Maior nome do radialismo baiano, trajetória de Perfilino Neto se mistura com a história do rádio na Bahia
Por Camila Oliveira
Revisão: Fernanda Abreu
A primeira transmissão radiofônica do Brasil foi realizada em 1922. No ano seguinte, foi criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e, desde então, emissoras de rádio começaram a ser criadas por meio de associações para difundir cultura e educação.
Na Bahia, a história do rádio se inicia em 1924, com a criação da primeira emissora baiana e a quarta nacional – a Rádio Sociedade da Bahia. Enquanto o rádio se fortalecia como um veículo de interação, as décadas seguintes viram outras emissoras surgirem na Bahia, buscando oferecer novas opções de transmissão para os ouvintes.
Nesse cenário, um nome construía sua história. Sempre referido como um guardião baiano da história do rádio, o jornalista e radialista Perfilino Neto coleciona, em quase 63 anos de carreira, histórias, entrevistas com ícones da época e coberturas de eventos que marcaram o mundo.
Perfilino possui um vasto conhecimento sobre o meio de comunicação tão popular que é o rádio e sua paixão vem de infância.
“Ouvia os programas da Rádio Nacional, Rádio Tupi, Rádio Gazeta. Aqui em Salvador, ouvia a Rádio Sociedade, Rádio Excelsior e a Rádio Cultura. Começo a acompanhar as novelas, as programações esportivas e passei a me dedicar muito ao rádio desde criança”, conta o radialista.
Sua trajetória começa no rádio baiano, onde o profissional contribuiu com maestria para o cenário de comunicação da Bahia.
“Trabalhei no Diário de Notícias, Estado da Bahia, fui colaborador A Tarde, Jornal da Bahia, Tribuna da Bahia. Eu mesclava muito o trabalho jornalístico com as pesquisas, e é a partir daí que eu começo a fazer as entrevistas com os artistas da época que estavam no auge”, lembra Neto.
Reconhecido por suas contribuições profissionais, Perfilino ganhou um prêmio internacional em 1993, na China, por ter produzido o programa Encontro com o Chorinho, veiculado na Rádio Educadora FM e foi vencedor na Bolívia, do Concurso Latino-americano de Programas das Nações Unidas.
Legado que virou história
A trajetória de sucesso de Perfilino Neto é contada no livro “Perfilino Neto – a Enciclopédia do Rádio Brasileiro”, lançado em maio de 2018 pelo escritor, advogado, jurista e compositor, Antonio Francisco Costa.
O autor descreve Neto como “a verdadeira enciclopédia do rádio brasileiro”.
“Entendi que era importante escrever alguma coisa sobre este gênio do Rádio para que pudéssemos conservar sua tão importante memória nas bibliotecas. Preservar a história, a cultura da música e do Rádio, fomentada por esse gênio soteropolitano”, relata Costa.
O livro reúne fatos ligados à infância e carreira de Perfilino Neto, além de várias histórias contadas e vividas por ele em mais de 60 anos de rádio.
Com o livro quase esgotado, Costa afirma: “alcancei o objetivo que preconizei: levar boas informações para os estudiosos da música e do rádio brasileiro”.
A modernização do rádio
Com os avanços tecnológicos e os novos comportamentos dos consumidores, o modo de fazer rádio vem se modificando. O mundo passou por um processo de modernização dos meios de comunicação e o rádio não ficaria de fora.
Perfilino entende que a longevidade do rádio está no despertar da curiosidade dos ouvintes, destacando que “enquanto existir imaginação, vai existir rádio”.
Com o surgimento das web rádios, as grandes emissoras tradicionais começaram a encarar novos concorrentes que se atualizaram através do meio de streaming para realizar suas transmissões.
Apesar da migração do rádio para o meio digital, Perfilino Neto encarou se atualizar ao novo formato como mais um desafio. O radialista é dono de uma rádio online chamada “EradoRádio”, cuja estreia aconteceu em julho de 2019 e atualmente reúne mais de 370 mil visitações.
“Tenho dezenas de documentos sonoros e coleciono entrevistas há 63 anos. Como estou utilizando esses documentos sonoros hoje no Era do Rádio, é visto como novidade, como a maioria das pessoas é de outra geração”, afirma o radialista.
Perfilino Neto completa dizendo que “essa expectativa acabou superando o meu medo de não dar certo, e isso me estimula a continuar com esse site”.
Uma das principais vantagens da transmissão na web em relação à forma de transmissão tradicional dos rádios, está nas questões geográficas. Por meio da reprodução pela Internet, em um clique, é possível sintonizar nas rádios de todo o mundo.
“Eu já era ouvido no exterior porque o conteúdo que eu passava era interessante, eu falava sobre a história do rádio, a história do samba, maxixe, do rock, a história de Santos Dumont, Rui Barbosa, política no Brasil. Tudo isso eu abordei no rádio, e trouxe para a Internet”, conta Neto
Para o “Era do Rádio”, Perfilino Neto atualizou seus programas de 40 anos atrás e usa os recursos da Internet para mensurar o histórico de audiência dos seus programas.
“Encontrei muita dificuldade, ainda encontro porque eu vim da máquina Olivette, e graças a ela que eu estou aqui no computador. Mas, em compensação, eu tenho o retorno do ouvinte”, destaca o radialista.
A modernização para os ouvintes
Se a rádio digital, atualmente, vem ganhando cada vez mais espaço, muito se deve ao nível de aceitação dos ouvintes.
Segundo a pesquisa, Inside Radio 2020, realizada pela Kantar Ibope Media, 46% dos ouvintes de rádio entrevistados, ouviram serviços de streaming de áudio durante a pandemia e 25% aumentaram esse consumo.
Para o operador industrial, Joel Lopes, o rádio sempre fez parte do seu cotidiano.
“Eu comecei a ouvir rádio desde os oito anos, quando ganhei um radinho de pilha da minha avó. Hoje, com 57 anos, poder ouvir rádio no celular através de aplicativos ou na web, é uma ótima mudança”, conta o ouvinte.
Assim como Perfilino Neto, o operador enxerga muitas vantagens no formato de rádio digital.
“Consigo ter autonomia em relação as programações que quero ouvir e também na quantidade de comerciais que é passado, então a programação fica mais interessante em ouvir”, finaliza Lopes.
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Produção e coordenação de pautas: Márcio Walter Machado