Vídeo com tartarugas filhotes desnorteadas viralizou nas redes sociais. Moradores locais comentam não ser a primeira vez que isso ocorre
Por Luiz Guilherme Leal
Revisão: Luísa Mendes
No final de abril, circulou um vídeo nas redes sociais que mostrava filhotes de tartarugas marinhas transitando, desnorteados, pelo calçadão da orla de Stella Maris. Após a viralização do registro, outros moradores locais comentaram que já presenciaram situações semelhantes. Como é o caso da microempreendedora Paula Costa, que conta que, há mais de 17 anos trabalhando nas proximidades, já presenciou mais de uma vez casos como esse.
“Já tiveram situações antes da requalificação da orla. Eu já peguei filhotes de tartaruguinha andando lá em cima, andando pelo asfalto, não na principal, mas próximo a entrada do condomínio que tem ao lado do Gran Hotel”, relata Costa.
Paula acredita que a luz dos postes e condomínios são fator determinante para essa situação e se declara contra construções em áreas de reserva.
“Sou contra a projetos de construção nas áreas de reserva. Porque isso já acontecia antes e, provavelmente, esse fenômeno, como o que guia elas é a luz da lua, poderia ser a luz dos próprios condomínios e dos postes de luz”, declara Paula
“Olha, se a gente parar pra pensar que a luz de um poste, de um condomínio pode impactar na natureza, que dirás as luzes das sacadas de varanda de um prédio”, completa Paula Costa.
Por que a luz artificial é tão prejudicial às tartarugas?
O biólogo Bruno Oliveira explica que os animais são guiados pela luz da lua e luzes artificiais podem acabar confundindo-os e acarretando sérios problemas.
“As tartarugas marinhas têm fototropismo positivo, ou seja, são atraídas pela luz. Em condições naturais a luz evidente é a da lua, que acaba guiando-as ao mar.”, explica Oliveira.
“Em caso de desova próximas às áreas urbanas é comum esses animais serem atraídos pelas luzes da cidade e seguindo o sentido oposto em relação ao mar. O problema mora aí, pois muitos deles podem ser atropelados ou caçados por animais domésticos”, complementa o biólogo.
Oliveira também destaca que o asfalto pode ser prejudicial também, pois pode atrapalhar a locomoção do animal. “O asfalto pode ser confundido com a areia molhada próxima a faixa de alcance das ondas, além de ter uma textura que prejudica a locomoção dos animais”, explica Bruno Oliveira.
Bióloga e membro da equipe do Projeto Tamar (Tartaruga Marinha), Nathalia Berchieri explica que a má iluminação de Salvador é a principal ameaça para os répteis.
“A área de Salvador, historicamente, possui problemas com iluminação artificial e ocupação desordenada, hoje são as principais ameaças na vida das tartarugas marinhas”, declara Berchieri.
A bióloga conta que, após a requalificação da orla, melhorou, mas ainda falta mudar algumas coisas. “Mesmo após a requalificação da orla, onde se seguiu as recomendações do ICMBio (instituto Chico Mendes de conservação da biodiversidade), podemos observar pelos postes das novas orlas que possuem anteparo para bloquear que a luz chegue na praia. Houve melhoria, mas ainda precisam adequar a cor da lâmpada e a intensidade “, comenta Berchieri.
O que fazer caso se depare com uma tartaruga perdida na orla?
Nathalia explica qual a primeira atitude que se deve tomar: “A recomendação que damos para as pessoas que encontram qualquer ocorrência de tartaruga marinha na praia, a primeira coisa é ligar para a fundação, que nossa equipe fará as recomendações para cada situação” explica a bióloga
Número da fundação: 71 98127-0038
“No caso de filhotes desorientados, após o contato com a equipe, é levá-los até o mar e sem lanterna do celular”, completa Nathalia Berchieri.