Como as novas tecnologias estão transformando o ensino superior, os métodos de aprendizagem e o papel dos professores nas salas de aula do futuro
Por Ana Vitória Seixas, Beatriz Abreu e Igor Carvalho
Revisão Anna Gherardi
A inteligência artificial está transformando a forma como se ensina e se aprende nas universidades, no Brasil e no mundo. Ferramentas capazes de gerar textos, resumos e apresentações em poucos segundos prometem mais agilidade e produtividade. Mas essa revolução tecnológica também levanta uma questão crucial: estamos preparados para esse novo cenário?
Segundo o jornalista e professor de comunicação, Alexandro Mota da Unifacs ainda não estamos prontos. “Eu acho que não, não estamos preparados para isso que você chama de revolução, mas que eu preferiria nomear de transformação – ou que até certo ponto é um “perturbação” – da relação da sociedade, especialmente do setor de educação, com as novas tecnologias. Mas, para ficar claro, eu acho que o problema não é a IA ou a tecnologia em geral, mas como temos nos distanciado da ideia de aprendizado em si.“
Com o avanço de plataformas como o ChatGPT, muitos estudantes adotaram a IA como uma aliada nos estudos. Hoje, essas ferramentas conseguem revisar textos, corrigir redações e até montar apresentações completas. O ganho de eficiência é evidente, mas surge uma preocupação: como garantir que os alunos desenvolvam pensamento crítico e autonomia acadêmica?
“Você atribui à IA a capacidade de trazer eficiência para a educação. Eu me questiono se é mesmo eficiência que precisamos nesse processo, especialmente do ponto de vista dos alunos. Quem estuda não precisa responder algo em menor tempo, não precisa acertar sempre, não precisa ter resposta para tudo. Isso é o que a IA oferece aos estudantes que a utilizam excessivamente”.
Para Mota, a eficiência se relaciona com o princípio de finalidade. “Qual é a finalidade de estudar? Você estuda para aprender e todos nós sabemos o quanto aprendemos quando demoramos mais tempo tentando responder uma questão, o quanto aprendemos quando erramos ou mesmo o quanto ter dúvidas nos leva para tantos caminhos que não pensávamos antes”.
Inovação e ética
O avanço da inteligência artificial na educação é inevitável. Como destaca Charles Fadel, especialista em educação e autor do livro Educação na Era da Inteligência Artificial, é essencial que escolas, professores e alunos compreendam como essa tecnologia funciona para que consigam aproveitar todo o seu potencial pedagógico.
Além disso, uma pesquisa do Google em 2023 aponta que cerca de 70% dos estudantes brasileiros já estão familiarizados com a IA, o que reforça a ideia de que sua presença nas salas de aula será cada vez mais comum e necessária.
Nas instituições de ensino, um dos desafios é equilibrar inovação e ética. Como evitar o plágio e assegurar que o aprendizado esteja, de fato, acontecendo? “Não temos garantias de que o aprendizado está, de fato, acontecendo. Acho que nunca tivemos, não vamos ter. Eu gosto mais de pensar na responsabilidade individual”, reflete Mota.
A UNESCO destaca que a IA tem o potencial de transformar a educação ao proporcionar experiências de aprendizagem personalizadas, adaptadas às necessidades individuais dos alunos. Essa personalização pode melhorar o engajamento e os resultados dos estudantes, especialmente em contextos onde o acesso a recursos educacionais é limitado.
Além disso, pode apoiar os professores na avaliação do progresso dos alunos e na adaptação de abordagens pedagógicas, permitindo um ensino mais eficaz e inclusivo. Portanto, conforme enfatizado pela UNESCO, a IA pode desempenhar um papel crucial na promoção de uma educação mais inclusiva e de qualidade, desde que seja implementada de maneira ética e equitativa.