A instituição tem como principal missão construir moradias, transformando a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade; saiba como ajudar
Por Beatrice Magalhães
Revisado por: Matheus Bonfim
A TETO é uma organização sem fins lucrativos que atua em quase toda a América Latina, criada em 1997, por um grupo de jovens chilenos. Atualmente a instituição está presente em 19 países, entre eles o Brasil. A instituição é conhecida pela sua missão de erradicar a pobreza e promover dignidade a comunidades em situação de desamparo.
Para isso, em um trabalho conjunto entre voluntários e moradores das áreas assistidas, são realizados projetos de infraestrutura e construção de moradias emergenciais, a principal atividade. Todo esse programa apenas é possível através de arrecadações de doações, conhecidas como “coletas”.
Enrique Rodrigues, aluno de Publicidade e Propaganda da UNIFACS, ex-embaixador da Bahia e integrante ativo da equipe de gestão de comunidade da TETO, explica que, embora seja um dos fundamentos do projeto, existem muitos outros papéis além do voluntariado.
“A TETO é dividida em setores. A gente tem sete macro áreas: voluntariado, gestão comunitária, habitat, recursos, comunicação, diagnóstico e construções. O maior projeto da instituição é a construção de moradias emergenciais, porém a gente entende que o trabalho é muito além disso”, explica Rodrigues.
Para que as construções tenham um impacto efetivo na vida dos moradores da comunidade assistida, a organização trabalha com outras demandas além de moradia.
Projetos envolvendo infraestrutura, como captação da água da chuva, sede comunitária, horta comunitária, construção de escada, pontes e refeitórios, reforçam o slogan: “TETO não é só casa”.
Além de operações “manuais”, como as construções, a organização realiza todo um trabalho sociopolítico.
“A TETO não tem filiação partidária, mas temos que entender que tudo que a gente faz são projetos políticos a partir do momento que estamos trabalhando com uma luta por moradia, por direitos básicos, pela diminuição da desigualdade e pela erradicação da pobreza”, contextualiza Rodrigues.
Antes da pandemia da Covid-19, a equipe de voluntários se disponibilizava por todo um final de semana e se deslocava para as comunidades assistidas para, em conjunto com os moradores da região, realizar as construções.
Eram montados acampamentos em colégios dessas áreas e durante dois dias os voluntários participavam dessa experiência imersiva no espaço que estava recebendo o auxílio.
Ao longo do período de distanciamento social, isto é, de maior agravamento e disseminação do Coronavírus, a forma como o projeto era feito foi adaptado, sem o modelo do grupo de voluntários. Contudo, já estão retornando as construções imersivas como executadas anteriormente.
Como os projetos são financiados?
Para que os projetos da TETO possam ser realizados, a instituição depende da doação de capital por colaboradores e apoiadores da causa.
Na intenção de conseguir a maior quantidade de recursos possíveis, são realizadas campanhas de arrecadação, as chamadas “coletas”. São colocadas metas de valores a serem levantados e para cumpri-las é realizada uma forte divulgação da organização, suas atividades e pautas.
“A gente não quer só que você doe dinheiro, a gente quer que você se interesse e abrace essa causa junto com a gente”, esclarece Rodrigues, que em seu período de embaixador arrecadou com sua dupla mais de 18 mil reais.
A TETO busca se comunicar com todos os públicos, ilustrando como não é necessário ser financeiramente abastado para contribuir com o funcionamento dos projetos. Depois de captados os fundos necessários para que todos os setores da organização, as atividades de infraestrutura podem ser feitas.
“Entendemos que se você só tem R$1,00, se só tem R$2,00, juntando a gente consegue bater essa meta”, afirma Rodrigues.
Como funciona o voluntariado?
Como já dito, todo o ideal da TETO é pautado em trabalho voluntário. Para tanto, são realizados “mutirões” de inscrição, chamados de ciclo de voluntariado, duas vezes ao ano, um por semestre.
Existem quatro tipos de voluntariado: o permanente, pontual, corporativo e com colégio. O voluntário permanente atua regularmente em diferentes projetos oferecidos pela TETO e tem desempenho mínimo de seis meses, com carga horária de seis a oito horas semanais.
Já o pontual realiza a inscrição para uma atividade específica, geralmente construção, projeto comunitário ou campanha de divulgação. O corporativo e o com colégio são através da parceria com empresas e instituições estudantis.
Diante disso, grupos de trabalhadores e alunos participam como voluntários de algum projeto de construção específico e da arrecadação de capital com doações.
A idade mínima para integrar a equipe da TETO é 18 anos, porém, no caso de voluntariado com colégio, é reduzida para 16 anos com autorização dos responsáveis.
Por que contribuir com a TETO?
A TETO não está presente na Bahia somente em Salvador, mas também em Feira de Santana.
Isis Barbalho, feirense de 27 anos, engajada com os projetos e os ideais da instituição, se surpreendeu com a recepção e proatividade da cidade em relação à coleta. “Ficamos chocados como fomos recebidos, muitos até falavam: “Ah, conheço essa ONG! Vi no Luciano Huck. É a que constroem casas de madeiras, né?’”.
“Os voluntários ajudaram com todo gás em prol da causa e os próprios feirenses abraçaram bastante os projetos“, completa Barbalho.
Muitos dos colaboradores, sejam diretos ou indiretos, da TETO relatam o quão importante foi a imersão no projeto para o próprio desenvolvimento enquanto cidadãos. Nesse processo, também cresce um sentimento de indignação entre os que integram a instituição perante o abandono dessas comunidades pelas organizações públicas.
“Logo na primeira construção foi aquele ‘baque’ ao construir uma casa madeira de pouquíssimos metros quadrados. Com um único cômodo e sem banheiro e tão significativo para um ser humano e, em outros casos, até mesmo para uma grande família”, revela Barbalho.
Para Enrique Rodrigues, a atuação prática, ou seja, as construções imersivas e a gestão das comunidades, traz um novo olhar sobre a formação da sociedade brasileira.
“Se existem pessoas que estão vivendo a margem da pobreza e que voltaram ao mapa da fome, tem gente que está ganhando muito dinheiro e tem gente que está comendo muito bem. Então, assim, se a gente tem o mínimo para viver confortável e longe dessa margem da pobreza, a gente precisa entender que a gente tem essa dívida”, explica Rodrigues.
O ex-embaixador finaliza tratando da visão equivocada que a TETO e seus voluntários estejam na posição de “heróis” dos moradores das comunidades assistidas.
“Acho que a partir do momento que a gente abraça, se compromete verdadeiramente, e entende que o processo não é existencialista – de ir lá construir uma casa, abraçar uma criança, brincar com um cachorro e voltar para casa – quando a gente tem o compromisso de abraçar todas aquelas causas das comunidades, a gente consegue ter uma visão de mundo muito diferente”, pontua Rodrigues.