Entenda se seu filho está entediado ou ficando ansioso por conta do isolamento social
Por Edgar Luz
Revisão: Antônio Netto
Permanecer em isolamento social continua a ser a medida mais efetiva para proteger adultos e crianças do novo coronavírus, mas sabemos que não é fácil. E se a ausência da família, dos amigos e até mesmo do contato com outros ambientes mexe com a saúde mental dos pais, o mesmo pode acontecer com a dos pequenos.
Com mais de um ano de reclusão para o controle da doença no país, famílias precisaram criar uma nova rotina na tentativa de equilibrar o home office, as aulas virtuais e os momentos de brincadeira. Só que a prática tende a não ter tanto sucesso como a teoria e, muitas vezes, o resultado é um misto de dúvidas sobre o comportamento da criança.
Uma delas é sobre a percepção de como o pequeno está reagindo ao tempo em casa: se ele está apenas com tédio – como nós, adultos, também experimentamos em dias que parecem iguais ou se a situação é mais delicada, cogitando a possibilidade de ele estar sofrendo de ansiedade.
A psicóloga Laís Veloso indica os sinais que os adultos devem perceber no comportamento das crianças para identificar a ansiedade.
“As crianças com ansiedade apresentam diversos sintomas. Como elas ainda não sabem nomear bem os sentimentos da forma que adultos saudáveis fazem, apresentam a maior parte deles somaticamente, ou seja, no corpo. Então a gente tem que observar se a criança tem alguma alteração no apetite, dificuldade para dormir, desmotivação, medos e preocupações excessivos, dor de cabeça, dor no estômago, tontura, oscilação de humor, se está mais irritada ou apática”, afirma Veloso.
Neste processo em que os filhos têm menos bagagem para conseguir lidar com o turbilhão de sentimentos do momento, é essencial que os pais apresentem o que é cada uma das emoções em vez de pedir para que eles exponham o que estão sentindo, pois eles não sabem.
Isso significa que a criança vai reagir à frustração, tristeza e até mesmo ao tédio da maneira que ela conhece. Mas cabe aos adultos elucidarem para ela de onde eles vêm.
Algumas ações dos pais ou responsáveis podem ajudar a criança a passar por esse momento de forma mais tranquila.
Como explica Veloso, “o primeiro passo em qualquer situação é ouvir a criança, permitir que ele se expresse, mostrar que o entende e não anular seus sentimentos. Explicar por que ela não pode estar com seus amigos, com seus avós e aceitar seus questionamentos e preocupações, deixe que elas os expressem para que você os oriente a entender esses sentimentos”.
Ela ainda reforça a importância de fazer atividades caseiras com as crianças:
“A pandemia trouxe um desafio que é o tédio, o tédio dá espaço para a angústia e logo vira ansiedade. Procure fazer atividades com seu filho em casa, brinque com ele, ouçam músicas, vejam filmes, cozinhem juntos”, finaliza a profissional.
Leitura como aliada
A leitura também pode ser uma grande aliada nesse processo, e o livro “Fique em casa, Olga”, escrito por Marinho Freire, é uma ótima opção para explicar as crianças sobre a importância do distanciamento social.
O livro traz desde dicas de ferramentas educativas gratuitas e sugestões de brincadeiras, como acampar na sala ou ajudar na cozinha e transformar a pia em piscina de espumas para lavar a louça, a momentos de reflexão e acolhimento, destacando o cuidado, troca e amor na relação entre pai e filha.
“O livro se inspira no cotidiano e desafios das famílias com crianças que estão cumprindo o distanciamento social e se mantendo dentro de casa. A ideia surgiu a partir da minha própria realidade, com minha filha de quatro anos, e a ânsia de criar alternativas para lidar com o tédio, a falta de liberdade e do contato”, pontua Freire.