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Quando os fãs se tornam protagonistas da narrativa esportiva
Por Ludmila Santana
Revisado por Gabriel Mascarenhas
A virada do século nos permitiu avançar em uma nova forma de consumir esporte: mais participativa e pautada pela emoção. A popularização da internet, aliada ao acesso facilitado a câmeras e plataformas digitais, abriu um portal para uma nova narrativa, não mais centralizada nos meios de comunicação tradicionais, mas compartilhada com o torcedor comum. As arquibancadas físicas foram ampliadas pelas arquibancadas virtuais, onde qualquer pessoa com um celular nas mãos passou a ter voz e influência.
No livro Jornalismo Esportivo, o autor Paulo Vinícius Coelho, conhecido como PVC, explica como a internet pode influenciar a veracidade das notícias publicadas, impactando diretamente a confiança do leitor. “O maior dano pode ter sido gerado para os meninos que entraram no mercado de trabalho e que saíram da aventura com a sensação de que vale mais uma notícia publicada rapidamente do que uma informação checada criteriosamente antes de ser publicada”, destaca o jornalista.
Os torcedores-influenciadores surgiram de forma espontânea e divertida. Um exemplo viral é o famoso Iran Ferreira, conhecido como Luva de Pedreiro, que demonstrava seu amor pelo futebol e pelo time de coração em vídeos gravados em Quijingue, no interior da Bahia. Nas gravações, Luva acertava a bola no gol e comemorava com seus bordões como “Receba!” ou “Obrigado, Meu Deus!”.
Em pouquíssimo tempo, os vídeos fizeram sucesso no mundo inteiro, e a notoriedade da internet rendeu recordes em engajamento nos conteúdos virtuais voltados ao futebol mundial, obtendo participações em eventos internacionais como o prêmio da Revista France Football, Bola de Ouro, sendo o primeiro criador de conteúdo do mundo a ser convidado pela entidade em quatro edições consecutivas do evento.
Kauê Castro, jogador do sub 20 do SSA FC, time que disputa a 2° divisão do campeonato baiano, comenta como as redes sociais podem influenciar as partidas e até os próprios jogadores. “Antes, a voz do torcedor se limitava apenas aos estádios e às conversas de bar, mas hoje, com as redes sociais, cada comentário pode ganhar enorme visibilidade e influenciar diretamente a opinião pública. A arquibancada digital tem esses riscos”, completa o atleta.
Recentemente, o influenciador Rica Perrone postou um vídeo intitulado “Renato fora e a internet é culpada?”, exemplificando a influência das redes sociais até na mudança dos treinadores, citando Renato Portaluppi, técnico que pediu demissão do Fluminense e culpou as redes sociais. No vídeo, Perrone discute como a pressão nas redes sociais influencia a percepção do público, cria instabilidade no ambiente do clube e, muitas vezes, impacta diretamente decisões da diretoria, como no caso de Portaluppi. A publicação viralizou e gerou debates quentes, mostrando que os influenciadores-torcedores não apenas comentam os assuntos do momento, mas podem moldar a narrativa da história.
Esse episódio é icônico para refletir sobre os alertas de PVC. A velocidade da disseminação de opiniões, memes e críticas nas redes sociais coloca jovens, jornalistas e torcedores-influenciadores diante de um dilema ético. Resta o questionamento de como equilibrar a paixão e a rapidez da comunicação digital com a responsabilidade de oferecer informações precisas e construtivas. Infelizmente a viralização de conteúdos conflituosos reforça a ideia de que, muitas vezes, o engajamento é priorizado ao invés da checagem e da contextualização.
Fica como alerta a necessidade de compreender o papel da internet na formação de narrativas esportivas, buscando conteúdos que contribuam para o debate público com responsabilidade e confiabilidade das informações, fortalecendo iniciativas que combatam discursos discriminatórios e práticas de intolerância. Em um mundo onde a velocidade das notícias existe, a responsabilidade de quem cria, compartilha e consome conteúdo torna-se essencial para que a paixão pelo esporte seja reforçada de forma ética e consciente.
