Por Milena Lopes
Estudante de Jornalismo da UNIFACS
A Bahia tem reconhecimento mundial quando se fala do seu litoral, principalmente, em Salvador. Entretanto, o estado possui riquezas de destaque e relevância internacional, com dezenas de benefícios para o estado e para os baianos.
A principal realeza do cerrado e do clima tropical semi-árido do nordeste se encontra a cerca de 900 km da capital baiana, na região oeste do estado, e é o algodão.
Apesar de um produto sensível, que tem pragas e o fogo como maiores vilões, o algodão não irrigado recebe um cuidado especial, apoiado em tecnologias modernas, que garante os grandes números e benefícios para o interior baiano.
Plantado em uma área de 312 mil hectares – aproximadamente 4 vezes o tamanho da capital baiana – entre as imediações das cidades de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério, apenas este ano foram produzidos 1 milhão e 300 mil de toneladas de algodão – com pluma e caroço.
A Bahia é o segundo maior estado produtor quando se trata da cunicultura, com 25% da produção nacional, e fazendo do Brasil o quinto na lista de produtores mundiais, atrás de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
Diversas empresas funcionam hoje nos entornos das plantações de algodão, gerando empregos para a população, desenvolvendo tecnologias para melhorar a produção e garantindo reservas naturais equivalentes a área de plantio, além de usarem a rotatividade dos solos para não causar empobrecimento com a monocultura.
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Sendo um produto que praticamente não gera resíduos sólidos descartáveis, as indústrias fazem o aproveitamento desde a pluma do algodão para roupas, até o óleo da semente para o ramo alimentício, e ainda, transformando o que resta dos processamentos do produto para adubação das próprias lavouras.
Para além do reconhecimento e destaque sobre o produto, que tem certificação sustentável reconhecida mundialmente, grande parte da produção de algodão baiana também tem selo de destaque social.
Trazendo dezenas de aspectos positivos para o estado e a região, principalmente, para a população local, e preocupando-se ainda com incentivos e melhorias na infraestrutura das cidades e a qualidade de vida dos habitantes, a revitalização de estradas e asfaltos é uma prática que vem crescendo anualmente.
Além disso, diversos programas e atividades são desenvolvidas pelas associações locais para trazer benefícios para a população. Em 20 anos, o índice de desenvolvimento humano (IDH) de cidades como Barreiras e Luis Eduardo Magalhaes praticamente dobrou.
Em coletiva com Júlio César Busato, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA), ele contou um pouco sobre as conquistas e crescimentos das cidades que convivem com a riqueza deste produto. Em 1987, Luís Eduardo Magalhães “era um posto de gasolina isolado no meio do cerrado”, comentou Júlio. “Hoje se transformou numa cidade de 100 mil habitantes, terceiro IDH da Bahia e a maior arrecadação” quanto a economia na região oeste no estado.
“O maior patrimônio das fazendas são as pessoas”
– Júlio César Busato
A BAHIA COMO TERRITÓRIO DO REINO
A cotonicultura se instalou no estado há cerca de 30 anos, num período em que se descobriu as terras férteis e favoráveis para a agricultura, num momento em que elas custavam muito pouco – em comparação aos dias de hoje.
Essa foi a grande motivação para que muitas famílias, principalmente vindas do sul do Brasil, se instalassem no oeste baiano e iniciasse suas plantações. Hoje, grande parte das fazendas e das empresas envolvidas no cultivo e produção de algodão e seus derivados pertencem a essas famílias.
Essa estratégia de começar o investimento em terras desvalorizadas para depois crescer para uma grande produção foi usada por Ricardo Alves, um dos produtores da região de Luís Eduardo Magalhães, para realizar seu sonho de infância em ver uma grande extensão de terra sendo de uma única pessoa.
Ele contou que quando chegou na região havia apenas poucas estradas e a vegetação do cerrado e foi preciso começar toda a estrutura do zero para implantar a cotonicultura e as outras plantações que fazem rotatividade de solo nos seus terrenos. “São 20 anos de muito trabalho”, completou ele.
A população local foi, e ainda é, de grande relevância para essas produções. Principalmente no algodão, que exige muito trabalho manual, existe uma empregabilidade grande em todos os ramos e etapas que envolvem desde a colheita até a venda dos produtos.
Uma lavoura de algodão emprega três vezes mais que uma de soja ou milho, apontou Ricardo como exemplo. Apenas na fazenda dele, que é um médio produtor, cerca de 160 famílias são beneficiadas diretamente.
Para Ricardo faz parte do lucro levar apoio e melhorias para o ambiente social. Para ele, com o potencial da região oeste, esse é só o início da história.
“Se a gente está fazendo sucesso, é porque a gente está levando benefício para alguém”
– Ricardo Alves
NOBREZA EM FORMA DE TECNOLOGIA
As máquinas e equipamentos usados nas lavouras são da mesma tecnologia usadas pelos países líderes em produção, comentou Júlio Busato. Um grande diferencial no uso da tecnologia de ponta é que com ela as perdas são quase inexistentes na hora da colheita e beneficiamento.
Além disso, A ABAPA tem hoje o maior laboratório de algodão da América Latina, com 14 máquinas que avaliam e classificam as plumas de cada lote. Alcançar esse patamar foi um grande desafio para implantar e destacar a cotonicultura na região, de acordo com o presidente da Associação.
Atualmente, há também o desenvolvimento laboratorial para o uso de bactérias nas lavouras que estará sendo implementado ainda esse ano. Esses seres tem o objetivo de reduzir a quantidade de defensivos químicos contra insetos usados na plantação e trarão economia também para os produtores, além de menos impactos ao ambiente.
CRISES NA TERRA DO ALGODÃO
Como uma planta muito delicada, o algodão muito facilmente pode trazer prejuízos para os envolvidos na sua produção. Altas temperaturas e muita umidade, por exemplo, podem incendiar uma plantação que dificilmente pode ser controlado, pois o algodão é inflamável. Outro grande risco é o ataque das pragas, que podem acabar com grande parte de uma lavoura, caso proliferam sem controle.
No ano passado, 4 milhões de hectares foram atacados pelo bicudo, um desses insetos que atacam as plantações de algodão. Em outros anos, essa mesma praga já trouxe problemas para a produção baiana e, por essa razão, um dos pilares da ABAPA hoje, em apoio aos produtores da região, é o programa fitossanitário, que visita as lavouras a cada 15 dias para fazer a prevenção contra pragas.
Anualmente, 5 milhões de reais são investidos nesse projeto para garantir o cuidado com o combate das epidemias nas plantações de algodão da Bahia.
SUBINDO NO TRONO
“Nós dobramos a produção de algodão nos últimos três anos”, relatou Júlio Busato sobre a perspectiva do Brasil. Segundo ele, o país tem grande potencial para o futuro na cotonicultura, podendo ultrapassar outros países do ranking mundial. O relatório “Projeções do Agronegócio”, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, enxerga a cotonicultura com uma perspectiva de crescimento para os próximos anos, inclusive para a Bahia.
A cada ano a produção de algodão vem aumentando no estado e trazendo resultados recordes em colheitas e arrecadação. A tecnologia que vem sendo desenvolvida tanto para os cuidados com a produção, como para melhorias dos processos industriais, é uma das chaves para esse sucesso.
Cerca de 40% do algodão baiano é exportado para a Ásia e os outros 60% são vendidos para empresas têxteis aqui no Brasil. “Nós vamos ser o primeiro, é só uma questão de tempo”, disse Júlio, presidente da ABAPA, sobre as perspectivas que tem para o futuro do Brasil como exportador mundial do produto, que atualmente ocupa o segundo lugar.