Funcionários de companhia de ônibus e população da capital baiana relatam problemas de lotação, em plena pandemia, sujeira dos veículos e insegurança
Por Gabriela Santos, Monique Hellen e Vitória Estrela
Revisão: Antônio Netto
O transporte público de Salvador é considerado o quinto pior do mundo, segundo estudo da Expert Market, divulgado pela revista Época.
Os problemas são inúmeros, como falta de acessibilidade aos deficientes físicos, veículos sujos, equipamentos quebrados, atrasos, poucos veículos comparados à quantidade de usuários, além da alta tarifa.
Segundo pesquisa da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), do ano de 2017, 30% da população soteropolitana prefere ir a pé para os seus destinos. 40% dos pesquisados, simplesmente não conseguem ter acesso ao transporte público, por não terem condições de arcar com o valor da passagem.
No ano de 2020, em plena pandemia do coronavírus, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) precisou intervir para garantir a circulação de 100% da frota de ônibus na capital baiana, o que demonstra o descaso dos órgãos municipais com a mobilidade urbana na cidade.
O ajuizamento da ação ocorreu após a Semob não atender a recomendação encaminhada pelo MP-BA para o retorno imediato do transporte público coletivo.
Isso se deu, mesmo depois de diversas reuniões realizadas com o objetivo de formalizar um acordo que promovesse a retomada integral dos ônibus na capital.
Segundo levantamento do estudo feito pelo aplicativo de mobilidade Moovit, em 2020, cerca de 57% da população da capital baiana que usa o ônibus precisou esperar 20 minutos ou mais durante uma viagem para embarcar.
O estudo mostra ainda que 30,5% dos usuários de transporte público de Salvador fazem trajetos, de direção única, de uma a duas horas, incluindo, caminhada, espera do transporte e tempo de deslocamento.
O aumento das tarifas
A Prefeitura de Salvador anunciou, no dia 23 de abril, o reajuste na tarifa de ônibus da capital. A tarifa passou a custar R$ 4,40. O aumento de 20 centavos da tarifa anterior representa um percentual de reajuste de 4,76%. O último reajuste aconteceu em março de 2020, quando a tarifa passou a custar R$ 4,20.
Segundo a gestão municipal, “o aumento foi autorizado principalmente em função do acréscimo de insumos básicos para a operacionalização do serviço, em especial o preço do óleo diesel, que ultrapassou 20% nos últimos meses.”
A pandemia e o transporte público
Enquanto se fala em lockdown, muitos profissionais precisam utilizar o transporte para se deslocar de suas casas para seus respectivos trabalhos.
Camila é enfermeira, tem 41 anos e utiliza o transporte público todos os dias para ir e voltar do hospital em que trabalha. A enfermeira enfrenta aglomeração nos coletivos e o alto risco de se contaminar com o coronavírus.
“Por ser enfermeira, tenho noção de todo o cuidado que deve ser tomado para evitar contaminações, mas infelizmente, nem metade é exercido pelas pessoas, o que me preocupa muito. Os ônibus geralmente estão lotados, nem todos obedecem ao decreto do uso de máscara, ou até pelo abafamento do veículo acabam baixando para o queixo, é muito complicado”, relata a enfermeira.
Ancelmo, motorista de ônibus, de 56 anos, conta que para se proteger do coronavírus durante o seu expediente de trabalho, usa “álcool em gel o tempo inteiro, lavo as mãos quando chego no final de linha, mas nem sempre encontro água e sabão”, declara o rodoviário.
Insegurança
Salvador é considerada a terceira cidade em que ocorrem mais assaltos a ônibus no Brasil, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Segundo os sindicatos, de 15% a 20% dos rodoviários, em média, estão afastados do trabalho por causa de doenças causadas após presenciar um assalto no coletivo.
Motoristas e cobradores de ônibus do transporte urbano de Salvador relatam viver em clima de insegurança ao sair para trabalhar por causa dos constantes assaltos aos coletivos na capital baiana.
Matheus Guimarães é cobrador de ônibus da empresa Costa Verde, tem 21 anos, e conta situações perigosas que já vivenciou pela insegurança no coletivo.
“Todos os dias e a todo momento já fico esperando algo acontecer, infelizmente, trabalho com medo. Há um ano dois rapazes assaltaram a mão armada o ônibus em que eu estava em expediente, levaram todo o dinheiro do caixa, o que me deixou muito assustado”, relata o cobrador.
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