Aglomeração, redução das frotas e falta de higiene são algumas das queixas da população soteropolitana que utiliza o transporte público durante a pandemia
Por: Ana Mello, Camila Monteiro e Gustavo Passos.
Revisão: Antônio Netto
Com o avanço da pandemia causada pelo novo coronavírus, muitas empresas passaram por adaptações para se adequarem ao “novo normal”, aplicando medidas de distanciamento social e higiene como formas de combater o contágio do vírus.
Entretanto, tornaram-se ainda mais recorrentes as queixas a respeito do transporte público, em que a população manifesta insatisfação sobre uma suposta redução das frotas, demora na espera dos ônibus, falta de higiene e desrespeito às medidas de segurança.
Opinião dos usuários
Isabela Moncorvo, usuária diária do transporte público, afirma que antes da pandemia a espera por um ônibus era de 10 a 15 minutos e que esse tempo mais que dobrou.
“Os atrasos são de 30 a 40 minutos e hoje a gente não tem a opção de esperar um próximo ônibus mais vazio e mais seguro, então, eu passei a sair de casa mais cedo para pegar um ônibus”, afirma Isabela, que é promotora em uma empresa na capital baiana.
Isabela relata que sente medo e insegurança ao utilizar o transporte público e ressalta que não há como manter distanciamento social, medida utilizada em muitos estabelecimentos.
“Não tem distanciamento, não há como ter, na verdade. Os coletivos são cheios e a gente percebe que não tem uma higiene por parte dos próprios transportes, as pessoas as vezes se descuidam em abaixar a máscara ou tocar no outro e tudo isso trouxe muita insegurança”, pontua a promotora.
Tâmara Marques, jovem aprendiz que utiliza o transporte coletivo de Salvador, reforça as queixas. “Lugar nenhum é seguro, principalmente dentro dos coletivos, por conta da superlotação”, afirma a jovem.
Tâmara também ressalta que teve que alterar seu horário de partida, por conta da redução da frota. Segundo a estudante, foi necessário desenvolver o hábito de sair mais cedo para o local de trabalho.
“Porque além de chegar cedo no trabalho, evito pegar ônibus mais cheio do que o normal. Quanto mais gente, mais risco de contaminação”, relata a jovem aprendiz.
Na opinião da estudante, as empresas de transporte público, em conjunto com a Prefeitura, poderiam pensar no aumento da frota, porém, isso causaria outro empecilho.
“Talvez a tática de aumentar a frota diminuísse um pouco a superlotação, mas aí entraria outras questões, como por exemplo: mais carros nas ruas, mais engarrafamentos”, analisa Tâmara.
A agente de saúde Lúcia Helena, que compõe uma das áreas mais importantes no combate da propagação do novo coronavírus, relata que atualmente evita utilizar o transporte público.
“Não pego mais ônibus para me deslocar, acho muito arriscado por conta deles não serem higienizados da maneira correta e as pessoas não seguirem tanto os protocolos”, afirma a profissional de saúde.
A respeito dos coletivos cheios, Lúcia destaca que um dos fatores mais prejudiciais para a propagação do vírus, quando se leva em consideração o transporte público, é a baixa demanda de veículos nos horários de pico.
“Os coletivos ficam cheios e o distanciamento fica reduzido, o que faz com que muitas pessoas assintomáticas transmitam o vírus para outras”, opina Lúcia Helena.
A agente de saúde pontua que a principal solução para a diminuição dessa grande contaminação é que a Prefeitura exerça uma melhor fiscalização dos ônibus para o controle das infecções pelo covid-19.
A profissional de saúde também espera que haja um aumento nas frotas nos horários de grande movimentação.
“Se possível não pegar coletivo cheio e esperar o próximo coletivo, mas, a resolução mesmo teria que vir da esfera pública, que poderia não ter reduzido tanto o número de frotas. Querendo ou não as pessoas vão pegar ônibus nos horários normais e vão se aglomerar”, pontua Lúcia.
Como os funcionários lidam com a higiene?
Bárbara Cerqueira, cobradora nos transportes públicos, afirma contar com ajuda externa para manter o veículo limpo. “A higienização tem sido feita nos terminais ao fim de cada viagem, mas também contamos com os ambulantes que fazem a limpeza durante o percurso”, relata a funcionária.
