Integrada ao setor cultural, Dança e outros segmentos somam quase um milhão de desempregados no Brasil de acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Por Maria Luiza
Revisão: Cristiano Sales
Institucionalizada em 1982 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Dia Internacional da Dança completa na sexta-feira (29/04) quatro décadas de celebrações, empregos e incentivos governamentais pela expressão artística corporal milenar.
A escolha da data é marcada pelo nascimento do bailarino francês Jean-Georges Noverre (1727–1810), a quem se atribuí a inovação no ballet europeu através do manifesto “Lettres sur la danse et sur les ballets” – do francês livre “Cartas sobre dança e balés”.
Embora a Europa do século 17 tenha fervilhado o fenômeno da dança nos bailes, a disseminação da arte corporal em outros continentes, sobretudo o Brasil após 400 anos, apresenta uma dura realidade: cerca de 900 mil trabalhadores do setor cultural ficaram desempregados durante a curva da pandemia (Covid-19), segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A modalidade de “dança”, dentro do segmento cultural, sofre com o desemprego que atinge profissionais em Salvador e em todo o território nacional. Apesar do mercado de trabalho para profissionais especializados em dança ser vasto, artistas da cena soteropolitana relatam dificuldades que mascaram as comemorações, a exemplo da desvalorização da área, falta de investimento do Estado e baixo incentivo familiar.
Segundo a professora, dançarina e pesquisadora com licenciatura e bacharelado em dança, Natália Mattos (29), a cidade de Salvador possui grande potencial quando se trata do meio cultural, mas o principal obstáculo segue sendo a desvalorização da área.
“Vejo como maior desafio no mercado profissional a desvalorização da área assim como, nas demais áreas das artes. Salvador já tem inúmeros editais que exploram o profissional na dança, porém ainda muito pouco pra demanda. Seriam necessários mais espetáculos, workshops, performances, mais e mais”, enfatiza a coreógrafa.
Além das dificuldades por conta da desvalorização da profissão no meio artístico e cultural, Cainan Santana (22), atuante em danças urbanas e instrutor fit dance, relata que as relações interpessoais impactam o trabalho do artista, podendo atrapalhar aqueles que não conseguem construir ligações com nomes importantes no mercado da dança.
“Hoje em dia, ao meu ver, a dificuldade é ser indicado. Na área da dança existem grupinhos que selecionam pessoas que já estão no convívio delas, não permitindo que outras pessoas com talento participarem de eventos, shows e por aí vai”, afirma Santana.
Exigindo dedicação, esforço e estudo, Fernanda Cupertino (23) é bailarina clássica e graduada em Biologia na capital da Bahia. A artista relata que o público de Salvador não tem acesso a eventos do segmento, e por consequência disso, não consomem modalidades artísticas, limitando o mercado de trabalho em algumas áreas.
“Não é novidade o quanto a arte é atacada e vista como supérfluo por grande parte da população, não apenas a soteropolitana. Mostrar-se enquanto categoria como algo de relevância é um grande desafio”, expõe Cupertino.
A bailarina conta que Salvador possui uma pequena parcela de pessoas que se interessam e consomem balé clássico.
“Esse desinteresse não pode ser atrelado apenas ao indivíduo se pensarmos que o teatro, local onde a maioria dos profissionais desse outro panorama se apresentariam, é ainda hoje um local restrito a uma parte de nossa sociedade”, comenta.
“Essa barreira invisível é imposta a um grupo social e impede que eles saibam até se querem ou não consumir tal produto”, conclui a bailarina.
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