Tratamento usa da musicalidade para trabalhar adversidades e promover saúde
Por Luís Felipe Guimarães
Revisão: Antônio Netto
A musicoterapia é a utilização da música e seus elementos, como o ritmo, a harmonia e a melodia de modo a promover a saúde, por um profissional qualificado. O musicoterapeuta vai utilizar todos esses elementos musicais como uma linguagem terapêutica.
O tratamento pode ser aplicado com todos os públicos, desde pessoas em gestação até quem precisa de cuidados paliativos. Também é muito comum sua utilização em casos de Autismo, Síndrome de Down, Parkinson e Alzheimer.
Não só a música é utilizada como ferramenta para a prática, mas os sons do cotidiano também têm um papel fundamental dentro do percurso.
“Tem pessoas que passaram a vida toda escutando som de trem, sino e isso faz parte da história da pessoa, traz lembranças da infância ou de momentos em específico”, explica Marcos Barbosa, musicoterapeuta do Hospital Espanhol.
Para Maria Patrícia Hita, musicoterapeuta há mais de 10 anos, o método ajuda no processo de autoconhecimento e no suporte para aquisição de processos de desenvolvimento pessoal, coletivo, saúde e bem estar.
Hita revela que a música foi se confirmando no processo de organizar, superar e acalentar, à medida que se trabalhava com ela. Nesse meio tempo, com o nascimento de seu filho caçula, ela verificou a importância da utilização desse recurso.
“Ele tem transtorno do espectro autista, [a música] foi o suporte para ajudar no seu desenvolvimento”, diz a musicoterapeuta. “Então a musicoterapia foi a área que me fez encontrar as respostas e confirmações deste poder”, completa.
O musicoterapeuta e diretor da Associação Baiana de Musicoterapia (ASBAMT), Ricardo Romanha, conta que a memória musical, juntamente a memória afetiva, é a última a ser perdida. Portanto, trabalhar essas questões é muito eficaz no tratamento de Alzheimer.
“Trabalhamos muito [no Alzheimer] com essa neuroplasticidade através da música, que passeia pelo cérebro como um todo”, explica Romanha.
O método pode ser aplicado em um ambiente organizacional, procurando trabalhar com o público determinado, questões como respeito e a integralidade do grupo como um todo.
É muito comum ver a musicoterapia sendo feita em hospitais, como no pré-luto, pré-natal e gestação. Mas também presente na reabilitação de quem sofreu AVC, acidentes e traumas.
“A gente traz essa dignidade para aquele paciente onde já se esgotou todos os recursos”, relata Romanha.
Além disso, segundo Marcos Barbosa, a prática da terapia musical ajuda a humanizar o serviço, conseguindo adentrar nos processos e melhorar os relacionamentos. Trazendo leveza, acolhimento e diminuindo a ansiedade.
Como funciona as sessões?
A sessão é trabalhada como qualquer terapia. Primeiro é realizado uma avaliação, para depois ser feito um relatório e se analisar as demandas e os processos terapêuticos. Só depois disso, o musicoterapeuta traça um plano e os objetivos.
Nas entrevistas iniciais também é feito uma investigação para entender a sonoridade do paciente, colhendo informações do que se gosta de ouvir e o histórico dele.
“Toda pessoa tem uma história sonora. Desde a gestação vamos criando uma paisagem sonora, onde vamos explorar para saber os estilos que vamos trabalhar nessa demanda”, explica Romanha.
O musicoterapeuta, conta que com o autismo as sessões são pautadas muito na comunicação e a interação social. Com o fazer musical e com canções, é ampliado o vocabulário e a questão verbal é estimulada.
Robson Freitas, musicoterapeuta, ressalta que não há fórmulas prontas e que todo o processo é feito de forma pessoal. Cada pessoa é única, irrepetível.
Durante todo o processo é utilizado instrumentos de avaliação, a fim de acompanhar a evolução do paciente e cumprir com os objetivos traçados.
“Após criado um vínculo [o musicoterapeuta], lança de mão de uma série de protocolos e avaliações para a construção do planejamento terapêutico do paciente. É considerada seu processo de desenvolvimento e manutenção da sua capacidade funcional”, explica Freitas.
Nas sessões, é levado em conta a preferência musical do paciente. Assim, não tendo restrições nos estilos usados durante o tratamento.
“Se ele gosta de funk, vamos trabalhar com o funk. Se ele gosta de pagode, vamos trabalhar o pagode. A gente trabalha todo tipo de música para um fim terapêutico”, esclarece Romanha.
O profissional
A musicoterapia só pode realmente ser verificada com a presença de um profissional graduado ou pós-graduado na área. Para que possa ser conduzida de forma segura.
“Muitas vezes o que acontece é alguém, de alguma outra área, utilizar música em uma atividade e a nomear como musicoterapia, o que é um equívoco”, alerta Barbosa.
Romanha ressalta que a música pode não causar bem ao indivíduo. Existem patologias, nas quais determinadas frequências sonoras podem gerar danos a uma pessoa. Portanto, o musicoterapeuta qualificado vai ter esse discernimento e conhecimento para atender cada paciente.