Já motorista de ônibus, senhor Luiz, ressalta que a higienização também tem que ser feita pelos funcionários, com auxílio da população. “As pessoas que adentram o veículo, não o mantém limpo e organizado, jogam alimentos, jogam papéis e fazem do veículo um local de lixo”, relata o motorista.
Ambos afirmam que alguns passageiros não seguem os requisitos para o uso do transporte, como o uso das máscaras.
“Acho que pra você se proteger de um vírus, a pessoa tem que pensar em usar a máscara, que é o básico, porque o distanciamento é meio difícil de utilizar, o cuidado é pessoal”, opina o motorista.
A cobradora Bárbara afirma que já viveu uma situação onde o passageiro não respeitava as normas do uso do transporte e ressalta que já sofreu agressão verbal. “Nesses casos tento expor a situação em que vivemos e a gravidade de tudo isso, muitas vezes não tenho êxito, mas ao menos fiz minha parte”, relata.
Aumento das frotas: solução ou não?
Os funcionários do transporte público possuem opiniões distintas sobre o aumento das frotas. “Isso iria engarrafar muito a cidade, porque quanto mais veículo você tem mais engarrafamento”, afirma o senhor Luiz.
Para Bárbara, o aumento da frota de ônibus deveria ser levado em consideração. “Para melhoria do usuário acredito que o aumento de frota nos horários de pico seria algo a se pensar”, pontua a cobradora .
Bárbara ressalta que os motoristas e cobradores devem ser tratados com cuidado e respeito, pois diariamente arriscam suas vidas para servir a população, já que esses funcionários não compõem os grupos prioritários para a vacinação.
“Fazemos parte de um serviço essencial, porque não estamos como prioridade? Precisamos de segurança”, questiona Bárbara.
Ambos afirmam que a aglomeração em algumas linhas do transporte público se deve ao horário de pico, que é o momento onde as pessoas começam a deixar o seu local de trabalho para ir para suas residências.
“A empresa coloca ônibus à disposição para poder utilizar nos horários de pico. Só que ele existe naquele momento, né? O passageiro não quer esperar o outro ônibus que vem atrás, todo mundo quer ir naquele que está no ponto”, comenta o motorista.
A responsabilidade da Semob
A Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob), é o órgão da prefeitura encarregado de garantir as melhores condições de segurança e facilidade na mobilidade, que abrange os transportes, acessibilidade, trânsito, estacionamentos públicos e terminais de travessias.
De acordo com a assessora de comunicação do órgão, Iara Vieira, a Semob possui dois principais setores: o de Planejamento e o de Fiscalização. O setor de Fiscalização corresponde aquele que está nas ruas, verificando os pontos de ônibus e as estações.
O papel desse setor é constatar o funcionamento e a movimentação das linhas, levando em consideração a demanda de passageiros. Assim, o setor de Planejamento elabora um plano de ação adaptado às necessidades daquela área que foi fiscalizada.
Higienização, superlotação e redução das frotas: qual o posicionamento do órgão?
A assessora da Semob afirma que os ônibus são higienizados e que o setor de fiscalização é o responsável por esse acompanhamento. Vieira ainda destaca que a logística da limpeza dos veículos ocorre não apenas nas áreas internas dos transportes, como também nas áreas externas frequentadas pelos usuários.
Vieira explica que ocorre uma fiscalização diária para que os setores do órgão possam executar o atendimento adequado às situações de cada linha de ônibus, como a superlotação e oferta dos veículos na frota.
“Uma linha que hoje tem menos ônibus, amanhã já pode entrar dois ou três ônibus a mais, ou mais do que isso, se for necessário” explica a assessora.
Vieira ressalta que houve uma redução média de 450 mil habitantes que utilizam os ônibus. “Antes da pandemia eram transportados em média 1 milhão e 300 mil pessoas por dia. Com a pandemia, esse número caiu bastante, está girando em torno de 850 mil”, destaca a assessora.
Mesmo com a redução no número de passageiros diários, a assessora afirma que o órgão trabalha com uma frota de 85% para atender cerca de 60% dos usuários, sendo assim, a frota de ônibus ultrapassa o número de habitantes que utilizam esse transporte.
Para relatar sugestões, denúncias ou insatisfações relacionadas ao funcionamento dos transportes públicos, a Semob orienta que a população entre em contato com a ouvidoria geral da Prefeitura, pelo número 156, Disque Salvador.
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