O assunto tem dividido opiniões entre familiares e especialistas em educação
Por Pedro Mendonça
Revisão: Antônio Netto
Salvador terá sua primeira escola especial voltada para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), no bairro do Stiep. A estimativa da Prefeitura é que, com a nova unidade, haja a ampliação do atendimento de 145 para mil alunos autistas na capital.
A educação especial é a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
O objetivo da educação especial é o mesmo da educação em geral. O que difere, no entanto, é o atendimento, que passa a ser de acordo com as diferenças e necessidades especiais do aluno.
Entretanto, esse tipo de educação tem dividido opiniões sobre o que é melhor para as crianças com deficiência, pois as famílias acreditam que uma escola específica poderia atrapalhar aqueles que lutam por inclusão em uma escola regular.
A psicóloga Iracema Moura, que atua em núcleo de apoio psicológico e inclusão, explica como surgiu o conceito de “escolas especiais”:
“Como a escola regular não se abria para a maioria das pessoas, então consideradas “doentes”, surgiu a escola especial, como espaço exclusivo para as crianças e jovens cuja deficiência motivou a sua exclusão da escola regular, sob a justificativa da necessidade de um atendimento especializado.”
Para a profissional, as escolas especiais deveriam ser vistas apenas como escolas, sem rótulos.
“A educação aproxima os alunos, de forma que aprendem a lidar com o diferente, com mais empatia e espírito de colaboração. Portanto, acho que as escolas não deveriam receber o título de escolas especiais e sim de escola, sem rótulos e sem segregação”, declara Moura.
Mércia Peixinho, que é professora e trabalha na área de inclusão escolar, explica a diferença entre uma escola inclusiva e outra especial:
“A escola especial visa atender um público específico, crianças com algum tipo de necessidade. Tem um olhar compartimentalizado do ser humano. A escola inclusiva dá oportunidade a todos os alunos da escola, para que todos se sintam valorizados e tenham uma atenção individualizada.”
Ao mesmo tempo, Mércia que também é mãe de dois filhos comuns, declara não acreditar neste modelo de educação especial.
“Penso que as crianças com qualquer tipo de necessidade devem ter seu direito à educação garantido em uma escola inclusiva. Não acredito que a escola especial seja um boa opção. Não devemos separar achando que estamos fazendo o melhor. Devemos incluir “de verdade”, declara Peixinho.
E complementa: “As escolas devem formar seus professores para terem um olhar inclusivo. Devem respeitar um número de crianças e jovens nas salas, devem oferecer atividades adaptadas, quando necessário. Todas as crianças devem ter o seu direito à educação garantido.”
O Projeto Fantástico Mundo Autista (FAMA) é uma instituição que acolhe pessoas com autismo, tendo como principal objetivo a inclusão destas pessoas no mundo do trabalho.
Patrícia Teodolina, fundadora e idealizadora do FAMA explica que o projeto surgiu devido a percepção de haver poucas iniciativas, sejam públicas ou privadas, voltadas para o público juvenil e adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Não gosto muito desse termo especial porque denota algo fora do comum e, verdadeiramente, as pessoas que apresentam alguma limitação, seja motora, sensorial, cognitiva ou psicossocial, têm uma característica específica, mas que não a definem. Elas são pessoas como todas as outras com fortalezas e fraquezas”, declara Teodolina.
Para a idealizadora do projeto, as organizações do terceiro setor não devem ser vistas como instituições especiais, mas sim, empresas cujo capital é o negócio social.
“[Essas organizações] existem para fomentar desenvolvimento, diminuir desigualdades e preconceitos, defender direitos das minorias como o trabalho, educação, saúde entre outros. Enquanto empresas, necessitam do recurso financeiro para manter seus ideais. Enquanto agente de transformação, executam um trabalho importantíssimo e necessário para que tantos que estão à margem da sociedade encontrem seus espaços, fortaleçam-se e brilhem!”, completa.
A psicóloga Iracema Moura aconselha pais que têm filhos com deficiência a “buscar escolas, onde tenha na sua equipe um profissional de psicologia e psicopedagogia, para que o aluno e a família sejam acompanhados e que a troca entre família e escola possam servir como base para um bom resultado”.
“Eu diria que o processo pode não ser fácil, que o período de adaptação é importante e muitas vezes doloroso, mas que as conquistas alcançadas serão para sempre, e que com certeza os progressos no aprendizado nas relações interpessoais e individuais ficarão como legado. Acreditem no potencial dos seus filhos, eles irão longe, basta entender os processos e seguir fazendo valer os seus direitos. A educação está para todos”, incentiva a psicóloga.