Por Camila Sampaio
Estudante de Jornalismo da UNIFACS
O Brasil possui uma história de pioneirismo e empreendedorismo quando se trata do cultivo do algodão. A produção do algodão no Brasil começou em 1918 no estado de São Paulo, devido a revolução industrial. Nesse período, o cultivo era de algodão herbáceo, onde as fibras são mais curtas e de ciclo anual.
Após um período de expansão de cultivo no Estado, o plantio de algodão foi deslocado para o Paraná onde em 1931 imigrantes oriundos do Japão iniciaram o plantio.
NA BAHIA
A Bahia já era um grande produtor, no entanto, a produção do estado era feita no litoral. Após análise das condições do algodão foi visto que o clima daquela região não favorece a cultura. Assim, o algodão migrou para o semiárido.
Em 1980, o algodão passou a ser plantado nas lavouras do Vale do Iuiú, no sudoeste do estado. O município de Guanambi chegou a ter 331 hectares de lavouras. Práticas como reformas da produção e o implemento da grade aradora foram prejudicando o plantio, o que favoreceu o alastramento de pragas como o bicudo-do-algodoeiro.
Atualmente, a cotonicultura ainda existe no município de Guanambi, mas de forma familiar. Vale ressaltar, que o bicudo ocupa a primeira posição no ranking de pragas de maior relevância econômica para a cultura do algodão na América, seguidas por outras como a lagarta falsa-medideira e o pulgão.
Este é um problema sério em uma cultura que tem alta competitividade no mercado e que, por isso mesmo, exige custos muito controlados, para garantir rentabilidade ao produtor.
Após passar por diversas crises, a cotonicultura passou a ser referência no Oeste da Bahia. O cerrado, com seus terrenos planos, mecanização do processo de produção, períodos bem definidos com chuvas, são condições ideais para o cultivo do algodão.
Em 1990, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), passou a desenvolver pesquisas de desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptando ás condições para o cerrado brasileiro, regiões do Mato Grosso, Goiás e Bahia.
SEGUNDA MAIOR SAFRA
A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do país. Cerca de 40% é exportado para países asiáticos, como China, Indonésia, Japão e Coreia do Sul, Vietnã, são os principais compradores do algodão brasileiro.
A previsão para o ano de 2019 é um crescimento de 15% na safra, de acordo com dados da Abapa. No último cultivo da safra para esse ano, é previsto 1,5 milhões de toneladas de caroços e plumas.
Esse crescimento é baseado no incremento de 25,5% da área cultivada, dando prioridade na região do oeste do estado, com 331.028 mil hectares.
Segundo o presidente da Abapa, Júlio Cézar Busato, a produção de algodão conta com sistemas modernos. Nos últimos anos, os cotonicultores investiram em máquinas e tecnologias para aumentar a produtividade.
Atualmente, os pivôs de irrigação contam com sistemas inteligentes de sensores que permitem verificar a necessidade de irrigação – são 180 mil hectares. É com essa estrutura que os agricultores devem colher a segunda maior safra de algodão da região do oeste da Bahia.
O Brasil fornece cerca de 29% do algodão mundial, pretendendo ultrapassar esta taxa para 2,1 milhões de toneladas. O foco da Abapa é “fornecer algodão de qualidade, com transparência e segurança”, querendo conquistar ainda mais espaço no mercado.
O cultivo no Oeste baiano é realizado por 150 produtores, que colhem 330 arrobas por hectare, empregando cerca de 30 mil pessoas. Representa um incremento de mais US$300 milhões por ano na balança comercial. O Brasil gera US$1,7 bilhões por ano em exportação com a cotonicultura.
PLANEJAMENTO E QUALIDADE
Os agricultores costumam montar até forças-tarefas nas fazendas para monitorar as áreas contra infestações. Para reforçar ainda mais a proteção, são usados produtos mais resistentes contra pragas e ervas-daninhas.
Da lavoura até as indústrias, cada etapa do cultivo é planejada com detalhes. O cultivo do algodão é considerado um dos mais vulneráveis, por isso a grande preocupação no seu cultivo.
Oitenta e sete por cento do algodão produzido no Oeste baiano possui o certificado de sustentabilidade, atestado pelo Programa de Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e pela entidade internacional Better Cotton Initiative (BCI).
Para obter o certificado, as fazendas precisam cumprir mais de 180 exigências, como mão-de-obra legalizada, trabalho justo, saúde e segurança do trabalho, boas práticas agrícolas, preservação e qualidade da água, gestão sustentável da propriedade e retorno financeiro.
É necessário atingir 100% de conformidade nos critérios mínimos de produção. Vale lembrar que o produtor pode ter os dois selos de qualidade, ou optar apenas pelo selo nacional (ABR).
INCENTIVO
No Brasil, ainda existe resistência ao utilizar tecidos de 100% algodão. A maior parte da produção nacional é voltada para a exportação. Pensando aumentar o consumo de roupas feitas exclusivamente do material, o movimento “Sou de Algodão” foi lançada pelos produtores, incentivando o uso da fibra natural pelas indústrias de roupa, cama, mesa e banho.
A campanha está há 3 anos ganhando força e destaque, várias parcerias foram criadas nesse período. Esses parceiros estão aderindo ao uso da fibra em suas confecções. Eventos como São Paulo Fashion Week (SPFW), já tiveram ao menos uma coleção feita exclusivamente de produtos feitos de algodão, assinada pelo estilista João Pimenta, em 2018.