
Fachada do Museu de Arte Contemporânea, também conhecido como palacete das artes | Foto Maria Clara Andrade
Com programação diversa e gratuita, Salvador se uniu à Semana Nacional dos Museus e convida o público a redescobrir espaços de memória.
Por Maria Clara Andrade e Maria Fernanda Cardoso
Revisão Marcelly Ferreira
De 13 a 18 de maio, Salvador recebeu a 23ª edição da Semana Nacional dos Museus, uma iniciativa que acontece em todo o Brasil em comemoração ao Dia Internacional dos Museus, 18 de maio. Com o tema “O futuro dos museus em comunidades de rápidas transformações”, o evento foi palco para a cultura, memória e arte, envolvendo a cidade e a sua população.
Com participação de mais de mil instituições espalhadas pelas 5 regiões do País, a semana que homenageia os museus foi contemplada em Salvador por meio de equipamentos culturais administrados pelo Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). Por meio de uma programação especial, o público pôde vivenciar oficinas, ateliês, cursos, visitas guiadas noturnas, leituras, exibições de filmes e aulas para todas as idades.
Além de contar com os museus conhecidos da capital baiana, como: o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-BAHIA), Museu de Arte da Bahia (MAB), e o Museu de Arte Moderna (MAM), a programação também se estendeu para o recôncavo baiano, no Parque Histórico Castro Alves (PHCA), em Cabaceiras do Paraguaçu.
“Desde 2020, a semana de museus acontece em cadeia. A gente tem o Conselho Internacional de Museus que, todo ano, quando chega na semana do dia 18 de maio, elege uma temática para que as instituições museológicas mundialmente possam seguir com uma programação”, explica Roque Teixeira, museólogo do setor educativo do MAB.
Olhares para o futuro
A temática deste ano da Semana Nacional dos Museus dialoga diretamente como pensamos o planeta e o futuro das próximas gerações. Já que, além de termos questões alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidas pela ONU, os museus também buscam a juventude para o diálogo.
“Os museus, a nível mundial, estão tentando se inserir nas práticas de sustentabilidade e tentar levar esse discurso de você ter um país, um mundo um pouco mais sustentável, a partir de perspectivas culturais. Então, a gente está tentando trabalhar com a juventude”, menciona Roque Teixeira.
Assim, podemos ver um impacto na programação do evento, que contou com ações que envolvessem o público jovem e as crianças por meio de temáticas ou atividades específicas, como uma oficina de grafite ministrada pelo artista Akin Farias no MAB. Para ele, “com esses projetos de estudantes no Museu e Semana dos Museus, a gente consegue trazer bastante gente. Tipo, até as pessoas que nunca tiveram contato chegam até aqui.”
As ações que acontecem durante o evento são fundamentais para compreendermos como o perfil dos visitantes dos museus mudou ao longo dos anos. A imagem dos ambientes culturais pertencentes à elite está sendo quebrada, aproximando a comunidade de instituições culturais e artísticas por meio da sua diversidade, não só a representando, como a celebrando.

Os museus soteropolitanos mantêm um diálogo com a arte urbana e a juventude, a exemplo do mural de grafites presente no MAC. | Foto Maria Clara Andrade
Essas ações imersivas têm um papel significativo na educação dessa nova geração, oferecendo experiências que estimulam a criatividade, o aprendizado diverso e a exploração de outras formas de ensino-aprendizagem, saindo do padrão quadro e piloto, levando ao contato com o real, com a cultura e a arte.
A comunidade, a Educação e o Espaço do Museu
Eventos como a Semana Nacional dos Museus, trazem a cultura mais perto da comunidade, são fundamentais para o reconhecimento e a construção da nossa identidade enquanto sociedade. Pensar as suas origens e o comportamento artístico e cultural, além de ser uma forma de ensino para os mais jovens, levando-os para fora dos muros escolares, é uma maneira de estabelecer diálogos para todas as idades.
“O museu traz para a gente a oportunidade de conhecer mais a cultura do lugar onde moramos e através dessa cultura a gente conhece a nossa história, a gente cria a nossa identidade e essa identidade fortalece a nossa caminhada.’’ Diz Carla, economista e frequentadora de museus em Salvador.
O sentimento de pertencimento é uma ferramenta fundamental para que esses espaços sejam frequentados, fazendo com que a população se veja no espaço do museu. Nesse sentido, gerando um vínculo que perpassa a representação e faz com que os quase 40 museus que existem na cidade sejam um ponto de encontro entre representação e força identitária.
Como cita o museólogo Roque Teixeira sobre o público dos museus que tem se transformado nos últimos tempos, com uma presença crescente de pessoas jovens, negras e periféricas. Segundo ele, esses visitantes chegam com uma forte vontade de se reconhecer nos museus e de ocupar a cultura com protagonismo.
Mais do que abrigar acervos, os museus são, cada vez mais, espaços vivos de troca, escuta e pertencimento. Em Salvador, a Semana Nacional dos Museus reafirma esse movimento ao reunir ações que aproximam diferentes públicos e transformam a visita em experiência. Ao abrir suas portas, os museus se preparam para um futuro mais plural, onde a memória se constrói coletivamente e o público deixa de ser somente espectador para se tornar parte ativa da narrativa.