O gênero artístico conhecido pelos impactos socioculturais ganhará espaço de incentivo e representação para artistas das periferias de Salvador
Criado na década de 70, o hip-hop merecia um espaço para finalmente chamar de seu na capital baiana. A Casa do Hip-Hop Bahia nasce com o intuito de se tornar um ponto de referência sociocultural e de desenvolvimento para jovens negros e da periferia.
No espaço serão realizadas ações de arte e educação, incentivo empreendedorismo e inovação, à produção e promoção cultural, tudo isso como suporte para vencer desigualdades.
Para isso, a casa contará com diversos ambientes, como sala para cursos, palestras, oficinas e um estúdio multimídia. Além, de um memorial do hip-hop baiano, exposição de livros, um espaço de coworking, loja colaborativa e área para eventos menores.
O projeto vinha sendo desenhado desde 2004, pelo coletivo Rede Aiyê Hip-Hop, mas apenas em 2018, o Governo da Bahia fechou a parceria com o coletivo Comunicação Militância e Atitude Hip-Hop (CMA Hip-Hop), que será o encarregado em coordenar e administrar o local.
O imóvel está localizado no Largo Quincas Berro D’Água, no bairro do Pelourinho. O uso do espaço é fruto de uma concessão pública, cedida pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), que está associada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBa).
A abertura do espaço estava programada para o dia 12 de novembro, no dia mundial do hip-hop, entretanto, foi adiada por tempo indeterminado, devido ao luto oficial pela morte do deputado estadual João Isidório, no dia anterior à inauguração.
Ainda não foi divulgada uma nova data para a inauguração do espaço.
Cenário do Hip-Hop em Salvador
O hip-hop em Salvador passou a ganhar forças com o movimento organizado em 1996, articulado em grupos de hip-hop, break, grafite.
O movimento oferece oficinas para jovens nas comunidades periféricas e subúrbio de Salvador. Os assuntos tratados variam de acordo com a realidade de cada localidade.
“O hip-hop tem um poder de transformação muito grande, tanto em termos do modo de pensar, como no modo de me enxergar também. As questões tratadas nas músicas, que envolvem desde a formação do ser-humano, até questões sociais, são, de certa forma, muito esclarecedoras para o seu público”, explica Marcos Mahatman, 30 anos, artista de hip-hop.
A batida em Salvador tem como costume misturar elementos da cultura negra. É chamado hip-hop afro, como faz o grupo Quilombo Vivo, de Amaralina, que mistura capoeira e candomblé.
Nessas regiões, essa arte é usada como agente de transformação cultural e resgate dos jovens. A cultura do hip-hop nas comunidades de Salvador mostra um outro lado da comunidade, um lado mais humanizado.
Em muitos casos, as pessoas que querem entender mais sobre essa cultura, vivem em uma realidade de opressão e marginalização no seu dia-a-dia. Com isso, essa expressão artística é utilizada como um porta de entrada para aceitação do seu corpo, cabelo e história.
Dificuldades dos novos artistas independentes do hip-hop baiano
A trajetória de profissionalização de artistas independentes de hip-hop é repleta de obstáculos. O custo de materiais e equipamentos, a grande concorrência, preconceito e, principalmente, a insegurança financeira, são fatores que impactam diretamente nas produções artísticas do gênero.
Segundo o artista Marcos Mahatman, “a maior parte dos artistas relacionados ao hip-hop em Salvador, são autônomos”.
“Não temos produtores ou produtoras que acompanham de fato a carreira de artistas hip-hop como tem nem outros gêneros como axé e pagode”, explica.
Um dos grandes desafios para quem está iniciando no mundo do hip-hop é o networking. Há muitos artistas do gênero em Salvador, contudo, nem todos estão sob o holofote. Possuir boas indicações e contatos é essencial para que um profissional do campo tenha reconhecimento.
Custear estúdio, equipamentos e pós-produção, não sai barato. A realidade, entretanto, é que a maioria acaba por sobreviver através de editais do governo e trabalhos de meio período.
Mahatman explica que a pandemia da Covid-19 abalou fortemente a categoria com a suspensão das apresentações ao vivo. “Faltou capital para apresentações, equipamentos, shows e, até mesmo produtos que são vendidos, como camisas, CDs e adesivos”, relata.
A falta de editais de incentivo artístico agravam a situação, o que desestimula os artistas de hip-hop, fazendo com que tenham que abandonar o mercado.
A expectativa é que com a volta dos shows e do público nos estabelecimentos, mais artistas possam performar e continuar suas produções.
Repórteres: Camila Alessandrini Soeiro, João Victor Moreira, Marcos Vinicius Carneiro, Vitória Serravalle
Revisão: Antônio Netto