Dados do Sebrae revelam que empreendedoras negras são responsáveis por movimentar R$ 73 bilhões por ano no país
Por: Amanda Issa, Mariana Puonzo e Maria Clara Lyra
Revisão: Antônio Netto
Com a dificuldade de conseguir trabalhos formais no mercado nacional, o empreendedorismo tem sido uma solução para manter o sustento. Segundo pesquisa do Sebrae, empreendedoras negras representam hoje 4,6 milhões de brasileira.
Ainda segundo os dados, 49% dessas mulheres negras começam a empreender por necessidade. Como efeito de comparação, para mulheres brancas, esse número cai para 35%. As empreendedoras são responsáveis por movimentar R$ 73 bilhões por ano.
Na atual situação do Brasil, a maior parte dos cidadãos enfrenta dificuldades para conseguir uma vida digna e confortável. No entanto, a situação é ainda pior para a parcela feminina da população, já que dentro das empresas são minoria e preteridas em contratação, especialmente se forem de cor.
Segundo matéria do Época Negócios, o censo da consultoria Gestão Kairós revelou uma hegemonia de homens (68%), em especial brancos (64%), nas empresas, enquanto as minorias ficam bem abaixo: mulheres (32%), mulheres negras (8,9%), negros (33%).
Por conta da falta de oportunidade em espaços corporativos, a criação de novas companhias gerenciadas por mulheres negras está crescendo. Nos setores de moda e beleza, a atenção ao público feminino negro também está em evolução.
Ludmilla Dias, uma jovem de 20 anos, tomou coragem e começou a investir nos planos do seu próprio negócio há dois anos.
A Seja Alaia, loja de moda feminina, nasceu durante o período de pandemia da Covid-19, com a proposta de vender produtos do universo feminino com muito bom gosto e preço justo.
Nesta fase inicial, Dias teve toda sua rotina alterada e viu-se obrigada a habituar-se ao novo cenário.
“Quando iniciou a pandemia toda nossa rotina mudou, tendo que nos adaptarmos ao home office e toque de recolher. Com essa nova realidade, a ansiedade estava tomando conta de mim e eu precisava fazer algo novo e que fizesse sentido pra mim naquele momento”, relata Dias.
As principais manobras de divulgação do seu trabalho e da loja são voltados para as mídias e redes sociais.
“Uso as redes sociais como minha maior aliada, usando redes como Instagram e WhatsApp, para trazer pessoas até o meu ambiente físico ou levar as nossas peças até a pessoa, em qualquer lugar do Brasil. Usando a rede TikTok já consegui fazer envios e vendas internacionais”, conta a empreendedora.
Dias também usa a própria imagem para fazer a divulgação das roupas de sua loja. No início, além de trazer seguidores e compradores em potencial, essa manobra fez com que ela se expusesse nas redes: “Essa exposição causou sim desaprovação, muita gente criticava, não apoiava, ri”. Hoje, seus vídeos se tornaram sua maior estratégia de marketing.
Atualmente, a Seja Alaia já tem mais de 31,7 mil seguidores no Instagram, um espaço físico, um site e faz entregas para todo Brasil.
E não precisamos ir longe para encontrar outro exemplo de empreendedorismo negro que propõe uma mudança no universo da moda feminina, a mãe de Ludmilla também é empreendedora e fundou a loja Qbonita.
“Como empreendedora preta, tenho minha mãe Letícia Santos como minha maior inspiração. Ela revolucionou a moda Plus Size em Salvador, trazendo roupas atuais para um público muito carente disso”, relata Dias.
Nesse universo empresarial feminino também temos Manuela Corrêa, de 21 anos, uma profissional atuante na área de beleza e estudante de direito.
Quando muito nova iniciou na área de beleza como cabeleireira e atualmente tem seu próprio salão na varanda de casa.
“Como iniciei na área da beleza aos 15 anos, não tive como fazer curso, fui com a coragem e os poucos materiais que tinha em casa, sempre trabalhando para mim”, relata a empreendedora.
Corrêa também conta que sempre teve uma mente empreendedora, vendia sandálias, fazia brechó e desde sempre se afeiçoou a sensação de ter seu próprio dinheiro.
O crescimento do mercado de beleza está em ascensão, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). De 2014 a 2019 o setor de estética cresceu 527% no Brasil, e a previsão para 2022 é que o mercado continue em alta.
Pela grande quantidade de novos negócios, estar em evidência é fundamental.
Corrêa destaca que o mercado de beleza é vasto e se encontram todo tipo de profissionais e serviços, mas que é necessário conquistar a confiança dos clientes e mostrar os diferenciais do seu trabalho.
“Gosto sempre de apresentar um novo conceito de ‘cabeleireira’, minhas clientes entendem o investimento intelectual e material que faço para trazer novidades, então não sou só uma aplicadora de produto”, explica.
“Não vou empurrar produtos e serviços, vou mostrar, com segurança e delicadeza, o por que dessa cliente precisar de determinada indicação. Além de mostrar meus conhecimentos em ferramentas digitais, que acabam servindo como um portfólio para futuras clientes”, complementa Corrêa.
E esse esforço é visto e reconhecido. Sabrina Santos é uma das clientes que confiam no trabalho do salão.
“É extremamente maravilhoso, o atendimento é de qualidade e sempre prezando pelo bem estar do cliente”, comenta Santos.
As ferramentas de divulgação de seu trabalho são as redes sociais, como WhatsApp Business, Facebook, Facebook ADS e Instagram.
Corrêa ainda sonha em expandir o seu negócio e realizar novas contratações para o ramo, principalmente de jovens: “o mercado está muito cruel para quem busca”.
Ainda que sua formação acadêmica não coincida com sua formação profissional, de certa forma ela sente que pode integrar ambos: “Me identifico muito com o direito empresarial e com toda a parte extrajudicial, todos esses conhecimentos serão de grande valia para a segurança do meu negócio”.
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