Pedra de grande importância para religiões de matriz africana vinha sofrendo com depredações oriundas da intolerância religiosa.
Por: Elisa Brotto
No dia 04/05/2017 ocorreu o tombamento da Pedra de Xangô em Salvador, no Bairro de Cajazeiras 10. Xangô, Orixá da Justiça, só obteve a justiça almejada após muitos anos de discriminação. A Pedra de Xangô é um monumento sagrado para o Candomblé e durante muitos anos veio sofrendo ameaças de destruição devido à intolerância religiosa para com as religiões de matriz Africana.
Figura 1 Imagem retirada da internet
O tombamento da pedra ocorreu após um árduo trabalho da fundação Gregório de Matos, em conjunto com Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), da Associação Pássaros das Águas e da Câmara Municipal de Salvador, que desde o ano de 2014 vinha requerendo, junto ao município, o tombamento da Pedra, devido às ameaças e depredações que a mesma estava sofrendo.
Desde 2014 vinha sendo trabalhado todas as questões que envolviam o processo de tombamento histórico e cultural. Porém, a realização deste só foi possível em 2017, devido a lei 8550 de 2014, que permitiu ao Município passar a ter condição de realizar o tombamento e emitir o registro especial do patrimônio imaterial. Segundo Milena Luisa da Silva Tavares, Diretora de Patrimônio e Humanidades da Fundação Gregório de Matos, o tombamento ocorreu após um trabalho de vistoria do local e pesquisas referente a bibliografia, para assim instruir o processo e prosseguir com o desenvolvimento de uma instrução sumária. Isso era necessário para quando o Presidente do Conselho Construtivo do Patrimônio Cultural acatasse o pedido, e dessa forma, se abrisse um processo para a criação de um dossiê técnico. Esse processo foi extremamente complexo pela aplicação do seu significado e pelo fato dela ser, pelas religiões afro-descentes como um altar, um elemento de culto.
Além da Pedra em si, toda a região de 17 hectares onde ela se localiza foram igualmente tombados. Nos 17 hectares em torno da Pedra existem mananciais hídricos, nascente de rios, e ervas consideradas sagradas para as religiões de Matriz Africana, além de trechos intactos de Mata Atlântica. Tudo isso foi levado em conta para a determinação da área a ser tombada, pois a Pedra somente não alcançaria a salva guarda que as instituições pretendiam para a região, que não era somente para uso dos adeptos das religiões de Matriz Africana, e sim para o aproveitamento de toda a comunidade.
Além da significância, religiosa e ambiental da região, a área do entorno da Pedra é considerada sítio histórico do antigo Quilombo Buraco do Tatu, oficializada como a primeira Área de Proteção Ambiental (APA), criada pela Prefeitura com base no novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU). Para determinação da área do tombamento houve um estudo aprofundado junto com arqueólogos e historiadores. Entre os envolvidos, estava ahistoriadora Professora Maria Alice, que cedeu a fundação Gregório de Matos sua tese de Mestrado que possuía um acervo de informações infinitas sobre a Pedra e sobre todos os terreiros que utilizavam a Pedra de Xangó e seus arredores para realização de seus cultos. O texto também continha todas as tradições orais e lendas que existiam sobre a mesma, juntamente com o Quilombo Buraco do Tatu. Uma das lendas atribuídas a Pedra de Xangó, trata-se da existência, através dela, de uma passagem mágica que transportava a pessoa saída de Cajazeiras para o Quilombo do Buraco do Tatu em Itapoã.
A Fundação Gregório de Matos realizou a proteção legal da área da Pedra e seu entorno, e a Fundação Mario Leo Ferreira realiza estudos para a construção de um parque. A Secretaria Municipal de Cidade Sustentável e Inovação (Secis) está caminhando para implementação de um Conselho Gestor com membros moradores da região, e membros de religiões de Matriz Africana para a construção do Parque, de forma que atenda as várias representações de público; não só para cultos, mas também para o lazer da população do bairro.