Tecnologia e Inovação aumentam a produtividade e trazem mais controle para cotonicultura, sem deixar de lado o fator humano
Por Luís Felipe Guimarães
Sensores de monitoramento, drones sobrevoando os céus e equipamentos de alta tecnologia guiados por GPS, tudo integrado a um sistema que gerencia cada detalhe. Pode parecer um cenário de uma metrópole futurista, mas na verdade, já é parte do dia a dia de inúmeros produtores de algodão no Oeste baiano.
A tecnologia que está à serviço da Agricultura de Precisão vem transformando a maneira como muitas fazendas cultivam algodão. Essa prática utiliza dados e equipamentos tecnológicos para conseguir aumentar a produtividade sem, necessariamente, aumentar o uso da área de plantio. Esse novo paradigma está redefinindo o que significa ser um agricultor no século XXI.
Segundo Sérgio Brentano, diretor do Centro de Análise de Fibras da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), com o emprego das tecnologias no processo produtivo, a produção saiu de 270 arrobas por hectare, que já era uma boa média, para mais de 300 arrobas por hectare.
Inclusive, na Bahia, se utiliza muito pouco da área produtiva disponível, mas através da inovação e precisão, se produz mais e com maior qualidade. Esse tem se tornado o desafio da cotonicultura: aliar os dados coletados às tecnologias, buscando eficiência máxima, tanto nas lavouras quanto nas estratégias de mercado.
“Não é mais produzir e ter o manejo da lavoura, é como ele [agricultor] vai se preparar para o próximo plantio, com base em todas essas informações que adquiriu e se ele tem tecnologia para potencializar isso”, conta Douglas Vieira, Coordenador do Centro de Treinamento e Tecnologia da Abapa.
Henrique Borges, gestor algodoeiro da Zanotto Cotton, ressalta o papel da tecnologia embarcada nas máquinas utilizadas no plantio e colheita do algodão. Esses equipamentos avançados fornecem dados e informações sobre o processo produtivo.
Antes mesmo de iniciar o plantio, com a análise desses dados, é possível avaliar o rendimento de determinada tecnologia e da qualidade da semente escolhida. Esse conhecimento permite aos produtores otimizar suas práticas, optando por sementes de maior potencial produtivo.
Os produtores impulsionam esse processo com a utilização de semeadoras, que hoje, com a tecnologia de sensoriamento embarcada, possuem mais precisão e homogeneidade no processo, minimizando significativamente os riscos de inconsistências e falhas no plantio.
Ao longo de todo o ciclo produtivo, o solo também é continuamente monitorado por sensores em tempo real, que fornecem dados como a umidade presente no solo e no ar, bem como a temperatura ambiente, permitindo ajustes precisos nas práticas agrícolas conforme necessário.
Edinaldo Ribeiro, gerente administrativo da Fazenda Santa Isabel, do Grupo Franciosi, em Luís Eduardo Magalhães, destaca que esses dispositivos estão estrategicamente posicionados em áreas específicas da propriedade. Estão integrados a um sistema que transmite os dados coletados diretamente para uma central. A partir dessa coleta, a equipe pode avaliar as particularidades do solo, reconhecer suas demandas e, com base nesses parâmetros, tomar decisões ágeis e mais eficientes.
A análise de dados, permite que se tenha um maior controle de toda operação, proporcionando uma gestão mais eficiente da propriedade e dos recursos, especialmente os hídricos.
Nas fazendas do Grupo Franciosi, o monitoramento contínuo das condições climáticas e do solo fornece informações importantes sobre as necessidades hídricas das culturas. Isso permite ajustes precisos na irrigação, garantindo que cada área receba a quantidade exata de água, otimizandoseu uso.
A modernização não para por aí. O sistema de irrigação das fazendas é meticulosamente monitorado. O pivô central pode ser gerenciado remotamente, diretamente do escritório da empresa, aumentando a eficiência e integrando todo o processo.
“Se um pivô tiver uma tubulação danificada, do escritório mesmo é possível você ver isso, desligar o pivô e denominar a lâmina de água a ser lançada”, explica João Neto, engenheiro agrônomo da Franciosi.
Aviação e VANTs
O uso da tecnologia na cotonicultura não tem se limitado somente ao solo. O céu é um espaço cada vez mais explorado pela aviação agrícola. Aliada às técnicas da Agricultura de Precisão, tem proporcionado aos produtores uma assertividade sem precedentes.
Com essa combinação, é possível otimizar a aplicação de agrotóxicos, fertilizantes e até mesmo sementes, minimizando desperdícios e impactos ambientais.
A tecnologia dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) tem revolucionado a cotonicultura, permitindo um controle mais apurado de pragas e otimizando a aplicação de recursos. Estes drones, equipados com sensores e câmeras avançadas, proporcionam um monitoramento preciso das lavouras.
