Autores trouxeram representatividade PcD e LGBTQIAP+ para a Arena Jovem
Por: Erika Reis e Louise Victoria
Revisão: Mariana Nogueira
Em seu penúltimo dia, a Bienal do Livro continua sua programação com atrações fantásticas, dando espaço desta vez para a voz de minorias que, dentro de sua escrita, trazem a representatividade para leitores LGBTQIAP+, assim como aqueles com deficiência.
Às sete da noite da terça-feira (30/04), a Arena Jovem foi sede da mesa “Por novas histórias de amor”. Com a mediação maravilhosa de Gabriela Almeida, a mesa teve como atração os escritores Abdi Nazemian, Pedro Rhuas e Vanessa Reis.
A plateia, assim como a fila de autógrafos, estava repleta de fãs, que marcaram presença para o painel de seus autores favoritos. Como Ana Beatriz, que após conseguir o autógrafo de Nazemian, nos contou um pouco sobre a relação dela com um dos livros do escritor, intitulado “Tipo uma História de Amor”.
Ana diz, “Eu acho que a gente precisa desse tipo de história, sabe? E não só representatividade por representatividade, mas uma representatividade que também tenha uma história que seja interessante para todos os tipos de corpo.”
O livro, que reflete suas experiências de vida crescendo durante a crise do HIV e AIDS, traz este aspecto intimamente, discutindo-o em meio ao romance, algo que o torna único na visão dos leitores. “Além de trazer um romance, além de trazer a representatividade, tem também uma questão histórica.”, conta Beatriz.
A admiração pelos livros de Abdi se deve não só a forma em que concilia a sua vivência com o romance, mas de fato o que isso representa, ao enquadrar a realidade de sua história, reforça os ideais pelos quais o escritor luta, aquilo que defende em fala, não teme em incorporar na sua escrita.
Ao entrevistar o escritor, Nazemian faz questão de recontar a sua história, das mudanças de um país para outro depois que uma revolução eclodiu em seu país de origem, o Irã.
Sua atitude, a força de vontade que tem de aprender e falar o português — que foi a língua escolhida pelo autor durante o painel, mesmo acompanhado por um tradutor — surge como resultado da experiência, em suas palavras.
“Porque eu cresci em tantos países, falo cinco, seis línguas. Para mim, o meu maior sonho sempre foi que meus livros viajassem. Me vejo como alguém que tem a habilidade de ir para países diferentes na esperança de unir as pessoas com a minha mensagem”, diz Abdi.
Discutindo o alcance atual de seus livros, o escritor desabafa: “Me sinto bastante frustrado porque meus livros ainda não foram traduzidos para o espanhol, assim como certas línguas. E obviamente no Irã onde eu nasci, meus livros não podem ser publicados.”
Entretanto, a presença de leitores ao redor do mundo que não só leem, mas expressam sua gratidão pela escrita que os encoraja a se orgulhar do que são, da resistência que representam, faz com que o escritor, por sua vez, se sinta encorajado. No tópico, Abdi Nazemian completa: “acredito que o que todo ser humano quer é autoexpressão”.
Antes da mesa, o autor Pedro Rhuas concedeu entrevista exclusiva à Avera, onde destacou a importância de levar histórias com representatividade para lugares como a Bienal do Livro Bahia.
“Todos os espaços em que estou e levo livros com protagonismo LGBTQIAP+ e nordestino, onde estou com autores que pertencem à minoria historicamente marginalizadas, ocupando espaços de destaque, é um presente gigantesco. Fico muito feliz em retornar à Bienal da Bahia (…), sabendo que nossas histórias seguem ecoando e chegando à juventude baiana”, declarou o autor de “Enquanto eu não te encontro”, também relembrando que esteve na Bienal do Livro Bahia 2022.
