Investimentos em tecnologia, rastreabilidade e qualidade da fibra consolidam o Brasil como o segundo maior exportador de algodão, com a Bahia desempenhando papel importante revolução algodoeira do país
Por: Stéphanie Oliveira
Nos campos do Oeste da Bahia, sob o forte sol do cerrado, uma transformação notável se desenrola entre as plantações de algodão. O estado está emergindo como um dos principais protagonistas na produção da fibra branca que veste o mundo.
Num passado não tão distante, em uma perspectiva histórica, o Brasil já foi o segundo maior importador de algodão do mundo, em 1996-1997, quando a produção nacional ainda estava em crescimento.
No entanto, o país mudou seu destino. Seus vastos campos produzem algodão de qualidade excepcional, graças a investimentos em tecnologia, qualificação, produtividade e rastreabilidade. Essa qualidade comprovada da fibra é um dos pilares que garantem a confiança dos compradores, tanto no mercado interno quanto no externo.
A safra 2021-2022 marcou um feito admirável, o Brasil alcançou a posição de segundo maior exportador de algodão global. Esse salto produtivo é uma consequência direta desses investimentos contínuos em pesquisa e inovação tecnológica, que estão revolucionando a abordagem dos agricultores baianos no cultivo dessa fibra versátil e valiosa.
A qualidade da fibra
Por trás do sucesso do algodão brasileiro, há uma força conjunta que uniu esforços para transformar o Brasil em um dos maior exportador de algodão do mundo. Essa força é representada pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e suas associadas, que desempenham um importante papel na organização do setor, na defesa dos interesses dos cotonicultores e na promoção do algodão brasileiro em escala global.
A busca constante pela excelência e pela satisfação dos consumidores levou à consolidação desse sucesso. Na Bahia, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), sugere em 2000, como um dos principais pilares para o desenvolvimento da cotonicultura da região, implementando programas permanentes com o intuito de valorizar a fibra branca nos campos da Bahia.
Um desses programas, o Sistema Abrapa de Identificação (SAI), foi concebido em 2004 e desempenha um papel fundamental na garantia da qualidade e na rastreabilidade do algodão brasileiro.
O SAI concentra e emite etiquetas com códigos de barras que conferem uma identidade única aos fardos de algodão produzidos no Brasil. Essa rastreabilidade não apenas reforça a confiança dos compradores e consumidores, mas também destaca a responsabilidade e o compromisso da indústria algodoeira brasileira em entregar um produto de excelência.
Através da parceria entre a Abrapa e suas associadas, o Brasil não apenas produz algodão de alta qualidade, mas também assegura que cada fardo carrega consigo a marca da excelência que se tornou sinônimo do algodão brasileiro. Um compromisso que transcende fronteiras e solidifica o país como uma potência global na produção de algodão.
Em 2005, nasceu o Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que posteriormente, em 2012, passou por uma expansão significativa. Esse programa certifica e orienta as fazendas produtoras de algodão de acordo com critérios sociais, ambientais e econômicos, reforçando o compromisso do setor com a sustentabilidade.
Para aprimorar ainda mais a qualidade do algodão brasileiro e aumentar a transparência nos resultados, a Abrapa e suas associadas criaram, em 2016, o Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI). Focado na uniformização da classificação da pluma brasileira, esse programa visa oferecer mais confiança e credibilidade ao algodão produzido no país.
Utilizando o High Volume Instrument (HVI), um equipamento eletrônico de análise de amostras de algodão, o SBRHVI atende às demandas de pesquisadores da Empresas de Pesquisa Pública, Fundações e Produtores (Embrapa), garantindo a precisão e confiabilidade das medições.
O oeste da Bahia se destaca como uma das principais regiões produtoras de algodão no Brasil. Com a segunda maior produção do país e reconhecido por sua qualidade algodoeira, a cotonicultura da região tem à disposição o maior laboratório de classificação de fibra da América Latina, localizado em Luís Eduardo Magalhães.
Esse laboratório faz parte do Programa Standard Brasil HVI, contribuindo para a uniformização da classificação e para a consolidação do algodão brasileiro como um dos melhores em qualidade e na busca por transparência e rastreabilidade em cada fardo de algodão. Esse compromisso dos produtores baianos, com o apoio da Abapa, visa elevar ainda mais o algodão brasileiro no mercado externo, consolidando-o como uma referência de excelência e sustentabilidade.