Douglas Vieira destaca a importância econômica e ambiental dessa precisão: “Os insumos têm um alto custo. O produtor rural não vai simplesmente dispersar defensivos agrícolas na lavoura sem critério. Isso não só elevaria os custos, mas também aumentaria os riscos ambientais”.
A partir do mapeamento, os produtores têm a capacidade de direcionar adubos e defensivos para áreas específicas da fazenda, evitando uma aplicação generalizada e ineficaz.
Na fazenda do Grupo Franciosi, em Luís Eduardo Magalhães, drones e aviões tornaram-se ferramentas essenciais. Eles agilizam o processo de detecção e combate a pragas, garantindo uma produção mais sustentável e eficiente.
Em algumas situações, quando o algodão está infectado, as consequências são visíveis: a lavoura apresenta uma desuniformidade, com áreas elevadas contrastando com outras mais baixas. Além disso, durante o crescimento do algodão, a infestação por parasitas, como os nematoides, altera a aparência das folhas, que se distanciam de sua condição padrão.
A aviação agrícola surge como uma solução eficaz, permitindo identificar rapidamente essas regiões comprometidas e pulverizar especificamente os setores afetados e garantindo uma intervenção ágil e direcionada.
Colheita e análise da fibra
Na era da mecanização avançada, as máquinas de hoje não apenas colhem com uma precisão incomparável, minimizando danos aos fios de algodão, mas também atuam como centros de dados ambulantes, captando e transmitindo informações importantes em tempo real.
Graças à conectividade, esses maquinários estão mais integrados do que nunca, formando uma rede de dispositivos interconectados. Imagine um trator que, além de realizar suas funções básicas, fornece ao produtor dados sobre sua precisão operacional.
Combinando essas informações com dados sobre a qualidade do solo em locais específicos, é possível obter uma visão geral da operação. Ao decifrar esses dados, os produtores têm a capacidade de aprimorar a plantabilidade, otimizar a aplicação de insumos e até mesmo reduzir o consumo de combustível.
Brentano relembra que, há 30 anos, a indústria têxtil enfrentava grandes desafios ao tentar compreender as informações dos lotes de algodão, dada a vasta gama de variações presentes em cada lote. O diretor conta que a análise da fibra era realizada por máquinas distintas para cada atributo específico. Estes dispositivos, ao processarem grandes volumes de algodão, tornavam o procedimento não apenas mais lento, mas também impreciso.
No entanto, na década de 1990, as diversas máquinas foram consolidadas em um único equipamento, dando origem ao Instrumento de Alto Volume (HVI, sigla em inglês). Este avanço trouxe uma automação mais refinada e precisão ao processo, permitindo a análise de até mil fibras de algodão por pente e a coleta de informações de diferentes fibras de maneira uniforme.
Os dados coletados pelo equipamento são armazenados em um banco de dados, tornando as informações sobre cada fardo acessíveis ao produtor. Essa riqueza de detalhes serve como parâmetro para avaliar a qualidade da fibra produzida.
Por exemplo, ao identificar que o mercado está priorizando fibras de uma qualidade particular e de maior comprimento, o produtor pode adaptar sua abordagem de negócio.
Essa percepção influencia em decisões mais estratégicas do produtor, que pode optar por adotar uma tecnologia que produza as características de fibra mais valorizadas, em vez de outra que talvez não atenda às tendências atuais.
Tecnologia e habilidade humana
Douglas Vieira destaca que, além de avançar na tecnologia, é fundamental investir na capacitação dos profissionais. O objetivo é que eles possam não apenas operar, mas também otimizar o uso dessas inovações, criando um equilíbrio entre inovação e habilidade humana.
“Nós precisamos que as pessoas tenham uma percepção clara de como esse mundo da tecnologia precisa estar alinhado com o campo. Ter um técnico agrícola que conheça efetivamente todas essas tecnologias faz toda a diferença”, exemplifica.
Segundo o coordenador, a formação e capacitação dos trabalhadores é um pilar fundamental para acompanhar o ritmo acelerado das inovações tecnológicas no setor agrícola e elevar significativamente a produtividade nas fazendas. Nesse contexto, surge a relevância do curso de tecnologia em agro computação.
Os profissionais formados nessa área terão a expertise necessária para integrar tecnologia e práticas agrícolas, auxiliando na tomada de decisões mais informadas e eficientes no campo.
Hoje, nas fazendas de algodão, a imagem do agricultor colhendo manualmente sob o sol escaldante é coisa do passado. A evolução tecnológica e a capacitação profissional redirecionaram esses trabalhadores para funções mais especializadas.
Agora, eles estão no comando de tratores modernos ou atuando na gestão e planejamento das propriedades. Esse movimento não só otimizou a produção, mas também valorizou o recurso humano, colocando-o em posições de maior destaque e responsabilidade no cenário agrícola.
Fotos: Luís Felipe Guimarães