O projeto criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão tomou conta do mundo da moda
Por Everton Ferreira
O movimento “Sou de Algodão”, criado em 2016, pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), como alternativa à queda da presença de algodão nas indústrias têxteis do Brasil em 40 anos, se tornou o primeiro programa que incentiva a moda de consumo sustentável em grande escala no mundo. Responsável por unir sustentabilidade, moda e agricultura em um só movimento.
O “Sou de Algodão” integra toda a cadeia têxtil do Brasil, do cotonicultor ao comprador de peças de vestuário. É voltado para a divulgação e valorização das vantagens do uso do algodão, entregando rastreabilidade, sustentabilidade, qualidade e marketing, que são os quatro pilares de trabalho da associação.
O “boom” do movimento em parceria com grandes eventos de moda
No início do projeto, ainda com poucos parceiros, era complicado conquistar novas marcas. O “boom” do movimento só veio quando atingiram a marca parceira de número 500, após isso muitas outras marcas começaram a se engajar ingressando no projeto que, segundo os dados de julho, já conta com mais de 1026 empresas parceiras.
Tudo começou com o lançamento oficial do “Sou de Algodão” na 42ª edição do São Paulo Fashion Week, apadrinhado pelos estilistas Alexandre Herchcovitch e Martha Medeiros. Desde então o movimento seguiu marcando presença nos desfiles, tendo destaque na 46ª edição, em 2018, onde João Pimenta, um dos grandes nomes da moda brasileira, lançou sua primeira coleção 100% em algodão.
Já em 2019, o “Sou de Algodão”, em parceria com a “Casa de Criadores”, principal referência em apresentar designers de roupas, lançaram o “Desafio Sou de Algodão” para estudantes de moda, cuja missão é estimular o consumo da fibra produzida em solo nacional.
Além do prêmio no valor de R$ 30 mil, os estudantes vencedores do desafio garantem uma vaga de estreante no line-up oficial na edição seguinte do evento. “O algodão é o que nos une. Por isso estamos aqui e trabalhamos juntos. Temos muito orgulho de apoiar jovens empreendedores e que têm um futuro promissor”, disse o presidente do Abrapa, Júlio Cézar Busato, referindo-se a união do movimento ao evento.
Vantagens da matéria prima sustentável
As peças de algodão, além de serem produtos acessíveis e sustentáveis, destacam-se pela durabilidade, conforto e respirabilidade. “O algodão é um tecido maleável e respirável, tornando a confecção de peças confortáveis e utilizáveis em diversas ocasiões. É naturalmente hipoalergênico e se adapta à temperatura interna do corpo”, comentou a estudante de moda, Luísa Pellegrino.
“O algodão é a fibra favorita de grandes estilistas e personalidades do mundo da moda, carrega toda uma cultura consigo, sendo usado de diversas formas e muito presente no dia a dia”, completou.
O algodão nacional é referência por ter mais de 90% das plantações regada apenas pela água da chuva, mas se engana quem pensa que a sustentabilidade do algodão brasileiro está atrelada apenas ao compromisso com o meio ambiente. A Abrapa conta com programas de certificação socioambientais, como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), a Better Cotton Initiative (BCI) e Algodão Brasileiro Responsável para Unidades de Beneficiamento de Algodão (ABRUBA).
Os pilares de sustentabilidade da ABR, ABRUBA e BCI se mantêm na mesma linha de atuação: social, ambiental e econômico, que visam garantir principalmente a saúde e segurança do trabalho, boas práticas agrícolas e industriais, o retorno financeiro, a transparência para o mercado e a rastreabilidade do algodão.
De acordo com os dados da safra 2020/21, constatou-se que o Brasil é o maior fornecedor de algodão responsável do mundo, tendo 84% de toda produção com certificação socioambiental.
Da fazenda ao consumidor final
Em 2004, foi criado o Sistema Abrapa de Identificação (SAI), que tornou possível rastrear detalhadamente as informações da fazenda em que algodão foi plantado, todo o processo em que é submetido até a chegada dos fardos nas empresas de fiação. Esse sistema ainda não era suficiente para atender as premissas do movimento, pois era preciso um alinhamento entre toda a cadeia têxtil.
“Incomodava muito a gente, porque em quase 20 anos trabalhamos para entregar rastreabilidade, e ao chegar na fiação, a etiqueta do fardo era jogada no lixo”, relatou a assessora da presidência da Abrapa, Silmara Ferraresi, ciente da necessidade de transparência nos processos de compra, venda e consumo.
Pensando nisso, foi criado o programa “SouABR”, o maior programa de transparência em larga escala com varejistas, em parceria com as lojas Renner e Reserva, que ampliou a rastreabilidade do algodão desde a fazenda ao guarda-roupa, através da leitura do QR code presente na etiqueta da peça.
O projeto foi lançado no dia 7 de outubro de 2021, no dia mundial do algodão, com pretensão de ser expandido para mais empresas pertencentes ao “Sou de Algodão” em 2023.