Shows e festivais podem promover a inclusão e visibilidade afro
Por Luís Felipe Guimarães
Revisão: Luísa Mendes
Salvador, a cidade mais negra fora da África, tem proporcionado cada vez mais eventos que fomentam a música e a representatividade afro na sua programação cultural.
Em 2022, a capital baiana recebeu o Afropunk Bahia, considerado o maior evento de cultura negra do mundo, e para esse ano de 2023 conta com eventos como o “Licortejo – Forró do Cortejo Afro” e o “Afrobaile”, que acontecerão durante os dias 30 de junho e 21 de julho, respectivamente.
Para o estudante de Direito da UCSAL, Rafael Oliveira (20), esses eventos são importantes para quebrar os olhares preconceituosos que as pessoas tem sob a cultura negra, que, por sempre ter sido proliferada dentro dos guetos e de uma classe social específica, é olhada de forma marginalizada.
Oliveira revela que pra ele sempre foi muito claro a forma que a cultura negra se expressa através do canto e da dança. Portanto, utilizar desses eventos como um canal de exposição é fundamental para a representatividade afro em Salvador.
“Aqui é um centro da cultura negra no Brasil. Temos que entender, adotar e buscar esses espaços para proliferar essa cultura, tanto na forma mais crua como nos ritmos e na capoeira, quanto no hip-hop e no rap”, diz o estudante.
Maria Eduarda Matos, estudante de Jornalismo da Unifacs, conta que esses eventos ajudam a trazer visibilidade tanto a artistas, quanto ao público consumidor negro, além de servir como um ambiente de diversão e conexão onde possam talvez se sentirem seguras e livres do preconceito racial que assola a sociedade.
“Muitas pessoas não se veem representadas, então se existissem mais chances e oportunidades para artistas negros seria ótimo. Até mesmo para as crianças, que poderão crescer sabendo que existe uma referência, seja na música, na arte, na tv e em lugares de protagonismo”, opina a estudante.
A realização desses eventos também contribuem para a ampliação do cenário musical afro na cidade, visto que muitos artistas negros, principalmente vindos da periferia, sofrem com a falta de oportunidades na vida artística.
Matos acredita que ao fornecer oportunidades e disponibilizar locais para que essas pessoas talentosas, e muitos jovens negros que querem ingressar na arte, pode ser um grande sucesso nesse panorama.
“Atualmente podemos presenciar um ‘crescimento’ em eventos deste tipo como por exemplo o AfroPunk, entretanto ainda não é suficiente, não podemos nos contentar com pouco, e sim, lutar para que esses eventos sejam ainda mais comuns na cidade de Salvador e em todo o Brasil”, expõe.
Já pra Rafael Oliveira, esses espaços sempre existiram, mas não tinham a visibilidade que mereciam e eram muito fechados. Porém, a cada vez mais que a cultura negra foi atingindo mais espaços, foi ganhando mais notoriedade pela sociedade.
Um exemplo clássico são as batalhas de rima, que antigamente eram feitas embaixo de pontes, com caixas de som cheias de ruídos. Hoje em dia, as batalhas chegam a ser realizadas em palcos, com uma estrutura e qualidade maior.
Oliveira relembra que o mesmo aconteceu no rap, que os pais não deixavam os filhos ouvirem, que só se ouvia nos fones. Hoje, acontece em proporções gigantescas, com shows lotados de somente com artistas de rap, fato que era impensável a alguns anos atrás e só foi possível com a abertura de mais espaços para a cultura negra.
“Você abrir as portas da sua cultura só gera evolução, você espalhar a sua cultura não a dilui, você a incrementa, a evolui”, opina.