O atleta soteropolitano já reúne sete conquistas na sua carreira é considerado um dos nomes mais promissores da modalidade de artes marciais
Por Amanda Issa, Maria Clara Lyra e Samira Almeida
Revisão: Antônio Netto
O soteropolitano Humberto Falcão, 22 anos, se tornou o atleta campeão do campeonato Norte-Nordeste de Kickboxing em 2019, o título mais marcante de sua carreira.
“O esporte é uma válvula de escape e um dos responsáveis pelos poucos momentos de felicidade que vivo durante essa pandemia”, conta Falcão sobre a importância do esporte em sua vida.
O primeiro contato com esportes aconteceu quando ainda era criança, já que realizava diversas atividades. Após frequentar um evento amador de luta, o desejo de seguir a área cresceu ainda mais. Seus colegas de treino foram suas principais inspirações, pois iam a vários eventos esportivos juntos.
“Eu decidi que ia começar a lutar por puro prazer depois de ir assistir a um evento amador. Estava em um curso e fui direto, quando cheguei lá, vi que uma das lutas tinha caído, eu simplesmente me ofereci pra lutar e o evento aceitou. Apanhei muito, mas valeu a pena”, relembra Falcão.
Segundo o atleta, ter sido campeão Norte-Nordeste de Kickboxing foi “uma sensação de dever cumprido e surreal”, já que realizou muito treinos intensos para aprimorar seu desempenho em um evento importante.
“Foi a preparação mais intensa que eu já fiz na minha vida. Perdi 15 kg para lutar, com três treinos diários. Estava de férias na faculdade, então consegui me dedicar somente a isso”, relata.
“Apenas conseguimos ir ao evento com cinco atletas, três homens e duas mulheres. Todos os estados tinham em torno de 15 a 30 atletas e a gente com apenas cinco. Saímos de lá com a segunda melhor campanha na quantidade de medalhas, quatro ouros e um bronze, e a melhor em aproveitamento, já que todos conquistaram”, acrescenta.
Além da sua carreira como atleta profissional, Falcão faz Bacharelado Interdisciplinar (BI) em Ciências e Tecnologia. Para ele, ajustar seus horários entre os estudos e os treinos não foi fácil.
“Tenho que treinar na hora que dá e, às vezes, acabo deixando a aula de lado para poder fazer. Isso não é apenas treino, é meu lazer, é minha terapia. Eu não tenho um horário fixo para treinar. Eu acabo treinando sozinho, quando não consigo conciliar com os meus parceiros”, comenta.
O soteropolitano conquistou seu primeiro título no evento Rei da CBX, em 2020. “Surgiu uma vaga de última hora. Me colocaram para disputar, mesmo sem nunca ter lutado, e aí eu nocauteei. Foi o único nocaute da noite”, conta.
Além disso, Falcão também possui uma conquista na Infinity Fight, uma na Nordeste Fight, duas medalhas de prata no Campeonato Baiano de Kickboxing e um título de melhor lutador Striker 2018, atividade que envolve socos, chutes, joelhadas e cotoveladas. Falcão também é professor de Muay-Thai.
Para o mestre-professor de Kickboxing, Jairo Costa, Falcão é “um atleta talentosíssimo”, que se destacou muito desde quando se tornou seu aluno.
“Ele é um dos atletas mais persistentes que já tivemos. Mesmo que não tenha tido muito tempo de preparação por causa da faculdade, ele sempre foi muito dedicado aos estudos. Um atleta que se destacou bastante, que tende a crescer muito e tem um futuro brilhante”, comenta o professor.
De acordo com Falcão, conquistar o cinturão no Campeonato Brasileiro de Kickboxing é uma das suas principais metas, mas nunca disputou por falta de tempo.
Pandemia
Com a rápida disseminação do coronavírus ao redor do mundo, diversos órgãos nacionais adotaram medidas protetivas ao seguirem os protocolos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma dessas restrições foi o distanciamento social.
