Durante palestra na Arena Jovem, neste domingo (28), o escritor Raphael Montes conversou sobre seu recente filme “Uma Família Feliz”, planos para direção de um filme próprio, seu processo de escrita e muito mais
Por Ana Júlia Vital e Íssala Queiroz
Revisão por Gabriel Ornelas
No Domingo (28), terceiro dia de Bienal, aconteceu às 11 horas, no Centro de Convenções de Salvador, a mesa “A arte de cometer um crime perfeito” com o escritor e roteirista Raphael Montes para falar um pouco sobre suas obras literárias e seu mais novo filme “Uma Família Feliz”, o bate-papo contou com a mediação do escritor, poeta, educador e quadrinista Anderson Shon.
Raphael Montes revelou amar Salvador e afirmou que a cidade tem uma energia diferente, que inclusive sempre comemora o 2 de Fevereiro na capital baiana.
“É a melhor maneira de começar o meu ano, me faz querer morar aqui” disse o escritor.
Autor de 8 livros até o momento, Raphael Montes é um dos grandes nomes da literatura brasileira da atualidade, com livros de temáticas voltadas ao suspense e horror. Ele nos leva aos mais obscuros momentos, mas que sempre se mantém muito pé no chão fazendo com que tudo seja extremamente real. Montes tem em seu currículo um trabalho como produtor executivo da série de enorme sucesso “Bom dia, Verônica” e do filme “Uma Família Feliz”, que gerou o livro de mesmo nome.
Durante a mesa houve um foco muito grande no seu último lançamento, o livro “Uma Família Feliz”, e o escritor surpreendeu a todos ao ser questionado sobre sua família. Ao contrário do que muitos pensam, seus pais não foram grandes leitores, sendo descritos pelo próprio como “Bon Vivant”, nem sequer gostavam de ler e não acreditaram quando o filho disse que queria ser escritor. Raphael ainda contou que começou a gostar de ler e escrever ao mesmo tempo aos 12 anos e se encantou por livros como Sherlock Holmes e Agatha Christie.
Um dos pontos que foi muito citado durante a palestra foi sobre o processo de escrita de “Uma Família Feliz”, um livro em primeira pessoa na perspectiva de uma mulher grávida. Montes aproveitou para contar sobre a mágica da ficção literária e a liberdade que vem dela.
“Eu acredito na ficção literária, que você como escritor pode escrever sobre qualquer coisa, você pode se colocar nesse personagem. Essa é a delícia da literatura: vestir corpos e cabeças diferentes do meu”.
Raphael ainda teceu críticas sobre a sociedade, principalmente em relação a elite como no novo livro, mas também em outras das suas publicações, como Jantar Secreto.
“[Jantar Secreto] é um livro que critica muito da elite de um jeito mais cruel, que tá muito de quando comecei a frequentar essa elite do Rio de Janeiro. Têm pessoas lá que foram inspiradas em pessoas reais, que leram e adoraram, mesmo que não se enxergassem de fato ali, mas vendo os outros ali perto como vizinhos ou até parentes”, afirma Montes.
Jantar Secreto conta com um protagonista gay, ainda que sua orientação não faça diferença para a história além de com quem ele se relaciona, Montes conta que ele era um cara normal, que sua sexualidade não deveria ser o foco principal para tecer a crítica, ela não estava ali para um caso de homofobia acontecer ou para dizer “homofobia é errado, você está errado por ser”, muito menos para ser apenas mais uma história triste.
“Jantar secreto, por exemplo, é um livro escrito em primeira pessoa por um homem negro e gay. O que muda ele ser gay? Nada, só com quem ele dorme e isso não faz diferença. É um livro muito lido por conservadores e eu já ouvi, por gente homofóbica, falando para ler o livro que abriu a mente, mas não é algo de outro mundo, algo diferente e destrutivo.” relatou Montes durante a palestra.
“A gente como público tá cansado de sempre as mesmas histórias: gay sofrendo, chorando, não! Também queremos gays trambiqueiras, canibais, empinando moto, tudo!”, completou o escritor.
Após a conversa sobre os livros, Raphael Montes contou um pouco mais sobre sua relação com os filmes. O próprio disse que “Família Feliz “ começou em 2015, mas que demorou em torno de 5 anos para conseguir o financiamento do filme, pois ainda é muito difícil fazer cinema no Brasil.
O produtor e escritor revelou a alegria de ver um retorno tão positivo de suas produções, como na série “Bom dia, Verônica” e nos filmes “A menina que matou os pais”, “O menino que matou meus pais”, “Família Feliz”, entre outros, e se diz ansioso pela estreia da sua primeira novela no streaming, “Beleza Fatal”.
Ele ainda revelou ter uma lista de ideias para livros, filmes ou séries, mas que está indeciso sobre o que fazer.
“Tenho uma lista em torno de 12 ideias para livros, filmes ou séries, ainda não decidi o que pretendo fazer, mas podem aguardar que boas coisas possam vir a acontecer.”
Por fim, ele encerrou a mesa dando uma dica para os futuros escritores.
“Leiam muito, escrevam muito, mesmo que não achem tão bom. Eu também acho que é importante mostrar para quem gosta de ler, ter opiniões e até mesmo ‘insights’ para o seu trabalho”.