Com diferentes ideias, poetas buscam quebrar falta de visibilidade para alcançar novos públicos
Por Elias Alves
Revisão: Catherine Marinho
Durante a roda de conversa “Poesia, leituras e conversas”, da Biblioteca Mário de Andrade, que aconteceu no dia 30 de abril, os participantes ganharam a responsabilidade de apresentar um novo livro ao público.
A professora e escritora Kátia Borges indicou o livro “Canto Agônico”, do baiano de Nazaré das Farinhas, Carlos Anísio Melhor.
O mediador da roda de conversa, Tarso de Melo, classificou que a indicação do poeta baiano é uma forma de dar voz e colocar mais visões dentro do cenário deste novo momento da poesia brasileira.
Formando este cenário, os baianos Matheus Peleteiro, Márcio Walter e Matheus dos Anjos fazem parte de um novo grupo que, com diferentes ideias, buscam apresentar suas poesias para públicos diversos.
Segundo Peleteiro, apesar de contar com bons nomes, o cenário literário da Bahia sofre com os mesmos problemas de qualquer outro estado que não faz parte do sudeste: a falta de visibilidade.
“O cenário é borbulhante, repleto de autores esforçados e com uma ou outra voz que brilha mais, mas precário de visibilidade”, declara Peleteiro.
“As editoras viraram empresas que visam exclusivamente o lucro e que não conseguem extrair lucro de poesia. Os autores acabam tendo que fazer a própria publicidade, se submeter às ferramentas digitais e ao terrível jogo de favores para circular melhor. Caminhar só é sempre um caminho nobre, que, inclusive, optei, mas é igualmente complicado”, explica o escritor.
Criado com o estímulo à leitura, Márcio Walter acredita que a literatura baiana sempre revelou grandes nomes, apesar das dificuldades geradas pelos dias atuais.
“A literatura Brasileira nasce na Bahia com a carta de Pero Vaz de Caminha, e se desenvolve com a literatura jesuítica”, conta Walter. “Há quem diga que o brasileiro tem lido mais, no entanto, as estatísticas e o fechamento ou encolhimento das grandes livrarias dizem o contrário”, analisa o autor.
Dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil apontam que o país perdeu 4,6 milhões de leitores em quatro anos. Além disso, a Receita Federal tem defendido que a partir da reforma tributária, os livros passam a ser tributados em 12%.
O poeta Mateus dos Anjos explica que, apesar desse processo, o surgimento de novos autores não foi afetado na pandemia da maneira como muitos imaginavam.
“O que acontece é a situação de algumas editoras, sobretudo as independentes, passando por um período complicado, economicamente falando, assim como diversas livrarias pequenas, até mesmo as grandes. Esse é um cenário para o mercado editorial que vem antes mesmo da pandemia e que, claro, se agravou agora. Mas os nomes continuam surgindo e se desenvolvendo como podem, eu mesmo faço parte desse grupo”, consta dos Anjos.
Apesar de toda dificuldade, Peleteiro acredita que a pandemia tem facilitado, de certa forma, o surgimento e o desenvolvimento de novos nomes dentro da poesia:
“Considerando a máxima de Robert Frost, no sentido de que o poema nasce com um nó na garganta, o isolamento, a melancolia, tristeza e indignação causadas pela pandemia sob o governo Bolsonaro tem feito germinar muitos poetas”, finaliza Peleteiro.
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