Troca de modais fez passagem ir dos cinquenta centavos para tarifas que podem chegar a R$4,40
Por Carolina Pena, João Gabriel Carvalho e Letícia Bugarin
Revisão: Antônio Netto
Em fevereiro deste ano, o Governo do Estado da Bahia iniciou a substituição do antigo Trem do Subúrbio de Salvador pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
O Trem do Subúrbio fez sua última viagem no dia 15 daquele mês, um episódio que simbolizou o fim da sua longa contribuição para a cidade; assim como mudanças significativas à vida daqueles que o frequentavam.
É previsto que seu substituto, o VLT, construído pela empresa chinesa BYD e concessionado pela Skyrail Bahia, começará a circular em Salvador entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022.
Sua tarifa será no valor de R$3,70, e o acesso à integração com os ônibus custará R$4,40. Valores muito mais altos que os habituais R$0,50, que eram cobrados no trem.
Até sua implementação, a Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob) reforçou a frota de ônibus com a adição de oito novos veículos para auxiliar as necessidades de locomoção dos moradores da área.
Defasagem do equipamento e impactos nas tarifas
A desativação do trem aconteceu porque o mesmo estava defasado. Segundo Levi Góes de Queiroz, representante da Secretaria de Turismo (Setur), “o trem é um equipamento que a gente pode considerar, hoje em dia, obsoleto comercialmente e tecnologicamente”.
Mas a alteração vai afetar bastante o bolso de suburbanos, como Marcos Antônio Souza. “Passaremos a pagar R$4,20 [o preço ainda não havia sido reajustado para os atuais R$ 4,40] em um ônibus cheio, no momento pandêmico; e preparando o bolso para o VLT, também, que o valor será bem alto”, diz Souza.
O morador considera a situação “um verdadeiro destrato, pois, apesar de ser algo mais tecnológico e inovador, nós suburbanos só queremos nos deslocar. Já moramos afastados do centro e o transporte aí sobe muito de valor. É algo complicado”.
Queiroz explica que historicamente o Trem do Subúrbio transportava uma população de renda baixa, que não suportava o aumento das tarifas e “promovia protestos e queixas”.
Assim, o Governo da Bahia sempre arcou com a diferença entre o custo real do serviço e o valor que o morador podia pagar, o que Queiroz chamou de “subsídio”.
“Só que essa situação se tornou insustentável. O Governo, aproveitando a troca de tecnologias, corrigiu essa distorção do subsídio. Eu não sei lhe dizer se o VLT também vai ter algum tipo de subsídio. A princípio, não”, explica Queiroz.
“E o morador, como é que fica, não é? Ele estava acostumado a pagar 50 centavos e agora vai pagar R$3,90. É um aumento considerável, mas essa situação é resultado de muitos anos de falta de reajuste”, justifica o gestor.
Cofira a entrevista completa com Levi Góes de Queiroz , representante da Secretaria de Turismo (Setur).
Benefícios turísticos
Ainda assim, o representante da Setur defende que “é preciso entender que [a chegada do VLT] vai melhorar bastante as opções de fluxo, não vão ser as mesmas do trem. Vai ser um trecho melhor, um equipamento melhor. Tudo isso tem um preço”.
Mas para Marcos Antônio, morador do Subúrbio, “não adianta mudar a malha viária se você não pode mudar a realidade do local”.
O responsável da Setur assegura que essas mudanças acontecerão: “se pretende colocar um modal de transporte que é muito mais rápido, muito mais seguro, muito mais confortável e muito mais moderno justamente para voltar a desenvolver aquela área”.
Queiroz, que é diretor de projetos do órgão estadual, afirma que a maior circulação de turistas também favorecerá a economia suburbana.
“Aquela zona dali, há 50 anos, era de turismo. O projeto do VLT pretende, entre outras coisas, também ressuscitar o viés turístico que ela tinha muito antigamente, porque é uma região muito bonita”, explica Queiroz.
Existe desconfiança, por parte de Marcos Antônio, nesse tipo de afirmação: “uma região, que é banhada pela Baía de Todos os Santos, não foi valorizada lá atrás, será agora, depois de uma grande migração para aquela região? Acho muito difícil, sendo muito sincero!”.
Serviço
Para a resolução de dúvidas e objeções sobre a nova tarifa, a comunidade do Subúrbio de Salvador deve se dirigir, por meio de algum representante, à Companhia de Transportes da Bahia (CTB), empresa da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur), responsável por regular a concessão de transportes públicos integrados à mobilidade urbana dentro do Estado.
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