Rastreabilidade
No complexo mundo da produção de algodão, garantir a rastreabilidade e transparência dos resultados é fundamental. Para atingir esse objetivo, cada produtor deve se cadastrar no Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que submete sua produção a uma análise de um rigoroso protocolo composto por 178 itens técnicos e socioeconômicos.
Uma vez certificados, esses produtores tornam-se parte de um sistema que garante a transparência de todo o processo. Além disso, a rastreabilidade é refinada nas usinas de beneficiamento, que também participam nesse processo. Cada usina é cadastrada no Sistema Abrapa de Identificação (SAI), que gera códigos únicos para cada usina e numeram os fardos de algodão.
Sérgio Alberto Brentano, gerente de classificação da Abapa, destaca que o processo de rastreabilidade começa exatamente nesse ponto, nas usinas de beneficiamento. É lá que cada fardo recebe uma identificação única, garantindo que sua jornada pela cadeia de produção seja completamente rastreável e transparente.
“Cada fardo de algodão produzido recebe uma identificação, em seguida a usina de beneficiamento inicia processo de informação de rastreabilidade, exemplo: qual foi a origem do algodão, produtor, a usina e o talhão da fazenda, todas essas informações estão ligadas ao número do fardo. Cada etiqueta colada no número de fardo, é destacado uma etiqueta menor, e é colocado dentro da amostragem que foi tirado do fardo”, explica Brentano.
Dentro do beneficiamento, são separados dois tipos de amostra de algodão para a classificação: a primeira é feita a classificação visual e a segunda amostra é levada para o Centro de Análise da Abapa.
Pensando em rapidez e qualidade, o Centro adquiriu o equipamento HVI na década de 90, responsável em determinar a qualidade da fibra do algodão e características, com melhoria do equipamento e evolução hoje em dia a análise é feita a cada 30 segundos.
As informações obtidas no processo de análise geram estáticas, com base nessas pesquisas, os produtores e os compradores podem visualizar o desempenho e qualidade, que está disponível no site da Abapa.
Fernanda Zanotto, diretora da unidade de beneficiamento Zanotto Catton, localizada no oeste da Bahia, relata como acontece o englobamento de informações das amostras.
“Quando o laboratório devolve o resultado das análises, é feito o englobamento, que nada mais é a reunião dos fardos de mesma qualidade, mesmas características, para que seja informado um lote homogêneo”, explica Zanotto.
O programa SBRHVI atesta a competência técnica do laboratório, e permite a rastreabilidade de um nível internacional. Esse processo gera uma transparência ao cliente final, exigindo uma maior participação do produtor, sendo assim o produtor poderá publicar seus lotes e links aos seus clientes. Através deste programa o produtor contribui com a consolidação da rastreabilidade, qualidade, transparência e valorização do algodão.
Todos esses métodos buscam a qualidade do algodão, a eficiência e a transparência da fibra, tanto para o produtor quanto para quem compra. Alessandra Zanotto, vice-presidente da Abapa, explica como todo esse processo de rastreabilidade pode trazer benefícios aos produtores rurais de algodão.
“A gente busca o máximo de informação que produtor pode passar para gente, para ser registrado no sistema, para que essas informações elas sejam unidas as informações do beneficiamento, ou seja porcentagem de pluma que saiu do algodão por exemplo, com essas informações o produtor tem acesso e entenda o resultado da colheita e de todo o plantio”, declara a vice-presidente.
Novo programa
Green Card, um novo programa de rastreabilidade, é um selo sancionado pelo governo juntamente com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que certifica que o algodão é realmente rastreável e todas informações do processo são fidedignas.
No Brasil, o novo programa de rastreabilidade, começou no ano passado com um projeto piloto com um produtor do Brasil, porém só neste ano a plataforma ficou disponível para os produtores que quiserem aderir.
Alessandra Zanotto, destaca que este programa pode ser um dos pontos para que o Brasil saia de segundo exportador, para ser o primeiro maior exportador de algodão.
“Esse programa, vai fazer com que a gente ganhe mercado, cada vez mais cresça e, em breve, podemos conquistar o topo na exportação”, estima a vice-presidente da Abapa.