Libras ganha visibilidade no país e reforça a necessidade de inclusão e representatividade
Por Íssala Queiroz
Revisão: Silvana Pinho
A procura pela Língua Brasileira de Sinais (Libras) cresceu exponencialmente em 2022, no Brasil. Segundo levantamento conduzido pela plataforma de idiomas Preply, cerca de 98 mil buscas foram realizadas no Google por brasileiros que se interessam em aprender Libras, tornando o segundo idiomas mais procurados no país, perdendo apenas para o inglês. Em terceiro lugar está o espanhol, que concentrou 46,6 mil pesquisas.
Através da plataforma Google Trends, o levantamento analisou mais de 11 milhões pesquisas realizadas no Google, entre janeiro e julho deste ano, sobre termos e palavras-chaves relacionados a cursos de idiomas. O estudo avaliou as pesquisas realizadas em todos os estados do Brasil e foram considerados somente palavras-chave em português.
Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram os que mais concentraram pesquisas relacionadas a cursos de Libras. No Nordeste, Bahia e Pernambuco foram os que mais buscaram. Na região Norte, estão os estados do Pará e Amazonas. No Sul, Paraná e Rio Grande do Sul estão liderando e, por último, o Centro Oeste, com Goiás e o Distrito Federal com as maiores pesquisas sobre Libras.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas surdas, no Brasil, passa dos dez milhões e, em 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a surdez atingia 54% de homens e 46% de mulheres.
Segundo a professora e intérprete de Libras, Morgana Freire, de 20 anos, “as pessoas estão começando a se interessar por libras”. “Acredito que seja tanto para a comunicação com os surdos, quanto para as áreas profissionais, principalmente de educação e saúde, quanto para preencher o currículo”, explica.
Além disso, Freire afirma que a Libras é fundamental para a inclusão de pessoas surdas em todos os ambientes e também traz benefícios pessoais no processo de aprendizagem.
Apesar do aumento nas buscas, se faz necessário compreender que pessoas com surdez enfrentam dificuldades para acessar serviços básicos do dia a dia. Mesmo longe do ideal, ainda assim é um grande avanço com o aumento de interessados em aprender a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Para João Pedro Oliveira, que possui surdez total, é muito importante que mais pessoas aprendam Libras para “ajudar na acessibilidade” e tornar “mais fácil a comunicação, exemplo, em hospital, polícia, etc.”.
Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi denominada idioma e língua oficial da pessoa surda, por meio da Lei nº 10.436/2002. É uma forma de comunicação natural, que possui uma estrutura gramatical independente, mas não é universal, pois em outros países existem mais alternativas de linguagem para deficientes auditivos.
Ana Lúcia de Lima, intérprete de Libras há 15 anos em sala de aula, diz que as pessoas começaram a ter mais conhecimento sobre a língua e que isso despertou o interesse para que o idioma seja aprendido. Porém, afirma que ainda há muita dificuldade em acessar o ensino de Língua de Sinais.
“Nosso papel é intermediar, facilitar a comunicação de maneira neutra, garantir a informação à pessoa surda que se comunica por meio da Língua de sinais. Acredito que todos deveriam aprender a língua de sinais, porque é a segunda língua oficial no nosso país e ter apenas o intérprete não é o suficiente para tanta demanda”, afirma Lima.
Representatividade
Filmes estão dando espaço para a representatividade de pessoas surdas, possibilitando o conhecimento do tema social. Por exemplo, lançado em 2021, o filme Eternos contou com a presença da atriz Lauren Ridloff, que fez o papel da primeira super-heroína surda do universo cinematográfico da Marvel. Com isso, pesquisas por “aprender língua de sinais para iniciantes” aumentaram de 250% após o filme.
Como explica Lima, “os surdos estão em todos os locais, por isso é preciso aprender Libras, para haver mais comunicação e inclusão”.