As trezenas a Santo Antônio configura-se uma referência cultural que se mantém viva há muitos anos
Por Monique Sousa
Revisão: Vinícius Daniel
Entre tributos e orações, os devotos se preparam anualmente para comemorar o dia do Santo, em 13 de junho. Como tradicionalmente acontece no Casarão da Escola de Belas Artes – EBA, no Canela, o evento traz na programação rezas cantadas e a exposição Antônio! Tempo, Amor e Tradição.
A partir do diálogo entre a tradição e a contemporaneidade, as religiões (católicas e afro-brasileira), a arte, saberes e fazeres populares, a comemoração ganha vida. As trezenas da EBA constituem-se em iniciativa da salvaguarda desse importante patrimônio imaterial baiano.
Ocupando espaços além das igrejas e residências, o evento adquiriu características próprias, genuinamente baianas, tais como: criação e montagem de altares transitórios, musicalização das orações “rezas cantadas”, inserção de instrumentos musicais, baile e de gastronomia, com elementos da culinária junina, como licor, mingaus e bolos.
Altares para Santo Antônio. Foto: Camila Guerreiro
Santo casamenteiro
Além da já citada trezena, há também a crença popular de que Antônio é o santo casamenteiro. Muitas pessoas ainda deixam a imagem do santo de cabeça para baixo até arranjar um marido, e Santo Antônio segue inspirando canções com rogos de amor.
Pedidos para Santo Antônio. Foto: Camila Guerreiro
“Para a Igreja (Católica) Santo Antônio é um exemplo de despojamento e serviço ao próximo, seguindo os passos do grande mestre, São Francisco. Ambos os santos, abdicaram de enorme riqueza e prestígio para servir a Cristo Jesus nas pessoas mais necessitadas da sociedade”, relata Márcio Leite, devoto do Santo.
Apesar de não ter em seus sermões nada específico sobre casamentos, Santo Antônio ficou conhecido como o santo que ajuda mulheres a encontrarem um marido, por conta da ajuda que dava a moças humildes para conseguirem um dote e um enxoval para o casamento. Por isso tudo, virou o protetor dos namorados e das solteiras.
“Participar das trezenas com fé e devoção, é possível obter a intercessão de Santo Antônio em várias áreas da vida, especialmente nas relacionadas ao amor”, relata Maria Graça, devota do santo.
Importância da tradição
A devoção a Santo Antônio chegou à Bahia, no século XVI, através dos colonizadores portugueses e da ordem Franciscana. Mas foi no século XVIII, no Recôncavo Baiano, que as Trezenas [rezas durante 13 dias, entre 1 e 13 de junho] passaram a acontecer nas casas de engenhos, distante das práticas litúrgicas das igrejas.
“É importante que as trezenas de Santo Antônio persistam ao decorrer dos anos para que se transmita esse exemplo de vida espelhada no mestre Jesus, para que vençamos cada vez mais a realidade do individualismo que prevalece em nossa sociedade”, completa Márcio Leite.
Entende-se por tradição aquilo que é passado de geração em geração. Devido às suas características e importância para os devotos e participantes, as trezenas a Santo Antônio configura-se uma referência cultural que se mantém viva há muitos anos nas casas, igrejas e às esperanças manifestadas na fé comunitária.
“A importância pra mim é a manutenção das tradições. A relação dos Santos Juninos com o baiano é muito singular e estreita. São nossos “padrinhos e protetores”. Pessoalmente, me recordo do interior, da minha infância quando acompanhava minha mãe nas noites de trezenas. Tem um gosto de família reunida e de amor”, relata Camila Guerreiro, participante da trezena.
Camila fazendo um pedido ao santo. Foto/arquivo pessoal.
Mas independente do resultado específico que se espera alcançar através das rezas, para os fiéis o mais importante é cultivar uma relação de fé e confiança com o santo e com Deus.
“As trezenas são um momento de renovação da fé”, finaliza Maria Graça.
A programação completa da exposição com dias e horários, pode ser encontrado no instagram @santoantonioeba