Longas distâncias territoriais e pouco tempo entre partidas: times nordestinos, como Ceará, Fortaleza e Sport saem prejudicados e levanta críticas à CBF
Por Thiago Teixeira e Ian Peterson
Revisão: Antônio Netto
A temporada de futebol no Brasil é marcada pelo alto número de jogos em sequência, que se encurtou ainda mais por conta da pandemia do coronavírus, que impossibilitou o início do campeonato no prazo normal.
Com o calendário tão apertado e um país tão vasto em território, os problemas causados pelas longas viagens começam a ficar mais evidentes e afetam principalmente os clubes do nordeste.
Longas distâncias
Segundo levantamento realizado pelo Globoesporte.com, Ceará e Fortaleza lideram a lista dos times que mais realizam longas viagens pelo país durante os campeonatos. O ranking ainda é completado com o Sport, de Recife, em terceiro lugar.
Os times de Fortaleza, no Ceará, percorrerão cerca de 81 mil km para visitar as outras 18 sedes para realizar os jogos. Enquanto, saindo do Recife, em Pernambuco, são 72 mil km para o Sport visitar os 19 destinos das partidas.
O Bahia, outro nordestino dentre os 20 times da elite, ainda vive um cenário mais favorável. Pelo fato do estado fazer fronteira com Minas Gerais e Goiás, a equipe tem uma quilometragem que se aproxima do registrado por clubes do Rio e São Paulo, centros com maior número de concorrentes na disputa.
Com 41 mil km a percorrer, o Tricolor de Aço baiano está em sexto na lista de maiores distâncias, atrás de Grêmio e Internacional.
As equipes do Sudeste estão em situação mais confortável, em especial as de São Paulo, afinal, as cinco equipes se enfrentam no mesmo estado.
Dos cinco paulistas na Série A, em 2020, Santos e RB Bragantino, que estão fora da capital, terminam com as maiores distâncias. Logo depois, aparecem Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Eles são os maiores beneficiados pelos deslocamentos. Cada um tem 24 mil km, percurso três vezes menor do que os de Ceará, Fortaleza e Sport na competição.
Esse fator prejudica diversas equipes, não somente pela logística, mas também pelo tempo de treinamento. O descanso e recuperação de seus atletas, em muitos casos, não é o ideal, de 66 horas, previsto pelo acordo homologado entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).
Viagens mais longas significam maior tempo de deslocamento e espera em aeroportos. Esses problemas são acentuados pelo calendário do futebol brasileiro que faz com que as equipes vejam o tempo disponível para treinos, recuperação física pós jogos e descanso dos atletas reduzirem drasticamente.
O problema do calendário
Rodolfo Gomes, jornalista do Futeboteco, canal do YouTube com mais de 100 mil inscritos, critica incisivamente o calendário brasileiro e a CBF.
“Acho [o calendário do futebol brasileiro] uma verdadeira porcaria, por vários motivos. O primeiro é em relação ao número de partidas que se joga aqui no Brasil, isso no que se diz respeito aos clubes grandes, que jogam mais do que os times europeus. Os clubes pequenos jogam menos. Depois que acaba os estaduais, eles não têm o que fazer na temporada, até porque nós temos apenas quatro divisões no campeonato brasileiro. Então é um calendário ruim para todo mundo, é inchado para os grandes e esvaziados para os pequenos”, opina o jornalista.
Em decorrência da pandemia e do atraso no início do campeonato brasileiro, era esperado que a CBF adequasse o calendário brasileiro ao europeu, que se inicia na metade do ano vigente e vai até a metade do ano seguinte, mas isso não ocorreu. A entidade optou por seguir outro caminho.
Em entrevista ao jornal O Tempo, o diretor da CBF, Manoel Flores, explicou que o calendário foi desenvolvido com muito estudo e análise para encontrar uma decisão viável para entregar os calendários de 2020 e 2021. A CBF tentou equilibrar toda esta dinâmica nacional, levando em conta, por exemplo, Estaduais fortes com contratos de TV.
“A CBF não está nem aí para o campeonato brasileiro, a verdade é essa, nunca esteve e é difícil que um dia chegue nesse caminho. A CBF bateu o recorde em 2019 de arrecadação de receita, quase um bilhão de reais, cujo marketing era todo voltado apenas para a seleção brasileira. A CBF nunca teve interesse em fazer um campeonato brasileiro mais forte, mas sim ganhar dinheiro em cima da seleção brasileira”, opina Gomes.
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