Burnout, estresse pós-traumático, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e uso abusivo de álcool e outras drogas podem ser consequências da crise
Repórteres: Kelly Vitória Bouéres de Oliveira, Maria Fernanda de Jesus Cardoso, Mariana Nunes de Almeida, Pedro Jones Ramos, Rafaela Kalil Senna Medina
Revisão: Antônio Netto
A crise socioeconômica no Brasil, potencializada pelo cenário pandêmico, desperta sentimentos como medo, tédio, solidão, desamparo, incertezas e impotência, gerando crises de ansiedade e sintomas de depressão. Estes podem ser pontos em comum entre os brasileiros que perderam seus empregos durante a pandemia.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do início da pandemia até dezembro, cerca de 13,9 milhões de pessoas ficaram desempregadas no país, sendo esse o maior número da série, que iniciou em 2012.
A pesquisa também mostra que as taxas de desocupação, indivíduos que têm idade para trabalhar, mas não trabalham, subiu de 11,9% para 14,1%, nacionalmente, durante a pandemia do Covid-19. Já estadualmente, as maiores taxas ficaram com a Bahia, subindo de 17,2% para 21,3%, neste mesmo período.
Proprietário de um Lava Jato, antes da crise, Carlos Fonseca, 47 anos, fechou o seu negócio por causa da diminuição de clientes, o que afetou o funcionamento da empresa. “Meu caixa ficou completamente restrito, acumulei dívidas com bancos, fornecedores e funcionários, além das contas de energia, IPTU e outros impostos que chegam mensalmente”, relata o antigo empresário.
Fonseca conta que diante da necessidade de fechar o seu negócio, por falta de rendimento financeiro, viu seus funcionários ficarem completamente sem renda. “Muitos não tinham como colocar comida na mesa, foi assustador”, completa.
Ansiedade é o transtorno mais presente entre as pessoas durante o período de pandemia, segundo a primeira etapa de uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde. A amostra preliminar da pesquisa aponta que 86,5% dos participantes relataram episódios de ansiedade, 45,5% transtornos de estresse pós-traumático e 16% depressão em seu grau mais grave.
De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, este ano, 53% dos brasileiros alegam que seu bem-estar psicológico piorou. Por consequência da pandemia e agravados pela crise financeira, 41% dos participantes afirmam ter sintomas como ansiedade, insônia e depressão, segundo dados do Instituto.
Na segunda etapa da pesquisa do Ministério da Saúde, os números mostram que apenas 29,33% dos entrevistados procuraram apoio de um profissional da psicologia e dos que não procuraram, 34,2% informaram que gostariam de ter acompanhamento em suas questões psicológicas.
A psicóloga Yana Damasceno explica que a pandemia funcionou como um gatilho disparador de alguns sinais de transtornos mentais já preexistentes em alguns pacientes e que isso contribuiu para expor os altos índices do adoecimento mental na última década.
“Durante o período mais crítico da pandemia foi possível perceber entre as pessoas, sobretudo os profissionais da área da saúde, circunstâncias que a longo prazo podem ser fatores para condições de transtorno mentais, tais como: síndrome de burnout, estresse pós-traumático, transtornos de ansiedade e pânico, transtorno obsessivo compulsivo, depressão e o uso abusivo de álcool e outras drogas”, explana a psicóloga.
Francisco Fernandes, 62 anos, trabalhava no polo petroquímico e foi afastado por questões de saúde, amplificadas pela pandemia. Fernandes conta que o momento foi um caminho aberto para angústia e outros sentimentos. “Eu sofri muito quando começou a pandemia, tive que parar de trabalhar”, relata.
Fernandes relata que, mesmo sem trabalhar, as contas continuavam chegando e em maior quantidade. “Em casa moramos quatro pessoas e as contas chegam como se morassem dez, continuo me sentindo angustiado desde o começo, estamos longe de sair dessa”, desabafa Fernandes.
Damasceno ressalta a importância dos serviços de acompanhamento psicológico, de forma a possibilitar o enfrentamento das situações que geram desconforto emocional ou sofrimento psíquico a estes indivíduos, ressignificando-as e promovendo qualidade de vida.
“Saúde é um estado de bem estar físico, emocional e social, e saúde mental refere-se a forma como o indivíduo desenvolve habilidades para lidar com as exigências do cotidiano, dentre elas a capacidade de administrar as emoções”, completa a psicóloga.
Repórteres: Kelly Vitória Bouéres de Oliveira, Maria Fernanda de Jesus Cardoso, Mariana Nunes de Almeida, Pedro Jones Ramos, Rafaela Kalil Senna Medina
Revisão: Antônio Netto
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