Banho de folhas, objetos místicos, crenças e ciência contra o mau-olhado
Por Adrielly Lima
Revisão: Julya Ferreira
A crença do mau-olhado pode ser encontrada em quase todas as culturas. No entanto, apesar de ser algo global, cada etnia possui um jeito de combater esse “mau”. Olho grego, figa, banho de sal grosso, plantas no ambiente, rezas e incensos, são algumas das técnicas utilizadas como forma de proteção.
Para lidar com as questões do misticismo, existem dois lados. O primeiro está relacionado às pessoas que creem simplesmente no poder de folhas e objetos. Plantas como pião-roxo, arruda, espada de São Jorge, figo e objetos como olho-grego exemplificam esse universo.
Já o segundo, atuam com o misticismo relacionada à ciência, na qual precisa de acompanhamento médico para solucionar o possível problema, por exemplo.
Segundo a neuropsicóloga, Jéssica Kelli de Carvalho, “muitas vezes a pessoa acha que está com mau-olhado, mas na verdade está com uma psicopatologia que pode ser a depressão ou transtornos delirantes. Esses sintomas precisam de ajuda profissional, mas em alguns casos acontece do paciente recorrer às tradições populares para resolver o sintoma”.
A neuropsicóloga destaca ainda que “é preciso uma avaliação antes com o paciente para medir os fatores de riscos e os de proteção para compreender como vai ser o processo terapêutico”.
Crenças e biologia
A bióloga, Nara Mendes, relata que crê no lado biológico com relação às crenças. Por ter crescido e vivenciado diversas situações no lugar onde morava.
“Isso foi passado de geração em geração. Tenho uma filha de 35 anos, mas quando criança quase morreu por conta de mau-olhado. Se não fosse uma benzedeira talvez não tivesse minha filha hoje’’, relata Mendes.
Com inspiração dos mais velhos, Mendes fala que hoje, apesar de todos os avanços da medicina, o hábito de usar plantas proporciona um efeito inexplicável de cura e proteção.
“Utilizar plantas medicinais e de proteção são essenciais no dia a dia. Arruda, espada de São Jorge e pimenteira são as principais plantas que ajudam na cicatrização, na cura da inveja e proteção para o lar’’, conta Mendes.
A bióloga destaca que “usar esses tipos de medicação sem nenhum conhecimento pode fazer a pessoa adoecer mais facilmente. As plantas têm um poder incrível de cura, mas se não souber usar, pode ser muito prejudicial’’, explica.
Para a cigana Carmelita Rosa Vermelha, através da crença no mundo espiritual, indivíduos depressivos foram curados por meio do banho de folha. “As folhas quando passada nas pessoas, murcham, é uma coisa inacreditável’’, relata a cigana.
De acordo com Carmelita, o preconceito é algo presente na vida das pessoas devido crença limitante e a negatividade com os trabalhos desenvolvidos.
“Já socorri vizinhos que estavam tristes, mas também já me deparei com olhares de medo quando batem na minha porta. Mas não me importo, tenho Deus dentro de mim’’, relata Rosa Vermelha.
Entre o misticismo e a ciência
Ana Célia Pires, 38 anos, formada em enfermagem, relata que, antes de ser enfermeira, é do Candomblé e acredita tanto nas folhas e bichos quanto nos médicos.
“Um ajuda o outro. A pessoa as vezes vai em um profissional da saúde e não consegue resolver seu problema e nesse momento a religião entra para clarear o caminho do paciente”, diz Pires.
Ela ainda salienta que “um dos piores feitiços que existem é o olho-gordo ou o mau-olhado, visto que são acontecimentos que para serem desfeitos precisam passar por um processo de banho de folhas e rezas. Isso acontece quando alguém deseja o que é seu, e com isso você acaba ficando doente e não tem explicações científicas para resolver”.
Entretanto, Pires não descarta a ida até o profissional de saúde. “Acredito nos dois lados. Não deixo de ir ao médico para saber como está minha pressão e glicemia, mas também não deixo de tomar meu banho de pipoca e nem de usar minhas folhas’’, relata a enfermeira.
A dona de casa, Valdonira de Paula, 53, cita que as pessoas ao seu redor chegam a julgá-la por conta da sua crença.
“Cresci em um mundo onde as folhas e o sal grosso ajudavam muito as pessoas com seus problemas de saúde e inveja. Hoje aqueles que não acreditam são os mais jovens, que acham tudo uma besteira”, afirma a dona de casa.
Um exemplo, desse descrédito com o misticismo, está dentro da própria cada de Dona Valdonira. Sua filha, Milena de Paula, de 23 anos, acredita que essa geração tem muitos problemas psicológicos e que, acreditar em fatores místicos, ajuda a omitir a realidade dos problemas.
“As vezes culpamos o estresse do dia a dia e o mau-olhado, quando na verdade são as cobranças e a mente que acaba deixando o ser humano atordoado, culpando uma coisa que é mito”, declara Milena.
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Produção e coordenação de pautas: Márcio Walter Machado
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