Autoras discutem a história de lutas das mulheres pela independência
Por: Douglas Dórea
Revisão: Mariana Nogueira
O apagão ocorrido no início do último dia de Bienal não apagou o brilho que a tarde reservava. O palco era na Arena Jovem, onde a historiadora e escritora Heloisa Starling e a cantora, compositora e escritora Zélia Duncan se apresentaram, com mediação de Edma Góis. A mesa desta quarta (01) começou às 15h, mesmo com o imprevisto da rede elétrica. O esperado Café Literário aconteceu, e a magia do conhecimento cultural se fez presente na temática: “A história nos transforma em outras”.
Durante o debate a professora Heloísa Starling falou sobre o seu livro “As memórias do golpe”, que vem sendo lançado em capítulos onde conta todo o contexto até que se concretizasse a Ditadura Militar de 64.
Zélia Duncan contou detalhes sobre o seu álbum lançado em 2023: “As sete mulheres da independência”, em que a história dessas duas escritoras se entrelaçam, já que a referência para a criação do álbum vem das leituras dos livros de história escritos por Heloísa, a cantora se dedica neste álbum a homenagear as heroínas da independência do Brasil, muitas vezes invisibilizadas pela história. Além disso, falou sobre seu novo livro lançado intitulado “Benditas coisas que eu não sei”, onde conta memórias da sua carreira de sucesso.
Quando perguntada pela mediadora Enia Góis sobre quais as influências do golpe de 64 na sociedade atual, Heloísa Starling nos conta sobre o fim da ditadura e retorno a democracia não ter ocorrido da forma correta, deixando ainda resquícios de uma sociedade golpista que tentou ressurgir nos atos do 8 de janeiro de 2023. Remonta também sobre os símbolos, lemas e as cores nacionais utilizados em 64 que se repetiram na tentativa recente em 2023. Relembra sobre a necessidade de estarmos atentos às movimentações políticas que ocorrem em nosso país e ficarmos de olhos abertos para ponderar o que é melhor para a sociedade brasileira.
Zélia Duncan falou de curiosidades incríveis sobre a criação e significados do seu álbum, em especial a “Menina Urânia Valério”, que ela descobriu em uma das suas leituras da Heloísa Starling, uma garota de 12 anos que lutou com palavras contra os portugueses na luta pela independência da Bahia utilizando panfletos não assinados para o seu ativismo pela liberdade do Brasil, mas que sofreu um apagamento pela história contada nos livros. Além dela, ela citou outras grandes mulheres homenageadas na obra, dentre elas, as baianas Maria Felipa e Maria Quitéria.
Zélia comenta como a ajuda da historiadora foi importante na composição e arranjo das canções, em que fazia as suas composições juntamente com a parceira Ana Costa. Ela cita que fazia as letras das músicas e as enviava para que Heloísa corrigisse os pequenos erros de detalhes históricos contidos nas músicas, os arranjos tem relação com o contexto e região de cada uma das personagens homenageadas no álbum, criatividade incrível que chegou a dá inveja até na própria Heloísa que mencionou isso para a plateia de forma extremamente descontraída que tirou riso de todos.
E pra fechar o Café Literário, Zélia Duncan cantou a capela para todos os presentes um trecho da música “A natureza das coisas”, canção do forrozeiro Flávio José.
Quando questionada sobre as influências do período de ditadura na sociedade atual, Heloísa conta: “A gente pode pensar que tem algumas semelhanças, de um lado você repara que os militares continuam tutelar a república, então essa constante interferência dos militares na política e na cena pública isso está na história do Brasil e permanece e talvez a gente tenha hoje um momento muito bom para tentar encerrar isso, tirar esse artigo 142 da constituição, tentar reescrever, tentar mudar isso”.
E comentou sobre a experiência de estar em Salvador: “Os baianos são muitos generosos comigo, é um lugar bonito, porque enquanto você vai andando vai tropeçando na história. Assim você encontra com João de Deus no Dique para pensar na Conjuração Baiana que vai trazer a ideia da democracia, sendo a segunda vez em que foi falado sobre isso no Brasil”, completa Heloísa.
Quando citamos sobre a importância da Independência da Bahia para o objetivo de independência do Brasil, Zélia comentou: “A Bahia teve um papel fundamental porque fez a sua própria luta de uma maneira muito contundente. Então não é à toa, a Bahia sempre teve o ímpeto de liberdade e eu tenho certeza que ajudou a espalhar isso para o resto do Brasil”.
Já tendo sangue baiano ela completa: “O meu pai e Bahia ele nasceu em Feira de Santana, hoje tinha minhas tias e meus primos todos ai eu fico muito emocionada na Bahia sempre”.
E o palco de autógrafos lotou de fãs e leitores das convidadas da tarde de quarta-feira, como a fã Viviane Gonçalves, que contou sobre a representatividade da artista Zélia Duncan na sua vida: “Gosto muito da Zélia desde sempre admiro muito a profissional, as musicas para além disso, o ser humano que ela é, o ativismo dela e as pautas que vem sempre debatendo, sou muito fã”.