Durante a mesa, Pedro também aproveitou para recordar as histórias que não tiveram a oportunidade de chegar até espaços como a Bienal. Segundo o Portal G1, o Grupo Gay Bahia, a mais antiga Organização Não Governamental (ONG) LGBT da América Latina, realizou um levantamento que constatou que o Brasil teve 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no ano de 2023. Com este número, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de países mais transfóbicos do mundo.
“Também quero lembrar daqueles que não terão suas histórias contadas porque foram excluídas e assassinadas no país que mais mata pessoas queers no mundo. Isso é um dado que a gente não pode ignorar e que precisamos trazer sempre como alarme e como dor. Embora essas histórias não sejam vividas pela possibilidade de viver que lhes foi arrancada, quero que elas ecoem hoje aqui e em todos os outros espaços em que pessoas queers estiverem”, declarou Pedro, que chegou a se emocionar ao final de sua fala.
A jovem soteropolitana Letícia Viana, de 18 anos, estava presente na plateia. Após a mesa, ela teve seu exemplar de “O mar me levou a você” autografado e levou a bandeira LGBTQIA+ para tirar a tão sonhada foto com seu autor favorito.
“Os livros do Pedro são muito importantes para mim, principalmente porque eles carregam muita representatividade que falta nos outros livros. Me identifico com tudo que ele fala desde 2022, quando li seu primeiro livro: ‘Enquanto eu não te encontro’. Pedro fala muito sobre conexões, e foi através deste livro que conheci meus amigos que estão aqui na bienal comigo hoje”.
Ao final da mesa, Pedro Rhuas ganhou ainda uma surpresa de aniversário. Carregando balões e um bolo, os fãs cantaram parabéns para o escritor, que completou 28 anos no dia 28 de abril.
Já Vanessa Reis, autora do livro “Interseção”, participou da Bienal como escritora pela primeira vez. Ela contou com a presença de amigos, familiares e fãs na plateia, que vieram prestigiá-la vestindo peças cor de rosa, referenciando a capa de sua obra.
Logo no início da mesa, Vanessa falou sobre a importância do amor para pessoas com deficiência: “eu penso que o amor é principalmente aquilo que nos adia o adoecimento. Sem amor, a gente adoece. É muito importante esta oportunidade que temos de falar sobre o amor para outros corpos. Muitas vezes, a sociedade costuma olhar as pessoas com deficiência como seres que não amam, que precisam ser olhados de forma muita especifica”.
‘As pessoas reduzem a gente ao D de deficiência, e se esquecem que, antes de tudo, a sigla PcD começa com P de pessoa”, destacou Vanessa.
Em entrevista exclusiva à Avera, Vanessa comentou sobre o que as pessoas podem fazer para levar mais histórias com representatividade para outros espaços.
“Consumir as nossas histórias é o primeiro passo para que outras pessoas possam ter a oportunidade de continuar consumindo. Assim, a gente ganha visibilidade para que as histórias continuem alcançando novos públicos.”, recomendou.
A advogada Ana Elizabeth Rocha, de 25 anos, conhecida como Liza, foi uma das fãs que recebeu autógrafo de Vanessa Reis. A jovem também é criadora de conteúdo digital e possui um bookstagram, onde compartilha suas experiências literárias.
Liza conheceu Vanessa por meio dos anúncios da Bienal nas redes sociais. A escritora, então, seguiu a fã de volta no Instagram, e logo surgiu uma amizade a partir da troca de experiências.
“Eu sou leitora desde criança e nunca tinha lido um livro que me representasse como pessoa. A Vanessa foi a primeira escritora que eu tive o prazer de conhecer tanto a história dela quanto os livros dela. Ela tem ensinamentos muito profundos sobre como se reconhecer e como se mostrar a outras pessoas”, declarou a jovem à Avera.
“Existem algumas deficiências que não são visíveis, e as pessoas te julgam até por isso. Quando você está numa fila preferencial que é um direito seu, por exemplo, a pessoa não tá vendo nada em você e acha ruim. Isso já aconteceu comigo várias vezes, porque quando eu estou parada, ninguém sabe que eu sou deficiente”, completou Liza.