Moradores da periferia falam sobre estética verde e amarela exaltando suas raízes e como ela tem ganhado novos adeptos
Por: Everton Ferreira
Revisão: Frederico Sólon
Como o próprio nome já revela, o BrasilCore é a tendência que reforça a “estética brasileira”. Apesar de nunca ter saído de moda nas periferias do país, nos últimos tempos essa tendência vem se popularizando ainda mais no Brasil e no mundo.
Sem necessidade de uma produção extraordinária, a união da camisa da seleção brasileira a acessórios trazidos pela tendência Y2K, sigla que representa o retorno do que foi tendência nos anos 2000, formam o look completo do BrasilCore.
O modelo Oliver Junior, que traz dicas sobre a estética brasileira em seu perfil do Instagram, revela a sensação de ver o BrasilCore ganhando espaço no mundo da moda.
“Para a moda isso é inovador, e falando como morador de periferia, você ver que o seu jeito de vestir, que por muitos anos foi marginalizado, hoje se tornando tendência é algo surreal. Estou entusiasmado com o rumo que a moda está tomando”, relata Junior.
A popularização dessa tendência ganhou bastante força a partir de 2018 quando a camisa da seleção brasileira virou símbolo de movimentos políticos e viralizou nas redes sociais de influenciadores em sua maioria brancos e de classe média.
“Para mim é super importante essa repercussão e o movimento se tornar uma tentativa de ressignificação da camisa Brasileira, a problemática é não ter dado visibilidade para comunidade que sempre esteve utilizando desse costume antes, e somente depois de explodir lá fora por influenciadores internacionais”, acrescenta Fernanda Costa, moradora da periferia de Salvador.
O sucesso dessa estética trouxe consigo o apagamento de sua raiz, invisibilizando aqueles que sempre vestiram e vestem a estética Brasileira, tidos como marginais por serem quem são e vestirem o que vestem.
De onde vem essa tendência brasileira?
O BrasilCore nasceu dentro da favela, sendo referência e objeto de salvação da autoestima e valorização dos corpos pretos, sendo uma das maiores representações das comunidades.
“A moda atual e contemporânea é totalmente baseada na cultura dos corpos pretos da favela. A moda é preta até quando um branco que veste”, ressalta a ativista do movimento negro, Tiê Queiroz.
Com a chegada da copa do mundo, é muito comum encontrar o estilo verde e amarelo além das vestes, estampado nas ruas, paredes e até mesmo no céu das periferias do Brasil.
As camisas de time, unhas decoradas, shortinho de cintura baixa, óculos espelhados, e cabelos pintados de loiro, o famoso “loiro pivete”, sempre fizeram parte da estética das comunidades e periferias do Brasil. Mas por que só agora essa estética é vista como bela?
“O uso da camisa do Brasil sempre esteve presente no meu dia a dia, dentro e fora da época de copa, usar a camisa não era uma simples tendência e sim o orgulho de carregar no peito a bandeira do nosso país. Estilo que meses atrás era extremamente marginalizado por questões políticas”, destaca Fernanda.
É inegável o preconceito social e racial sofrido pelos moradores das comunidades, quando a beleza da cultura da favela só ganha visibilidade quando apropriada por pessoas que não vivem aquela realidade.
O resgate da estética originária da favela
Em detrimento a toda essa apropriação, já existe um movimento voltado ao resgate dessa estética originária da periferia.
Duas das maiores artistas do Brasil, Anitta e Ludmilla, foram aliadas importantíssimas, se não precursoras, no resgate e o destaque dos reais criadores dessa tendência, levando a favela para os palcos de grandes festivais internacionais como o Coachella e o Rock in Rio.
Para dar ainda mais força ao movimento, além de Fernanda e Oliver, outros influenciadores e ativistas como ruanjhulius, cabralsoyo e o afrobaphooficial trazem o conceito original dessa estética para seus perfis do Instagram.