Com roupas das cores do arco-íris, a barraqueira de praia procura construir um espaço de respeito e convívio mútuo entre os públicos
Por Monique Sousa
Revisão: Érika Matos
Quem frequenta a praia do Porto da Barra, em Salvador, pode perceber a bandeira arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+, que flamula em um dos trechos da praia.
A responsável pela iniciativa é a comerciante e dona da barraca de praia, Ilma Bonfim, que ficou conhecida como “Dinda” pelo público frequentador do seu espaço.
A referência à “madrinha da comunidade” se reforça pela vestimenta da comerciante, que sempre atende seu público com a emblemática blusa com as cores do arco-irís. شعار البايرن
“A Dinda, no caso eu, Ilma, tenho afilhados no mundo todo. A Dinda dá o que eles querem: carinho, atenção e aconchego. Eu não escolhi o público LGBT, eles que me escolheram”, relata a responsável.
A barraca de Ilma Dinda acolhe há mais de 30 anos a clientela. Entre os serviços do espaço de Dinda estão o aluguel de cadeiras e sombreiros e a venda de bebidas, como refrigerante, cerveja, água, caipirinhas e outros drinks.
Com poucos lugares em Salvador dedicados ao público gay, o modelo Gilvan Matos, frequentador da barraca de Dinda, ressalta a importância de um ponto de aconchego e acolhimento.
“Há muitos anos as pessoas LGBT tentam conquistar seu espaço, ou até mesmo serem inseridos na sociedade. Por isso, espaços como o da Dinda, que têm o propósito de incluir, acolher e que nos respeita, mostra que estamos aos poucos ganhando nosso espaço”, conta Matos.
Para além do atendimento presencial, Dinda também passou a usar sua rede social para manter contato com os clientes. É através dos stories em seu Instagram (@ilma_dinda) que Dinda mostra o clima da praia, convidando de forma bem humorada os “afilhados” para frequentarem a barraca.
Também em seu instagram Dinda posta e reposta inúmeras fotos e stories com seus afilhados em momentos de diversão e descontração durante o atendimento na barraca de praia.
Afilhados de todos grupos
Apesar da bandeira, Dinda explica que a ideia não é segmentar públicos, mas criar um espaço de respeito e convívio mútuo: “Na minha barraca todos são bem-vindos, havendo respeito o carinho, vai ser de todos, de heteros, gays e famílias com crianças”. العب اونلاين
Luana Cerqueira, hétero e frequentadora de longa data da barraca, conta que conheceu o local através dos amigos. العاب عبر الأنترنت “Me sinto muito acolhida por Dinda e pelo público que frequenta a barraca. É quase impossível sair sem fazer novas amizades”, relata Cerqueira.
Além disso, Cerqueira elogia não só o atendimento da madrinha, mas também os seus serviços: “Dinda sempre monta meu sombreiro onde eu gosto, bem na beira da água, na agonia. Dinda é exemplo de luta, força, bom humor e uma caipirinha caprichada”, relata.
História da barraca
Apesar dos mais de 30 anos de história de barraca, Dinda conta que o empreendimento pertence ao seu marido, Afonso Martinez, e que nem sempre trabalhou diretamente com ele. Ela está na barraca a pouco mais de seis anos.
“Sempre trabalhei fora, sempre trabalhei como cozinheira. Cheguei a me candidatar a vereadora, era a Ilma, Dinda do povo, mas como não era conhecida, não foi pra frente”, conta a comerciante.
O apelido de Dinda do Porto da Barra só começou depois que a comerciante começou a ajudar o marido nos negócios.
“Fui fazendo amizades até que um dia um ‘afilhado’ [cliente da barraca] meu falou que eu tinha que colocar uma bandeira LGBTQIA+, aí coloquei sem pretensão nenhuma. Fui ganhando meu espaço e quando vi estava cheia de afilhados”, relata Dinda.
Hoje, seu marido Afonso brinca que a barraca é a cara de Dinda. “A importância dela é fundamental. A partir do momento que ela abraçou a causa, colocou a bandeira, agregou um bocado de afilhado. Ela tem um coração imenso. O segredo do sucesso com o público”, brinca Martinez.
Afilhados e superação
Hoje, a alegria de Ilma Dinda nas areias do Porto da Barra contrasta com uma triste passagem na história de sua família: a dor de perder um filho durante um assalto, na tentativa do roubo de um celular.
Dinda conta que o trabalho na praia foi uma forma de buscar superação para essa tristeza e apoiar sua família.
“Só eu sei o quanto ainda me dói. É por isso que eu falo que meus afilhados continuam me dando força para continuar a viver”, emociona Dinda.
Visite o Instagram da AVERA e conheça nossos conteúdos exclusivos.