Em 2019, obras de requalificação foram feitas na região, no entanto, patrimônios históricos não participaram da reforma; moradores se queixam da falta de segurança e acesso à região
A cidade de Salvador tem aproximadamente 67 km de faixa litorânea, incluindo a Baía de Todos os Santos. Uma das regiões de destaque é o Monte Serrat, onde fica a Ponta do Humaitá, um acidente geográfico localizado na Península de Itapagipe.
Diferente de cartões-postais da capital baiana, como o Pelourinho e o Farol da Barra, a Ponta do Humaitá, na Cidade Baixa, ainda não é um roteiro frequente para os turistas que visitam a capital baiana.
Com cenário otimista devido à flexibilização das medidas restritivas, a cidade se prepara para retornar ao fluxo habitual de atividades econômicas em um contexto pós-pandemia. Entretanto, o questionamento acerca do Humaitá perdura.
Em 2019, a Prefeitura de Salvador requalificou o local com a implementação de áreas para contemplação, entre outros espaços de lazer.
Contudo, patrimônios históricos seguem desamparados, como exemplo o Casarão do Humaitá, habitação mais antiga da cidade de Salvador, construída com objetivo de moradia e que já foi residência do padre Antônio Vieira, figura de renome no século XVII em termos de política e oratória.
Moradores mostram-se insatisfeitos com o olhar dos órgãos públicos para a região da Cidade Baixa e reivindicam maior cuidado para a história do local.
“É preciso mais atenção e cuidado com o imóvel. Queria muito que no local fosse criado o museu da Cidade Baixa. Seria massa, né? Traria não só importância para o lugar, mas para toda região. Será que um dia veremos?”, questiona Jeferson Teixeira, morador da Cidade Baixa e administrador da página @cidadebx no Instagram.
A equipe entrou em contato com o Centro de Intendência da Marinha em Salvador, órgão responsável pela manutenção do Casarão, mas não obteve resposta.
Um dos patrimônios históricos do local é o Forte do Monte Serrat, monumento nacional tombado pelo antigo Ministério da Cultura (MinC). Com localização estratégica e vista privilegiada, de um lado Salvador, de outro Ilha de Itaparica, é considerado uma das obras militares mais importantes do Brasil, também sendo sede do Museu das Armas.
“Aqui na Cidade Baixa, temos o Forte do Monte Serrat, importante para a proteção de Salvador; a casa mais antiga; o primeiro Hospital de Isolamento, importante no combate da febre amarela e gripe espanhola; a praia da Boa Viagem, que tem o único registro sobre o tsunami que afetou o Brasil em 1755, mesmo sem grandes proporções. Em poucos metros é possível ver a importância histórica do local”, relata Jeferson Teixeira.
Destacado pelos entrevistados, o preconceito social por parte das autoridades devido à localização é um dos agravantes para o problema, uma vez que essa região da cidade abriga grande parte da população de baixa e média renda.
“Parte do princípio que a Ponta do Humaitá fica localizada na Cidade Baixa. A Cidade Baixa sempre foi menosprezada pelas autoridades de Salvador, né? Eles dão mais importância à Cidade Alta, aos pontos turísticos da Cidade Alta, eu acho que o ponto de partida deles não darem importância é esse aí”, cita Joelma Novaes de Oliveira, moradora do Monte Serrat há 28 anos.
Os moradores do Humaitá e adjacências também citam a falta de segurança como um fator para o desaproveitamento do local e alertam quanto à necessidade de ações de segurança para o acesso de novos visitantes à região.
“Se os órgãos responsáveis investirem aqui na região como ponto turístico, obviamente nós vamos ter mais segurança, mais área de lazer, para termos a capacidade de recebermos turistas”, relata Conceição Marques, professora e moradora do Monte Serrat há 18 anos.
Além da ausência de segurança, outra questão levantada pelos moradores é a distância do local para bairros mais conhecidos pelo turismo e a dificuldade de acesso a transportes públicos.
“Ausência de linhas de transportes para bairros turísticos (Barra e Itapuã), demora na circulação de ônibus, poucas vias de acesso para saída da Cidade Baixa, engarrafamento constante”, foram alguns dos pontos negativos citados por Conceição Marques.
“Opções de lazer, mais cuidado, com a nossa praia principalmente, porque é uma praia linda e maravilhosa! Uma das mais bonitas que Salvador conhece. Para as crianças, até para quem chega de fora, eu acho que seria legal investir nas quadras de esporte para os nossos jovens”, pontua Oliveira.
Repórteres: Felipe Miguel Lessa, Guilherme Santos dos Anjos, Maria Eduarda Gonzaga Matos, Maria Luiza Nascimento Escobar, Monica Silva dos Santos
Revisão: Antônio Netto