Monitoramento de áreas desmatadas e preservação ambiental são essenciais para o controle vetorial
Por Sued Mattos
Revisado por: Nalanda Rocha
Dengue, Zika Vírus e Chikungunya pertencem a um grupo de doenças denominado arboviroses, ou seja, patologias virais transmitidas principalmente por mosquitos.
Essas espécies típicas de climas tropicais, têm perdido seu habitat natural com o avanço do desmatamento, sobretudo na Bahia. O estado corresponde a 9,19% de todo o território desmatado do Brasil e aparece na quinta posição no ranking entre os estados brasileiros, segundo último relatório do MapBiomas.
A relação entre desmatamento e arboviroses
A Bahia tem em seu território biomas como Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, sendo o Cerrado, o atual alvo do desmatamento para a viabilização do agronegócio, principalmente no oeste baiano.
Para Washington Rocha, coordenador do MapBiomas Caatinga, a expansão da fronteira agrícola traz risco, principalmente aos que convivem na área de borda, ou seja, pessoas que moram em regiões próximas à área desmatada.
“O oeste da Bahia tem uma frente grande de agronegócio e essa frente está desmatando áreas naturais, até pelas próprias características desse tipo de exploração que é mecanizada e hiper irrigada. Só que a expansão implica em desmatamento, então nessas áreas de borda estão os riscos de transmissão das arboviroses”, explica Rocha.
Arboviroses e as cidades
O urbanismo de pavimentação excessiva e o alto número de edificações, também contribuem para que os arbovírus circulem com mais frequência nas cidades.
Manoel Messias, arquiteto e urbanista, explica que é preciso ter um olhar diferenciado da sociedade no que diz respeito a construções de imóveis e meio ambiente.
Há uma conexão direta entre esses dois ambientes e se essa ocupação ao território natural não for planejada, os danos, como é o caso das arboviroses, podem se tornar um grande problema.
“Nós temos que enxergar a urbanização de maneira orgânica, tem que olhar de cima e perceber que tudo está integrado, desde o bem estar dos cidadãos, a maneira como a gente se locomove e a maneira como a gente ocupa e consolida a cidade”, reitera Messias.
O arquiteto e urbanista conta que a atual região da Paralela, uma das principais de Salvador, sofreu com pavimentação excessiva e remoção de resquícios de Mata Atlântica que era característico do local.
“Em Mussurunga e no Bairro da Paz, se olhar por cima, estão pavimentados de maneira excessiva. Então o que vemos de maneira muito forte é que desmatamos sem analisar direito, sem ver o que está acontecendo. Colocamos fogo no solo e ajudamos a enfraquecê-lo”, expõe Messias.
O coordenador do MapBiomas, Washington Rocha, elucida que, a partir do desmatamento, as espécies podem sofrer mutações, ou seja, modificações e acabar afetando os que moram mais próximos a essas áreas.
“Nós temos o risco inicial, que sofrem as pessoas que estão na borda do desmatamento e o risco de intensificação disso é que haja essa mutação, essa transmissão e infecção dentro do próprio ambiente humano podendo ser um problema mais grave”, explica Rocha.
O combate à doença e a preservação ambiental
A coordenadora da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP) da Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB), explica que o estado está junto aos municípios baianos desenvolvendo ações para o combate dos arbovírus.
“Nós fazemos reuniões com as regionais e com os municípios, planejamos ações, publicamos materiais norteadores como portarias, alertas epidemiológicos e boletins epidemiológicos periódicos. É uma ação conjunta para que a gente consiga minimizar e mitigar possíveis situações caso a gente tenha alguma ocorrência grande em algum município”, conta Oliveira.
A SESAB conta com um Plano de Contingência vigente até o ano de 2023 para que estratégias sejam implementadas nesse enfrentamento, principalmente com a chegada do verão que se aproxima, período em que os casos de arboviroses costumam aumentar.
“O plano de contingência vem para ser um subsídio, um norteador para, dependendo da situação epidemiológica que o estado se encontre, ajudar a organizar os fluxos dos serviços e as necessidades que os municípios têm ou nós enquanto estado, justamente para que a gente possa fortalecer as ações”, expõe a coordenadora da DIVEP.
O coordenador do MapBiomas reitera que a sociedade deve se atentar aos riscos trazidos pelo desmatamento e que é preciso preservar para manter o equilíbrio ambiental.
“A sociedade tem que estar consciente dos riscos quando entra para desmatar um ambiente. Não só o risco de saúde, mas também o risco de desequilíbrio ambiental, fazendo com que as espécies invadam o nosso ambiente”, explica Washington Rocha.
O coordenador do MapBiomas ainda expõe a necessidade de outras iniciativas de monitoramento e produção de dados sobre o desmatamento surgirem para ajudar na preservação ambiental.
“A maior dificuldade que temos está no sistema de dados, os sistemas do Ministério da Saúde, estão defasados. Nós tentamos modelar a Chikungunya, imaginamos que seriam ameaças recorrentes e quando vamos nos sistemas que deveriam manter esses dados de ocorrências atualizados, a maioria deles estão desatualizados”, explica Rocha.
Manoel Messias conta que o atual modelo de arquitetura e urbanismo é pensar de forma responsável, com construções adequadas e ambientes salubres para habitação, já que existe ventilação e saneamento adequado. Porém, segundo ele, o mercado imobiliário ainda tem deixado essas questões na teoria.
“Não é isso que ocorre. Na prática, muitas vezes o mercado imobiliário está mais interessado em enxugar os custos e trabalhar só com o necessário, com o mínimo ou com o básico e muitas vezes a gente vê soluções que não atendem”, expõe Messias.
Situação epidemiológica
Segundo dados do Ministério da Saúde, fazendo um comparativo entre os últimos boletins de números 34 e 36 divulgados, houve um crescimento de 1,6% para Dengue e 1,4% para Chikungunya na Bahia.
Sandra de Oliveira, coordenadora da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP) da Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB), explica que o órgão faz o acompanhamento das arboviroses com base no monitoramento semanal e que atualmente o estado está fora do período de sazonalidade da doença.
“Nós tivemos no período da sazonalidade em alguns territórios, alguns municípios estão distribuídos em macrorregiões de saúde, em que tiveram o aumento de casos, ou seja, um comportamento epidêmico e que nós, junto com profissionais das regionais e dos municípios, fizemos ações intensificadas para que pudéssemos reduzir os coeficientes e assim a gente ter uma condição com índices dentro do esperado”, conta Oliveira.
O estado baiano é endêmico para arboviroses, ou seja, possui recorrência de casos, mas sem aumentos significativos.
É por meio do acompanhamento de casos suspeitos que o monitoramento realizado pela SESAB descobre quais macrorregiões são mais afetadas pelas arboviroses.
A coordenadora do DIVEP esclarece que no último boletim as macrorregiões com maior coeficiente de incidência pela Dengue foram o Oeste, o Sul, o Sudoeste e o Centro-Norte. No caso da Chikungunya, o Sudeste, Norte e o Extremo-Sul foram os que tiveram maior expressividade. O Zika Vírus teve maior incidência no Sudoeste, Sul e Centro-Norte.
“Algumas macrorregiões se assemelham ou estão inerentes para todas as arboviroses, algumas estão para uma apenas. Isso não significa dizer que as outras regiões não citadas não tenham registros, essas são as de maiores notificações de casos e a partir disso fazemos todo o monitoramento”, reitera Sandra de Oliveira.