Com o isolamento obrigatório e para que o aprendizado não fosse afetado, as aulas, antes realizadas nos ambientes presenciais, passaram a ser virtuais, gerando um grande desafio aos professores e estudantes em se adaptarem nestes espaços.
“Foi uma fase difícil para todo mundo e precisamos nos reinventar. Nós trabalhamos muito mandando treinos aos atletas. Mandávamos todos os dias para mantê-los ativos em casa”, conta Jairo.
Segundo Falcão, a nova rotina somada ao excesso de atividades na faculdade foram pilares para as diversas crises de ansiedade sofridas durante a pandemia. Mas, com a volta gradativa dos treinos nos ambientes presenciais, seguindo as medidas de proteção, o atleta conseguiu recuperar o tempo perdido.
O primo de Falcão, Robson Nascimento, que também é aluno do atleta, acrescenta que as aulas com ele o ajudaram a melhorar sua saúde mental.
“Poder praticar e aprender com Humberto fez toda diferença na minha vida, principalmente para mim, que sofro com ansiedade. Conseguia relaxar mais após treino e fazer as coisas fluírem com menos estresse”, fala.
Salvador
A falta de investimentos do órgão municipal em relação ao esporte, tais como a ausência de espaços apropriados para cada modalidade esportiva e infraestrutura dos locais privados que admitiam essas práticas eram a realidade dos atletas promissores da capital baiana.
Jairo ressalta que apesar de haver muitos atletas profissionais na região Nordeste, o governo não ajuda nos apoios que precisam para promover o esporte em outros lugares.
“É difícil para a gente. Os eventos não pagam uma bolsa ao atleta. Em relação a outros eventos, tem uns que pagam, mas o nosso ainda é baixo. Por isso, precisamos viajar com o próprio dinheiro para as competições e isso gera um custo. Temos que fazer cachê de equipe, rifa, eventos para que os atletas viagem e não tirem do próprio bolso para pagar as passagens”, conta.
Sobre o Kickboxing
O kickboxing se refere a um grupo de artes marciais e outros exercícios aeróbicos baseados em chutes (em inglês: kick) e socos (em inglês: boxing). Este esporte é uma luta que busca melhorar a qualidade de vida dos atletas, gerando força e resistência.
“Muitos confundem o Kickboxing com o Muay-Thai, mas eles possuem diferenças em suas regras. No Kickboxing, não pode dar cotoveladas e joelhadas no clinch (adversário), como no Muay-Thai. Além disso, no Kickboxing, tem muito volume de golpes, o que não é característico do Muay-Thai”, explica Jairo.
A prática do kickboxing possui raízes asiáticas, especialmente no Japão, onde surgiu as primeiras atividades em 1950. Durante este período, o esporte recebeu fortes influências do karatê e suas regras de competição da época visavam, principalmente, o controle do toque.
Foi a partir da década de 70 que o kickboxing se popularizou nos Estados Unidos como um esporte que utilizava a força nos golpes das pernas e dos punhos, ao invés de parar cada golpe antes de tocar no adversário, como exemplo do karatê.
O kickboxing sofreu diversas alterações ao longo dos anos até ser conhecida como nos dias atuais: uma prática esportiva intensa no qual o atleta, dependendo da modalidade escolhida, pode ter um contato maior com o seu oponente, fazendo com que a luta se torne mais dinâmica aos espectadores.
Benefícios
Os praticantes do esporte, geralmente, realizam as atividades para desenvolver suas habilidades em defesa pessoal ou para condicionamento físico geral, como exercícios que visam o emagrecimento. Além disso, a prática neste esporte também alivia o estresse e aumenta a flexibilidade do aluno.
“Além do condicionamento físico, melhora a sua coordenação, destreza e concentração. Tive vários casos de alunos que melhoraram a concentração, por causa do volume de golpes altos, já que precisa focar sua aplicação neles. Melhora a autoestima e ajuda a eliminar gordura por ser uma atividade aeróbica intensa”, diz Jairo.
Apesar da intensidade, o Kickboxing é recomendado para qualquer idade, desde que os limites sejam respeitados.
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