muito enfraquecido, marcando o tempo e as lembranças dos cidadãos. “Acho interessante, dá continuidade a uma tradição”, opina Caroline da Cunha, moradora da Mouraria.
Thomas Caíque Gentil, morador de Nazaré, ressalta que “o som me faz bem, nostalgia de quando eu morava perto da Igreja da Piedade e frequentava lá”.
Até o momento, já foram beneficiados oito igrejas da capital baiana: a Igreja da Ajuda; da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos; da Nossa Senhora da Conceição da Praia; da Nossa Senhora das Graça; a de Santo Antônio da Barra; a de São Domingos de Gusmão: do Santíssimo Sacramento do Passo e, por fim, da Basílica do Senhor do Bonfim.
“Estamos resgatando algo que se perdeu ao longo da história, e que ficou aí, por algumas igrejas, no caso do Bonfim, sem tocar”, relata Franco.
“Ao longo dessas nove igrejas, tenho certeza que as pessoas vão lembrar de momentos especiais de suas vidas, nesse caminho religioso”, completa o historiador.
Sons do passado
Em Salvador, existem 372 igrejas, conforme registros da Arquidiocese da capital, revelando a arquitetura portuguesa e a religiosidade baiana. Muitas delas são datadas do século XVI ao XIX, um verdadeiro museu a céu aberto. “A igreja tinha uma relevância sociocultural muito grande”, pontua Dantas.
O historiador Rafael Dantas relembra o significado dos sinos na história da cidade como um recorte das transformações urbanas, um exemplo “vivo” do passado na atualidade, que evidenciou as dinâmicas das relações sociais e religiosas no desenvolvimento da capital e do Estado.
Os sinos foram utilizados também para avisar sobre doenças e invasões, como a invasão holandesa em 1624. “Nas epidemias de cólera e na gripe espanhola de Salvador, os sinos tocaram diversas vezes para evidenciar que a cidade estava em caos”, relata Dantas.
O historiador destaca outras curiosidades históricas, como a do sino mais antigo registrado na cidade do Salvador estar localizado na Câmara Municipal, do início do século XVII.
“É possível ouvir a história através do toque dos sinos”, declara Dantas.
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Produção e coordenação de pautas: Márcio Walter Machado